Hoje é dia de Tá Na Letra! No Tá Na Letra você fica por dentro de interpretações sobre o significado das músicas. Claro que interpretações distintas são válidas, afinal, a arte não possui verdade absoluta e cada um entende a mensagem de uma forma. Aqui nesta série tentamos colocar apenas mais uma possível compreensão da música. A música de hoje é Carta aos Desinteressados de Esteban Tavares.

Rodrigo da Fonseca Tavares, mais conhecido como Esteban Tavares, é um músico, baixista, guitarrista, cantor, compositor, baterista, pianista e produtor musical nascido em Camaquã – RS, no dia 12 de abril de 1982.

O músico já participou de vários projetos musicais e hoje segue sua carreira solo como Esteban Tavares e já possui um material rico lançado e projeta lançar novos trabalhos em breve.

Dentre seus trabalhos musicais, destacam-se a banda Abril, onde era vocalista e guitarrista e lançou os álbuns Cinzas de Outono (2004) e O Que Te Faz Feliz? (2005); Fresno, onde era baixista e backing vocals participando dos trabalhos Redenção (2008), O Outro Lado da Porta (DVD, 2009), Revanche (2010) e Cemitério das Boas Intenções (2011) e quando tocou com Humberto Gessinger nos álbuns Insular (2013) e Insular Ao Vivo (2014).

Em 2012 o músico anunciou sua saída da Fresno para dedicar-se a seu projeto solo. A princípio, Esteban seria o nome de seu projeto, porém acabou tornando-se seu nome artístico ao passar do tempo. O músico já lançou os EP’s Smokers in Airplanes (2013) e Liquid Love Reality (2014), ambos cantados em inglês. Lançou também os álbuns Adiós Esteban (2012), Saca La Muerte de Tu Vida (2015) e Eu, Tu e o Mundo (2017) lançados em português (com uma faixa em espanhol chamada Martes que está no Saca La Muerte de Tu Vida), além dos singles Hoje (2019) e Milonguita (2019).

O nome da música do Tá Na Letra de hoje é Carta aos Desinteressados e se encontra no álbum Saca La Muerte de Tu Vida (2015), o segundo álbum completo da carreira do músico. Acompanhe abaixo a letra na íntegra.

Carta aos Desinteressados

Dizem pra eu parar de fumar,
de beber, de tomar meus remédios
Não pouse em Congonhas,
não voe perto dos prédios

Dizem como eu devo agir,
quais são os meus direitos
Eles que sabem de tudo,
todos os meus defeitos

O que eu faço da vida?
Cadê o dinheiro no extrato?
Tenho que ficar quieto quanto ao mundo
Enquanto o mundo é cada vez mais chato

E tá na hora de dormir,
mas eu não tô cansado
Abrace o travesseiro, garoto
E finja que ela está do seu lado

Só quero tomar conta de mim
e esquecer vocês
Dar meu tiro pro alto
Fazer errado só mais uma vez

Só quero que isso chegue ao fim
Até o fim do mês
Vou aprender a me fazer de louco
Pra não perder a minha lucidez

Quem são os mal-educados
que querem me educar?
Como eu devo agir,
prosseguir e lutar

Sempre dizendo o que é melhor pra mim
Sempre tentando arrancar algo de mim

Eu não sou super herói
Eu não sou especial
Eu não preciso de ajuda
de ninguém legal

Eu não te peço esmola,
nem pedaços de pão
Não tem remédio
pra esse coração

Só quero tomar conta de mim
e esquecer vocês
Dar meu tiro pro alto
Fazer errado só mais uma vez

Só quero que isso chegue ao fim
Até o fim do mês
Vou aprender a me fazer de louco
Pra não perder a minha lucidez

Quem vocês pensam que sou?
Quem vocês acham que são?
Ninguém vai me segurar
quando eu cair no chão

Eu já cai no chão,
ninguém me deu a mão

Videoclipe Oficial de Carta aos Desinteressados de Esteban

A música é um desabafo sincero e intenso. O eu lírico deixa claro o quanto ouve de conselhos no cotidiano. São pessoas dando várias opiniões todos os dias sem, muitas vezes, nem serem consultadas para fazê-lo.

Isso representa esta geração cheia de opiniões, cheia de verdades e de convicções, até sobre a vida alheia. A música diz: “Só quero tomar conta de mim e esquecer vocês”, deixando claro que não aguenta mais tantas opiniões vazias de pessoas que, nem sempre, querem verdadeiramente nosso bem.

