Falar sobre o AC/DC em perspectiva é algo tentador.
Um quinteto de sujeitos mal encarados vindo da Austrália, onde seu guitarrista solo usa uniforme escolar, e que revolucionou a forma de se fazer Heavy Metal e Rock ‘n ‘Roll em mais de 40 anos de existência. E coloque na conta uma banda que começou com discos que eram fracassos comerciais (sim, estranho pensar nisso, mas de “High Voltage” até “Powerage”, a banda não conseguia alçar voos mais altos. E sabemos que estes discos são ótimos), que criou uma trinca de sucessos com “Highway to Hell”, “Back In Black” e “For Those About To Rock (We Salute You)”, que sobreviveu aos anos 80 onde seus discos ou não vendiam ou estavam aquém de suas possibilidades; e que conseguiu passar incólume a modismos como a explosão do Punk Rock de 1977 e do Grunge no início dos anos 90, isso sem falar na traumática morte de Bon Scott em 1980, e atual condição de seu fundador, Malcolm Young, que foi diagnosticado com demência em 2014 e saiu.
Acredito que menos da metade de tanta porrada faria mais de 90% das bandas que conhecemos pedirem as contas. Mas não o AC/DC. Não mesmo, pois ainda em 2014, eles soltam o ótimo “Rock Or Bust”.
Acostumados com as durezas da vida, o grupo foi buscar em casa a solução para o problema de Malcolm: Stevie Young, sobrinho de Angus e Malcolm, veio a ser o novo guitarrista base da banda.
O que se pode esperar de “Rock Or Bust”? O de sempre: o mesmo Rock sujo empolgante e pesado que fez do AC/DC uma influência enorme para o Metal e o Rock. Brian canta com seu vocal lixa d’água a plenos pulmões, assim como a dupla Stevie e Angus seguram bem as guitarras da banda. E os veteranos Cliff Williams (baixo, backing vocals) e Phil Rudd (bateria) continuam fazendo um trabalho simples, mas eficiente, na base rítmica do grupo. É ouvir e ficar gamado!
Gravado no Warehouse Studio, em Vancouver, Canadá, tendo a produção de Brendan O’Brien (que havia produzido “Black Ice”, disco anterior da banda) e mixagem de Mike Fraser, o disco tem uma sonoridade até mais simples, como lhe é costumeiro, bem gordurosa e impactante. Mas mesmo assim, o nível de clareza é muito bom, ou seja, o som do grupo pode ser absorvido sem grandes problemas. A capa é bem simples, algo que transparece o conceito de “Rock Or Bust”: música simples, mas cheia de energia.
O grupo nunca foi dado a minimalismos instrumentais ou arranjos rebuscados. Mas é justamente essa simplicidade que torna o AC/DC uma banda coerente, pesada e legendária, que enfrentou muitas tendências e sobreviveu a cada uma delas sem se queixar.
Não seria justo fazer comentários muito estendidos sobre o disco em si. Se não chega ao nível de clássicos da banda como a trinca de ouro “Highway To Hell”, “Back In Black” e “For Those About To Rock (We Salute You)”, está bem emparelhado com discos como “The Razor’s Edge” e “Let There Be Rock”. É energia do início ao fim, o que pode ser atestado pela grudenta e azeda “Rock Or Bust” (que possui guitarras incríveis, um andamento empolgante, e um vídeo onde vemos velhos e jovens fãs à vontade com o quinteto), “Play Ball” e seu ritmo mais acessível e voltado ao Rock de raiz, a bruta e gordurosa base rítmica de “Dogs of War”, ou o peso opressivo de “Rock The House”.
Um disco ótimo, que chega para dar um brilho a mais à história do quinteto.
Infelizmente, parece que “Rock Or Bust” irá fechar uma fase da carreira do AC/DC ou mesmo encerrar sua longa carreira. Após Malcolm ter que deixar a banda em 2014 (mesmo tendo escrito boa parte do material desse disco), agora Brian Johnson teve que parar para não perder a audição. E conforme uma matéria desta semana do The Sydney Morning Herald não parece ter sido uma saída provisória, mas definitiva. Óbvio que muitos apostam na volta do vocalista original do grupo, Dave Evans, para o lugar. Mas fica a impressão que as notícias que virão não serão tão boas assim.
No mais, ouçam “Rock Or Bust”, e se sintam privilegiados, pois o legado do AC/DC é enorme.
Formação:
Brian Johnson (vocais);
Angus Young (guitarra solo, backing vocals);
Stevie Young (guitarra base);
Cliff Williams (baixo);
Phil Rudd (bateria).
Faixas:
01 – Rock Or Bust
02 – Play Ball
03 – Rock The Blues Away
04 – Miss Adventure
05 – Dogs of War
06 – Got Some Rock & Roll Thunder
07 – Hard Times
08 – Baptism By Fire
09 – Rock The House
10 – Sweet Candy
11 – Emission Control
