Antes de mais nada, deve se louvar a iniciativa de uma nova editora, investindo no mercado brasileiro e publicando obras que fujam do lugar-comum. A Denfire inaugura a sua série de publicações com uma aposta de qualidade embutida, por assim dizer, já que traz a assinatura do renomado autor Martin Poppoff, responsável por biografias de Black Sabbath, UFO, Judas Priest, entre outros, além de um variado catálogo de temas diversos dentro do Heavy Metal.
“Hit The Lights – O Nascimento do Thrash Metal” aborda a gênese do estilo utilizando, na maior parte do texto, o formato “Mate-me Por Favor”. Ou seja, a história é narrada por seus personagens principais, que inserem suas recordações em depoimentos curtos, espalhados em ordem cronológica. O autor também se manifesta, apondo algumas observações, quando necessário, principalmente na parte inicial do livro, que busca identificar, desde o período Pré-1970, os momentos em que os elementos-chave surgiam: o som da guitarra de Jimi Hendrix, o uso dos dois bumbos por Carmine Appice, o termo headbanging…
Por querer ser específico em relação ao nascimento do Thrash, o livro encerra sua missão narrativa em 1983, ano de lançamento do álbum “Kill’Em All” do Metallica. Isso não significa que a abordagem é exclusiva sob o ponto de vista americano. Bandas europeias como Kreator, Picture e Running Wild são citadas em seus devidos momentos e a pesquisa realizada por Martin foi apurada o suficiente para que houvesse, também, menção ao lançamento do trabalho de estreia dos nossos conterrâneos do Stress.
Existem algumas poucas falhas de grafia que poderiam ter sido evitadas por uma revisão mais apurada e a diagramação através dos depoimentos é um pouco confusa no início, levando um tempo até que se acostume, mas essas falhas soam pequenas diante da quantidade de imagens representativas, sejam capas de discos, de demotapes ou de cartazes de shows. O leitor vai poder viajar imaginando como seriam os shows que reuniam, no mesmo palco, Picture, Acid e Venom ou Raven, Riot e Anvil, sendo que é demonstrado que esses três últimos, principalmente o Anvil, tiveram uma importância e influência enorme para aquela geração.
O relacionamento com o boom de bandas de Glam Metal também é abordado e, nesse aspecto, o Motley Crue é outro nome muito presente. Enfim, a obra situa o leitor dentro de uma época que, de certa forma, não existe mais, onde as lojas eram o ponto de revelação de novidades e local de interatividade; onde as fitas k7 eram itens essenciais de divulgação; pouquíssimas pessoas faziam ideia de que existia uma banda chamada Iron Maiden e andar com uma camiseta do Saxon lhe destacava na multidão e lhe dava a oportunidade de fazer novos amigos. Merece ser lido tanto por aqueles fãs que vivenciaram o momento relatado, quanto pelos admiradores mais jovens. Todos perceberão que as megabandas da atualidade foram, em determinado momento, formadas por garotos que tinham vontade de fazer algo, mesmo que não conseguissem perceber exatamente o quê. Eram personagens de uma história de cujo enredo eles não tinham a plena perspectiva, mas da qual hoje podemos usufruir e ter a visão completa.

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