Parar e respirar parece ser algo que o Motorhead nunca foi muito chegado. O ritmo da banda sempre foi intenso no que tange a trilogia “gravar-tourne-gravar de novo”, uma vez que desde o início de sua carreira, a adrenalina em estado bruto de suas canções parece inspirar o trio em tudo que faz, ainda mais no início de sua carreira.
Se “Motorhead” abriu algumas portas, e “Overkill” levou a banda a um sucesso estrondoso que lhes permitiu atingir um status privilegiado dentro do cenário, “Bomber”, apesar de clássico, já dá mostras de cansaço.
Não é que o disco seja ruim, mas não tem a mesma inspiração, a mesma força que transformou “Overkill” em uma referência para as futuras gerações. O peso denso e sujo da banda, aliado à adrenalina do Punk Rock, ainda está lá, intacta. Mas “Bomber” não consegue firmar uma seleção de músicas clássicas. Faltam músicas mais inspiradas, mais fortes. Óbvio que Lemmy continuava grotesco (no bom sentido) nos vocais, urrando como um urso rouco, e trovejando com seu Rickenbacker 4001, enquanto “Fast” Eddie Clarke mostrava riffs fortes e solos inspirados, e Phil “Philty Animal” Taylor era aquela máquina de peso e groove na bateria. E a banda continua coesa e pesada, mas a maioria das músicas em si que pecam pela falta de brilhantismo, ou seja: “Bomber” é um bom apanhado de canções, mas falta o brio selvagem do MOTORHEAD.
O produtor do disco ainda é Jimmy Miller, o mesmo de “Overkill”, e o disco foi gravado entre 7 de julho e 31 de agosto de 1979 nos Roundhouse Studios e Olympic Studios, ambos em Londres. Logo, não é surpresa que a sonoridade do disco segue a de seu predecessor, mantendo aquela sonoridade suja e abrasiva que o MOTORHEAD precisa ter, mas mantendo um bom nível de clareza em que se pode perceber o que cada um dos instrumentos está fazendo.
Em termos musicais, o MOTORHEAD, assim como o AC/DC, não é de mudar sua forma de fazer música. Continua aquele som esfumaçado e intenso, exalando o odor descompromissado do Punk Rock, mas com o peso intenso do Heavy Metal/Rock’n’Roll. Mas como dito acima, falta a “Bomber” um pouco mais de inspiração.
Apesar disso, é impossível não perceber o valor de canções como “Dead Men Tell No Tales” (azeda até os ossos, com um trabalho ótimo de Eddie nas guitarras. O interessante é que em alguns shows da época, Lemmy cantava “Dead Men Smell Two Nails”), a bruta “Sweet Revenge”, a arrasa-quarteirões “Stone Dead Foreve” (um dos clássicos da banda), e “Bomber”.
Conforme Lemmy mesmo veio a declarar mais tarde, ele sentiu falta de trabalhar as canções de “Bomber” ao vivo, ou seja, de tocá-las previamente para seu público, algo que aconteceu em “Overkill”. Talvez por isso “Bomber” até seja um bom disco, mas “um bom disco” não é suficiente para o trio mais infernal da história do Rock.
Músicas:
Dead Men Tell No Tales
Lawman
Sweet Revenge
Sharpshooter
Poison
Stone Dead Forever
All the Aces
Step Down
Talking Head
Bomber
Banda:
Lemmy Kilmister – Vocais, baixo
“Fast” Eddie Clarke – Guitarras, backing vocals, vocais principais em “Step Down” e na versão alternativa de “Stone Dead Forever”
Phil “Philthy Animal” Taylor – Bateria