O Annihilator é o “Megadeth” do Canadá. Ganhou respeito e importância no cenário Heavy Metal mundial graças a persistência de seu líder guitarrista, e hoje vocalista, Jeff Waters, e pelo seu Thrash Metal técnico e com foco no trabalho de guitarras. O Annihilator ostenta uma grande e respeitosa discografia. Porém, esta discografia mais parece uma região acidentada com montanhas e vales: cheia de altos e baixos.

Mais baixos do que altos, diga-se de passagem.

Depois que a banda de Jeff Waters lançou dois clássicos do estilo, Alice In Hell (1989) e Never, Neverland (1990), o guitarrista cedeu as pressões da gravadora, Roadrunner na época, e começou a lançar álbuns mais acessíveis e com mais foco no Groove Metal que começava a arrasar as paradas metálicas da década. Em certa entrevista ao site Metal Temple, Jeff Waters relata um detalhe sobre a época das gravações de King Of The Kill (1994):

“Eu lembro que na época eu ouvia a música ‘Five Minutes Alone’, do Pantera. Aquele álbum… Eu realmente tentava manter aquela influência longe da minha música porque todo mundo estava sendo influenciado pelo Pantera. E eu amava a banda, os grooves na bateria e a tocada de Dimebag. Então era muito fácil começar a escrever músicas daquele jeito. Eu precisei parar de ouvir aquele álbum porque eu sabia que começaria a compor muito parecido com aquilo”.

Decisão tardia. A veia Groove já havia florescido no rol de influências de Jeff Waters e aquela pegada já tomava conta de seus trabalhos desde então. Alguns mais inspirados e felizes. Outros, nem a misericórdia de Odin salvaria. Refiramo-nos à época do álbum analisado hoje, mais precisamente 2001. O vocalista Randy Rampage deixava o Annihilator pela segunda vez. O vocalista que é a voz do debut Alice In Hell não se deu tão bem assim com a banda em sua segunda passagem. Para substituí-lo, foi recrutado Joe Comeau, que acabara de largar o Overkill onde era guitarrista. Para a bateria permaneceu Ray Hartmann, o mesmo que gravou os dois primeiros discos e também o último até então, Criteria For A Black Widow.

Carnival Diablos, lançado 2001 pela gravadora Steamhammer, mostra um Annihilator/Jeff Waters indeciso, se equilibrando em um muro, na dúvida se pula de vez para o Groove ou se mantém a essência sonora que consagrou a banda no início da década anterior. A música que inicia os trabalhos, Denied, reflete bem esse dilema. Riff inicial na escola do Groove, andamento da música rápido conduzido por pedais duplos e força no trabalho de guitarras. Já a música seguinte, The Perfect Virus, é chata durante sua primeira metade e apresenta um riff sem criatividade, acordando depois para um Thrash agressivo. E esse pique que foi levantado na metade final de The Perfect Virus é reforçado por Battered: rápida e com as guitarras pegando fogo!

A faixa-título é uma feliz composição de Jeff Waters; aquele estilo de balada que ele sempre compôs, como se Bon Jovi quisesse tocar Doom Metal. O momento “cara-de-pau” vem na música Shallow Grave e sua péssima tentativa de soar como Accept. É, não é a praia de Jeff Waters imitar outras bandas, a menos de Megadeth, às vezes. Time Bomb é outra péssima música, onde parece que Waters não tentou transparecer um mínimo de esforço para compor algo criativo, donde brotou uma cadência chata e enfadonha que se acaba na música seguinte, The Rush, desta vez uma composição interessante moldada num Metal simples e eficiente. A boa inspiração tirada desta música continua na frenética Insomniac.

Jeff Waters tem um estranho dom para compor baladas. Sua capacidade de usar timbres limpos para criar composições que alternam momentos belos e sombrios é louvável, além é claro de ele saber enfeitar estas músicas com seus solos. Refiro-me, neste caso, a instrumental Liquid Oval. Depois, chega um dos momentos mais engraçados do álbum. Sim, isso mesmo! A música Epic Of War começa no tradicional formato Thrash “Annihilatoriano”, quando em sua metade o troço decai para um Iron Maiden puro, inclusive com Joe Comeau emulando o timbre de Bruce Dickinson e Jeff Waters criando linhas de baixo à la Steve Harris. Ficou melhor que a imitação do Accept em Shallow Grave e não deixou de ficar interessante.

Ainda na dúvida se busca inspirações em outras bandas ou se as imita na cara-dura, no final do álbum o Annihilator resolve imitar a si mesmo, convenhamos, a melhor decisão. Hunter Killer nos remete diretamente à música Human Insecticide, faixa que encerra o debut Alice In Hell, dado seu riff agressivo e ritmo que não deixa pedra sobre pedra, encerrando de maneira redentora um álbum cheio de altos e baixos.

Um álbum do Annihilator pode ser cansativo, chato ou mesmo decepcionante. Mas nunca será completamente ruim graças a habilidade e o estilo único de Waters de solar e de criar arranjos de suspense que prendem a atenção do ouvinte, mesmo que por uns momentos somente. Joe Comeau se mostrou uma escolha acertada, tendo em vista que o músico consegue imprimir diferentes matizes de voz a depender do clima da música, habilidade que se faz necessária em se tratando de Annihilator, banda cujas músicas não seguem um único paradigma.

Apesar de serem creditados e aparecerem nas fotos do encarte, o baixista Russel Bergquist e o guitarrista Dave Scott Davies não tocaram no álbum, sendo suas participações consideradas na turnê que se seguiu ao álbum. Todas as guitarras e contrabaixo de Carnival Diablos foram gravadas por Jeff Waters, que não compôs um álbum de todo ruim, mas que deixa muito a desejar em termos de criatividade. Preguiça, certeza, pois quando Waters está empolgado cria álbuns excelentes e dinâmicos. Para quem em chegado no Groove noventista do Pantera, talvez possa se agradar mais com este trabalho. Eu passo.

P.S.: por tudo que você mais ama, não ouça a hidden-track no fim do álbum! Será a maior vergonha alheia que você sentirá na vida! Desnecessário.

Carnival Diablos – Annihilator (Steamhammer, 2001)

Tracklist:
01. Denied
02. The Perfect Virus
03. Battered
04. Carnival Diablos
05. Shallow Grave
06. Time Bomb
07. The Rush
08. Insomniac
09. Liquid Oval
10. Epic Of War
11. Hunter Killer

Line-up:
Jeff Waters – guitarras, contrabaixo
Joe Comeau – vocais
Ray Hartmann – bateria

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