O bom de ouvir álbuns em perspectiva é quando a paixão de muitos deixou de ser um aborrecimento para aqueles que não aguentam tietagens. Este autor sempre teve um pé atrás com o TYPE O NEGATIVE por conta do sucesso da banda nos anos 90. Me perdoem, mas a encheção de saco por conta de “Bloody Kisses” na época cansaria a paciência de qualquer um. Após alguns anos, ouvir os discos da banda se mostra uma experiência ótima, tanto que “World Coming Down” é um disco fascinante.
Se não pode ser dito como o melhor disco da banda, se não as viúvas de “Bloody Kisses” vão tostar o saco, é o disco mais maduro do quarteto. E isso se dá porque a banda está soando mais solta e com uma ambientação mais densa e soturna. O clima melancólico vem do fato que Peter perdeu vários familiares na época, e isso refletiu no disco. Só que tal ambientação fez com que “World Coming Down” se tornasse uma obra de difícil assimilação pelo público que não conhecia a banda. E mesmo assim, estreou na 39a no Billboard Top 200 na época.
A produção ficou nas mãos de Peter Steele e Josh Silver, mais a mixagem de Michael Marciano (que também cuidou da engenharia de som) e masterização de George Marino, o que deu ao disco uma sonoridade limpa, mas com a aquela dose certa de peso e sujeira (estamos falando de um disco de Rock, logo, a sujeira é essencial). Óbvio que há momentos tão densos que parece estarmos diante de um disco de Doom Metal. Mas é justamente essa junção de uma ótima qualidade sonora para músicas tão soturnas que fazem de “World Coming Down” um excelente álbum.
Verdade seja dita: a melhor forma de encarar a sonoridade do grupo é mesmo não ficar em busca de rótulos. Ouça e apenas aceite que estão ouvindo algo bom, pois o trabalho do quarteto não é simples de ser rotulado ou explicado. Mesmo porque os discos anteriores mais parecem uma preparação, um parto longo e sofrido para lançarem esta obra de arte em termos musicais.
Não recomendo a uma boa parte dos fãs da banda a leitura das letras, pois elas falam de temas pessoais de Pete na época, mas como tem doido para tudo, podem acabar assimilando a dor de Pete como a própria e vão fazer alguma loucura. Por alto, elas lidam com vício em cocaína, a dor da perda de pessoas queridas e como lidar com isso, entre outros temas bizarros.
Agora, é difícil destacar faixas em “World Coming Down”. Mas se quiserem dicas, a densa “White Slavery”, força instrumental na coesa e melancólica “Everyone I Love is Dead”, a mezzo progressiva e mezzo mórbida “Who Will Save the Sane”, a excelente “World Coming Down” e sua base rítmica sólida, o peso bruto e denso de “Everything Dies”, e o azedume de “All Hallows Eve”. Mas óbvio que o medley do THE BEATLES ficou ótimo nessa roupagem pesada e dura do grupo.
Esse é um disco para ouvir com calma, e aproveitar o melhor que o TYPE O NEGATIVE nos deixou de herança.
R.I.P., Peter Steele!
Formação:
Peter Steele – vocais, baixo, guitarras adicionais, teclados
Kenny Hickey – guitarras, backing vocals, vocais em “World Coming Down” e “All Hallows Eve”
Josh Silver – teclados, backing vocals
Johnny Kelly – bateria, backing vocals
Faixas:
01. Skip It
02. White Slavery
03. Sinus
04. Everyone I Love is Dead
05. Who Will Save the Sane
06. Liver
07. World Coming Down
08. Creepy Green Light
09. Everything Dies
10. Lung
11. Pyretta Blaze
12. All Hallows Eve
13. Day Tripper (medley do THE BEATLES)
I. Day Tripper
II. If I Needed Someone
III. Day Tripper (revisited)
IV. I Want You (She’s So Heavy)