Falar do Rush requer um conhecimento aprofundado não só da banda, mas de todo cenário que havia nos anos 70, 80 e 90, já que o grupo continua na ativa, lançando discos e fazendo shows. E não é à toa que são considerados os pais da fusão entre o Metal e o Progressivo (que me perdoem os fãs do Dream Theater, mas a verdade é que o trio canadense, mais o Fates Warning e o Queensrÿche estão na frente nesse ponto). Ao mesmo tempo, poucas bandas testaram tanto os fãs. Sim testaram, já que a banda possui fases musicais bem distintas, quase sempre encerradas com um disco ao vivo: a fase mais Hard Rock que termina no ao vivo “All The World’s A Stage” (embora o início da fase mais progressiva se dê no álbum anterior a este ao vivo, que é o maravilhoso “2112”); a fase mais experimental e heavyssíva que se encerra com “Exit… Stage Left”; a chata fase mais comercial e com foco nos teclados e sintetizadores que começa em “Signals” e se encerra em “A Show of Hands” (se duvidam, leiam as revistas da época, e procurem as resenhas. Não teve um disco dessa fase que não fosse devidamente espinafrado). Mas então, o que se esperaria do trio canadense após o seu terceiro disco ao vivo?
A resposta é dada pelo bom “Presto”, disco analisado aqui.
Antes de tudo, é preciso ter em mente que o Rush, como qualquer banda, ainda estava imbuído de influências da fase anterior. Mas verdade seja dita: se “Presto” não é um disco miraculoso e magistral, de longe é o melhor disco da banda desde “Moving Pictures”.
O trabalho que mostra a fusão entre Metal/Hard Rock com Progressivo está presente uma vez, com menor presença dos sintetizadores que na fase anterior. Mas é interessante notar que o uso de violão e guitarras limpas por Alex Liferson está ótimo, sabendo como e quando usar os recursos das seis cordas; Neil Peart não necessita de maiores apresentações, pois apesar de não estar usando tudo que sabe se mostra capaz de surpreender os fãs com o inesperado a cada momento; e Geddy Lee continua sendo um mestre nas quatro cordas, e ainda explora bem sua voz de pato rouco, fora seus teclados providenciais.
A produção de Rupert Hine ficou na medida. O som da banda está cristalino e bem limpo, mas com aquela dose de peso e distorção que tanto fizeram falta nos discos anteriores. E isso sem mencionar que um traço que o Rush levaria por anos está presente na sonoridade: um toque de elegância eclética que irá acompanhar a banda até a atualidade.
Ouvir um disco do Rush tão bom depois de brochadas como “Signals”, “Grace Under Pressure” ou mesmo o pavoroso “Power Windows” é um alívio, e a confirmação de quem é rei nunca perde sua majestade. Basicamente, apesar de soar mais eclético e não tão Hard/Progressivo quanto no passado, “Presto” é um disco muito bom.
Não dá para não ficar embasbacado com canções como a forte e técnica “Show Don’t Tell” (Alex mostra grande versatilidade nas guitarras), na mais direta e forte “Chain Lightning” (aqui o lado Heavyssívo clássico da banda mostra sua força, graças à dinâmica mais simples de andamentos), a grudenta e intimista “The Pass” (como Geddy canta bem e sabe tirar um som maravilhoso do baixo), a grooveada e moderna “Scars”, a a forte e ousada “Superconductor” (aqui, o passado do Rush aparece, mostrando peso e boa técnica em uma canção que flui de maneira espontânea), e a mais acessível “Available Light”.
Rupert (o produtor) ainda tocou alguns teclados e fez backing vocals, e Jason Sniderman também faz sua participação nos backing vocals. E assim, mesmo não sendo o auge do trio, “Presto” veio em boa hora, e mostrou que o trio ainda iria ficar entre nós, nos presenteando com bons discos, por mais algum tempo
Não são o maior e mais bem sucedido nome do Canadá à toa.
Formação:
Geddy Lee (vocal, baixo e sintetizadores);
Alex Lifeson (guitarras, violão);
Neil Peart (bateria).
Faixas:
01 – Show Don’t Tell
02 – Chain Lightning
03 – The Pass
04 – War Paint
05 – Scars
06 – Presto
07 – Superconductor
08 – Anagram (For Mongo)
09 – Red Tide
10 – Hand Over Fist
11 – Available Light
