Se muitas bandas alcançam o sucesso nas suas fases mais iniciais, outras chegam ao estrelato após uma insistente sucessão de bons discos. E assim foi com o quinteto australiano AC/DC. Mesmo com obras como “High Voltage” de 1976 (me refiro à versão internacional do disco), e “Let There Be Rock” de 1977, somente em seu sexto disco, o famigerado “Highway to Hell” (de 1979), eles finalmente chegam ao estrelato.
Antes, por mais que a banda mantivesse uma solidez imensa e tivesse músicas bem fortes (verdade seja dita: o AC/DC não muda de estilo de um disco para o outro, o que não quer dizer que seja ruim), faltava algo. Algo que não falta em “Highway to Hell” que, aliado à energia selvagem do quinteto, agora tem algo mais bem feito e esmerado, arranjos certos nos lugares certos. E sem falar que a banda estava afiada, com Angus despejando solos melodiosos e influenciados pelo Blues (o que é sua marca registrada e influenciará muito os guitarristas de Metal dos anos 80, em todas as vertentes que possa pensar), uma performance e tanto de Cliff e Phil na base rítmica (que não é muito técnica, mas com uma solidez raramente vista até os dias de hoje), as bases de Malcolm fluem do disco e trovejam em todas as faixas (não é à toa é que é dos maiores guitarristas base de todos os tempos), e enfim, o jeito de Bom nos vocais alcança uma plenitude técnica, unindo sua voz agressiva e sensual ao jeito mais esmerado que permeia “Highway to Hell”. Não tinha como dar errado, e não deu.
A chave do sucesso tem nome: o produtor “Mutt” Lange, que ficará célebre pelas produções com o DEF LEPPARD nos anos 80 (e que entrou no lugar de Eddie Kramer, antes que a banda metesse a mão na cara dele, já que os irmãos Young não são conhecidos por sua paciência) . A meticulosidade de “Mutt” conseguiu moldar a energia selvagem do quinteto, ajudando a tirar de cada um de seus membros o melhor desempenho, sem contar que a sonoridade mais encorpada e limpa de “Highway to Hell” encaixou como uma luva, sem, no entanto obliterar a energia crua do AC/DC. A diferença pode ser vista no tempo de gravação: nos discos anteriores, a banda levava no máximo 3 ou 4 semanas para gravar, e com “Mutt” foram 3 meses.
A verdade é que “Highway to Hell” é um divisor de águas na carreira do AC/DC: de uma banda com cheiro de pub para um dos maiores grupos de Hard Rock de todos os tempos, ele está ali como “marco zero” da era mais popular do grupo. Pode não parecer para muitos, mas em termos de camadas sonoras e harmonias, esse disco é riquíssimo, além do fato de que, se a visão de “Mutt” for a mesma que conhecemos de seus tempos com o Def Leppard (a busca por um Hit Single de sucesso), ela se faz valer em um disco orientado para fazer sucesso.
Uma audição no ritmo contagiante e grudento de “Highway to Hell” (talvez um dos mais conhecidos refrões de todos os tempos, sendo trilha sonora de filme da Marvel, “Homem de Ferro 2”, quase 40 anos depois), o ritmo mais bluesy/Rock de “Girls Got Rhythm”, a raçuda e cadenciada “Walk All Over You”, a energia bruta e envolvente de “Touch Too Much” (como os vocais de Bon estão bem), a pegada tradicional do quinteto em “Shot Down in Flames” e o jeitão sujo e simples de “If You Want Blood (You’ve Got It)” e “Love Hungry Man” são os destaques, mas será que existem destaques em um clássico desse porte?
Lançado em 27/07/1979, “Highway to Hell” é o primeiro disco do AC/DC a chegar ao US To 100 (foi ao 17º. lugar) e sete vezes disco de platina pela RIAA (em 2006). Mas infelizmente, é o último registro em estúdio de Bon, que viria a morrer aos 33 anos de idade na terça-feira 19 de fevereiro de 1980. A causa mortis: envenenamento por consumo de bebida alcoólica.
Com o sucesso enfim nas mãos, sendo aclamados por público e crítica, a banda estava devastada pela morte de Bon “Velho” (como era chamado pelos irmãos Young) Scott, muitas dúvidas surgiram. Mas como sabemos, o fim estava longe…
Formação:
Bon Scott – vocal
Angus Young – guitarra solo
Malcolm Young – guitarra base, backing vocal
Cliff Williams – baixo, backing vocal
Phil Rudd – bateria
Faixas:
01. Highway to Hell
02. Girls Got Rhythm
03. Walk All Over You
04. Touch Too Much
05. Beating Around the Bush
06. Shot Down in Flames
07. Get It Hot
08. If You Want Blood (You’ve Got It)
09. Love Hungry Man
10. Night Prowler