Existem aquelas bandas que, quando vão nomear seus discos, escolhem um título enigmático, um jogo de palavras de intenções subliminares, que poderão render belas respostas em entrevistas: “nós escolhemos chamar o disco assim porque nos aprofundamos no conceito de blá, blá, blá…”. Bem, o título do quarto álbum do Kreator não poderia ser mais explicitamente claro do que é a respeito da “mensagem” que desejam passar. Agressão extrema! Simples, indubitável e plenamente comprovada ao longo de toda a audição.

E foi tão extrema que a arte de capa originalmente concebida não pôde ser utilizada, cedendo espaço para uma fotografia básica da banda, frente a um fundo avermelhado. Perdeu em impacto, mas ganhou em sobriedade, em concentrar toda a violência apenas na música, em confluência com o momento em que a banda começava a elaborar melhor suas letras, afastando-se aos poucos das estórias de sangue e mutilação e direcionando-se para temas sociais e politicos.

Em seus dois primeiros álbuns, era a catarse explosiva, quando Thrash, Black e Death ainda não tinham delimitações bem definidas. A trilogia subsequente representa o momento em que a composição passa a ser mais elaborada, sem perder a brutalidade, estando “Extreme Aggression” no ponto central entre as reminiscências do começo da carreira, ainda presentes em “Terrible Certainty” e a técnica e variedade apresentadas em “Coma of Souls”. O fato de, pela primeira vez – e daí por diante – não haver nenhuma música cantada pelo baterista Jürgen “Ventor” Reil, também demonstra o direcionamento através do qual o Kreator evoluía, sendo mantida a mesma formação do álbum anterior, quando principiaram a utilização de duas guitarras e estabeleceram essa configuração, que a partir de então tornou-se-lhes indissociável.

Tal qual os mais emblemáticos discos de Thrash Metal, “Extreme Aggression” inicia, em sua faixa-título, com um grito primal de Mille Petrozza, dividindo a introdução cadenciada do momento em que a velocidade invade a música, com a solidez dos golpes de Ventor na bateria. Por mais que alguns possam reclamar dos recursos melódicos que a banda utiliza com maestria hoje em dia, essas são soluções de arranjo que estão presentes desde muito cedo, e o solo aqui é uma comprovação disso.

Canções rápidas como “No Reason To Exist”, “Love Us Or Hate Us” e “Stream of Consciousness” se sucedem com Mille proferindo as letras de uma forma que apenas os vocalistas de Thrash da escola alemã são capazes de executar. “Some Pain Will Last” acrescenta variedade ao andamento do trabalho, com um ritmo de meia cadência e grandes passagens de guitarra que a credenciam como uma das melhores faixas aqui apresentadas, juntamente com a próxima. “Betrayer” gerou um vídeo clip massivamente veiculado nos programas especializados e por isso é uma das músicas mais conhecidas da banda. Juntamente com a faixa-título, são as sobreviventes do álbum no repertório dos shows e, coincidentemente, traz também toques melódicos em seu solo.

Após o grande número que é “Betrayer”, “Don’t Trust” não acrescenta muito e fica bem aquém da urgência dos 02:15 min de “Bringer of Torture”. Encerrando a sessão, “Fatal Energy” traz um pouco de todos os principais elementos que compõem o álbum: a velocidade, a rispidez e o senso melódico apurado para inserir passagens de robusto carisma no meio da fúria. A agressão extrema sabe que as levadas desenfreadas podem consumir rapidamente o fôlego de seus seguidores e, portanto, breves momentos de cadência servem para reabastecer e reenergizar o espírito, preparando-o para ainda mais agressividade. O Kreator nasceu em “Endless Pain”, mas a banda que conhecemos hoje começou a formatar sua atual personalidade na fase deste álbum.

 

Formação

Mille Petrozza – guitarra, vocal

Jörg “Tritze” Trzebiatowski – guitarra

Rob Fioretti – baixo

Jürgen Reil – bateria

Músicas

1.Extreme Aggression

2.No Reason to Exist

3.Love Us or Hate Us

4.Stream of Consciousness

5.Some Pain Will Last

6.Betrayer

7.Don’t Trust

8.Bringer of Torture

9.Fatal Energy

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