O eu lírico diz que quer fazer suas próprias escolhas, mesmo que tenha que errar, que sejam os próprios erros, as próprias convicções. Infelizmente, nem sempre temos paz para fazermos nossas escolhas em nossas próprias vidas, pois muitos querem manipular o que falamos e fazemos. A música é um basta nisso!

“Quem são esses mal-educados que querem me educar” deixa isso claro: pessoas vazias dando opiniões cheias de mentiras, de falsidade. É basicamente um “cuide da sua vida e me deixe cuidar da minha”.

Esteban é um músico muito sincero, sempre deixa suas verdades em suas músicas. Em várias entrevistas ele já deixou claro que fala muito do que vive, de seu cotidiano. Carta aos Desinteressados é, então, aquele desabafo de alguém que simplesmente não aguenta mais pessoas vazias ao redor, falando o que ele tem ou não que fazer. “Quem vocês pensam que sou, quem vocês acham que são” é um questionamento que beira uma afronta, afinal, quem sabe mais da vida dele: os outros (que não ajudam quando ele precisa e só querem “vomitar” uma opinião vazia) ou ele mesmo, um adulto independente que sempre fez suas escolhas e que, as mesmas o levaram onde está? São perguntas retóricas que deixam claro o descontentamento do eu lírico em meio a esta enxurrada de opiniões.

Entre desabafos e intrigas, o eu lírico expõe o que as pessoas cheias de opiniões mais querem: “Sempre dizendo o que é melhor para mim, sempre tentando arrancar algo de mim”, ou seja, muitos só estão por perto por puro interesse. Este interesse pode ser uma mera soberba e arrogância, querendo transparecer uma pseudo-superioridade ou realmente se aproximar para ter alguma vantagem, seja status, seja dinheiro, seja visibilidade.

Versão Ao Vivo de Carta aos Desinteressados tocada no Estúdio Show Livre (2018)

“Tenho que ficar quieto quanto ao mundo enquanto o mundo é cada vez mais chato” é aquele desabafo do nosso cotidiano atual: o eu lírico não pode mais expor sua opinião sobre sua própria vida, não pode mais tomar mais nenhuma decisão (beber o que quiser, fumar o quanto quiser, cantar as músicas que quiser, etc.) porque sempre alguém tem uma opinião pseudo-intelectual para dar. A maior questão é: o eu lírico deixou claro que não perguntou a opinião alheia e que está mais do que satisfeito com as próprias decisões.

Há um trecho bem interessante onde ele diz que não precisa de ajuda de ninguém “legal”, ou seja, as pessoas que se apresentam como cheias de boas intenções talvez não tenham as mesmas tão boas assim. É curioso, aliás, saber que o último trabalho do músico com a antiga banda Fresno chama-se O Cemitério das Boas Intenções (2011), um EP onde a banda deixa claro que as tais boas intenções estão mortas e que hoje, a maioria das pessoas, querem viver de aparência ou querem tirar alguma vantagem alheia; poucos são os que têm reais boas intenções. Esteban ainda diz “não peço esmola nem pedaços de pão”, ou seja, ele não depende de ninguém para tomar suas próprias decisões, é a velha frase “você não paga minhas contas, não estou pedindo nada para você”!

O final da música é ainda mais sensacional: “Ninguém vai me segurar quando eu cair no chão, eu já caí no chão, ninguém me deu a mão”. As mesmas pessoas que dão suas opiniões, que falam o que temos que fazer com nossas vidas, são aquelas mesmas pessoas que não nos ajudam quando precisamos. Deixa uma questão no ar: será que eles querem realmente nos ajudar ou apenas “vomitar” suas opiniões vazias e mostrar sua arrogância? É, talvez queiram viver desta aparência dos dias atuais, fingir uma honra que não existe, viver uma mentira, dando opiniões vazias e recusando oferecer ajuda nos momentos difíceis.

Dar um basta nessas opiniões alheias e deixar claro que elas não são tão positivas assim é a máxima da letra. É um pedido de paz, de tranquilidade, de tempo para pensar na própria vida e planejas suas próprias ações. Se forem escolhas certas ou erradas, não importa: serão escolhas dele, inteiramente dele. Assim, ele terá os possíveis ônus delas, mas também colherá bons frutos caso as acerte.

O principal é deixar claro que pouco importa o que dizem, nem todos realmente nos conhecem, nem todos sabem de nossas lutas, de nossos desafios, de nossos sentimentos; chega a ser irracional conviver com tantas opiniões de pessoas vazias que apenas querem transparecer uma vida que, na verdade, é mentirosa, querendo julgar uma coisa que mal presenciaram e jamais viveram.

Para conferir melhor os trabalhos de Esteban Tavares, basta clicar nos links abaixo.

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