Os clássicos do Metal e do Rock nunca são discos fáceis de serem abordados.
Isso se dá por serem aqueles momentos máximos de inspiração da banda, em que surge uma sinergia perfeita entre o grupo e seus fãs. Muitas vezes, a imprensa execra (nunca esqueçamos de Lester Bangs trucidando “Black Sabbath” e “Master of Reality”), mas os fãs são aqueles que transformam um disco em um clássico. Óbvio, pois são eles que fazem as bandas serem o que são e chegarem onde chegam. E um dos maiores exemplos do como a paixão dos fãs pode agigantar uma banda modesta é o KISS, o quarteto de Nova York que é uma das maiores influências do Metal e do Rock de todos os tempos.
O disco em que o KISS se tornou definitivamente um gigante não é outro senão “Destroyer”, obra-prima do quarteto na época de sua formação clássica, e que salvou um monte de empregos, inclusive a banda.
“Destroyer” foi lançado em 15 de Março de 1976, após gravações feitas no Electric Lady (entre 3 e 6 de Setembro de 1975) e nos Record Plant Studios (Janeiro e Fevereiro de 1976). Mas poucos sabem o sufoco que a banda passou nas mãos de Bob até a finalização do processo de gravação…
O ano é 1976, quando o quarteto já começava a sair do anonimato e ganhar nome forte, graças ao sucesso de “Alive!” e “Dressed to Kill” (ambos por conta da faixa “Rock and Roll All Nite”), mas a banda ainda carecia de firmar os pés no topo, para manter-se por lá. E nisso, a Casablanca Records, selo da banda (que inclusive foi salvo da falência graças às vendagens do “Alive!”), resolveu bancar na produção o homem do toque de Midas em termos de Rock na época, Bob Ezrin (que já havia trabalhado com Tia ALICE COOPER). Mas foi um festival de estresses e trolhas graúdas até o disco chegar às lojas…
Como ninguém na banda sabia teoria musical, Bob ensinou-lhes um pouco. Durante as gravações, Bob usava um apito em seu pescoço (como os treinadores de Futebol americano que vemos nos filmes), e o tocava, dizendo “Homens, vamos trabalhar!”, e teve uma vez que Gene Simmons parou de tocar seu baixo ante a gravação de outro take, e Bob gritou com ele “você nunca deve parar a menos que eu lhe diga para parar!”. E isso sem falar que como Ace Frehley vivia às turras com Bob, se negando a gravar vários takes de seus solos. O produtor ficou uma fera, levou ao estúdio Dick Wagner (na época guitarrista da banda de ALICE COOPER), e ameaçou de pô-lo no lugar de Ace, e assim, nosso querido guitar hero resolveu colaborar. Isso sem contar em suas contribuições nas músicas.
Mas não pensem que a banda passou a odiar Bob, mas pelo contrário, pois Paul Stanley e Gene Simmons falaram abertamente várias vezes muito bem dele, que ele foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso do disco, bem como ensinou muita coisa à banda.
Mas ao mesmo tempo em que fez a banda trabalhar como nunca antes tinha feito, Bob lhes trouxe um amadurecimento musical forte, inserindo vários elementos novos na música da banda, vários efeitos de som como vozes de crianças (em “God of Thunder”), coros (vistos em “Great Expectations”), orquestras (“Beth”), cujo trabalho ficou a cargo da Orquestra Sinfônico-Filarmônica de Nova Iorque.
Uma curiosidade interessante sobre “Destroyer” é que o disco, assim que chegou às lojas, não ia muito bem das pernas, já que as vendas só começaram a crescer quando a faixa “Beth”, que vinha no lado B do Single “Detroit Rock City”, começou a tocar nas rádios e virou um sucesso. E isso levou a banda lançar a faixa novamente como um novo Single (o quarto, pois os outros três são para “Shout It Out Loud”, “Flaming Youth”, e para “Detroit Rock City”), e este alavancou as vendagens de “Destroyer” até a banda ser certificada como Disco de Platina em Novembro de 1976.
A produção visual, feita por Ken Kelly (conhecido artista que já havia trabalhado em quadrinhos de Conan e Tarzan), que só concordou em trabalhar na arte após ver a banda tocando ao vivo (uma exigência dele), e bastante satisfeito, fez a capa que conhecemos e amamos, depois de ter a primeira arte rejeitada.
Musicalmente, “Destroyer” difere um pouco dos discos anteriores por ter músicas bem mais fortes e elaboradas, e cada elemento musical do KISS estava bem mais maduro e levado às últimas conseqüências, e vemos surgirem no disco alguns de seus maiores clássicos.
Como falar de canções como rocker “Detroit Rock City”, cujo refrão não sai da cabeça de quem a ouve uma vez, e que marca graças ao trovão que Paul Stanley tem em seu peito; “King of Night Time World”, uma faixa bem empolgante, com seu refrão cantado em coro por todos; a mais que clássica “God of Thunder”, com grandes vocais por parte de Gene Simmons e seu baixo vibrante, em uma faixa mais cadenciada; “Shou It Out Loud”, um Hard/Rock extremamente simples, mas cheio de energia e que foi tema de abertura da banda por anos, com um bom solo de Ace Frehley; “Beth”, uma balada muito bonita cantada por Peter Criss (que se mostra melhor cantando que tocando bateria, sejamos francos), um dos maiores sucessos da banda, e que nos anos 80 causou polêmica entre a banda e Criss, que já estava fora da banda a anos, mas ficou fulo da vida ao ouvir a versão da compilação “Smashers, Thrashers and Hits”, onde sua voz foi trocada pela de Eric Carr (RIP), então batera da banda; e “Do You Love Me?”, outro dos grandes sucessos da banda em seus shows?
Não dá, não estou a fim de tomar broncas dos leitores!
Após este disco, o KISS ainda teve dois discos de peso como sucessores (“Rock and Roll Over” e “Love Gun”), um segundo disco ao vivo (“Alive II”) e uma sucessão de discos ruins, graças à obsessão de Peter Criss com o produtor Vini Poncia, que pasteurizou o som da banda, tornando quase pop (vide o hit “I Was Made for Loving You”, típica música de discoteque da época), e a banda entrou em queda, se erguendo após a saída de Peter Criss (que por anos falou mal do KISS, até a reunião mascarada de 1999) e Ace, e a adoção do Hard Rock californiano de “Creatures of the Night” em diante.
Realmente, falar do KISS pode não ser simples, mas sempre é um grande prazer…
Tracklist:
- Detroit Rock City
- King of the Night Time World
- God of Thunder
- Great Expectations
- Flaming Youth
- Sweet Pain
- Shout It Out Loud
- Beth
- Do You Love Me?
- Rock And Roll Party (outro)
Formação:
Paul Stanley – Guitarra base, vocais
Ace Frehley – Guitarra solo, backing vocals
Gene Simmons – Baixo, vocais
Peter Criss – Bateria, vocais