É bem provável que, se você for pegar algum livro, artigo ou revista sobre a história do rock, vai haver um trecho onde se explanará sobre a origem do Punk Rock. Há uma chance imensa de constar algo sobre a juventude operária, que não se reconhecia mais nas viagens progressivas ou nos artistas que tiravam fotos exibindo seus próprios aviões. Garotos que nunca tinham posto as mãos em um instrumento resolveram fazer música e trazer o rock de volta ao básico.
Como em toda versão resumida de uma história, existem alguns exageros. O rock progressivo não poderia jamais ser taxado, tão absolutamente, como a pá de cal na espontaneidade da música jovem, bem como também não é correto acreditar que qualquer um que se denominasse punk fosse um analfabeto musical.
O Clash, juntamente com o Sex Pistols, foram os dois nomes de mais expressão entre os que surgiram no meio da explosão de bandas inglesas da onda punk. Embora o começo de ambas seja similar em termos de impacto sonoro, não é possível que seja traçado um paralelo de suas diferenças futuras, por conta do final antecipado das atividades do Pistols. O certo é que o Clash, após um pequeno pulo estilístico entre o primeiro e o segundo disco, deu um grande salto no momento de concepção de seu terceiro álbum, o clássico dos clássicos: “London Calling”.
Se na essência, na atitude, o Clash ainda era uma banda punk, a audição de “London Calling” não permitia, de imediato, estabelecer definições para qual direção o grupo estava apontado. O Clash é uma banda de múltiplas influências e todas elas dizem presente nesse disco. Por trás da capa icônica, que homeneageava explicitamente um álbum de Elvis Presley, havia um apanhado de tudo que era relevante musicalmente naquela virada de década, dos 70 para os 80: punk, reggae, rock´n´roll, ska, pop, rockabilly, bebop e até country!
Composto essencialmente por Joe Strummer e Mick Jones, com participações pontuais do baixista Paul Simonon e do baterista Topper Headon, “London Calling” representou o ápice das experimentações sonoras do Clash, sem que essas se tornassem um fator que refreasse a dinâmica do disco, tal qual ocorreu no álbum seguinte, o vinil triplo “Sandinista”, onde o exagero nas viagens dub acabou por torná-lo demasiado cansativo. “London Calling”, apesar de ser um vinil duplo, desce redondo. Tem algumas faixas que poderiam ser limadas? È claro que sim, mas não é nada que prejudique a fluência do trabalho ou que empaque o seu desfrute.
Considerando que Joe Strummer assume o vocal na maioria das faixas, e levando-se em conta a sua já mencionada variedade, vê-se o quanto Strummer era um artista versátil, transitando com tranquilidade entre as mudanças de andamento das canções e, importantíssimo, não permitindo que o teor político das mesmas – já que os posicionamentos políticos eram uma das principais bandeiras do Clash – sobrepujassem a diversão de escutar boa música. Quando o músico morreu, aos 50 anos de idade, em 2002, levou consigo, para a sepultura, a esperança de que essa banda algum dia se reunisse. Não ficou, porém, a sensação de que o Clash encerrou prematuramente uma carreira, pois em “London Calling” eles conseguiram sintetizar toda a sua obra.
Formação
Joe Strummer – vocal/guitarra
Mick Jones – guitarra/vocal
Paul Simonon – baixo
Topper Headon – bateria
Músicas
01.London Calling
02.Brand New Cadillac
03.Jimmy Jazz
04.Hateful
05.Rudie Can’t Fail
06.Spanish Bombs
07.The Right Profile
08.Lost in the Supermarket
09.Clampdown
10.The Guns of Brixton
11.Wrong ‘Em Boyo
12.Death or Glory
13.Koka Kola
14.The Card Cheat
15.Lover’s Rock
16.Four Horsemen
17.I’m Not Down
18.Revolution Rock
19.Train in Vain