O Distraught surgiu no distante ano de 1990, em Porto Alegre/RS, e lançou no mesmo ano a demo ‘To Live Better’ com cinco faixas. Após dois splits nos anos 1991 e 1994, finalmente o debut ‘Nervous System’ foi lançado em 1998 pela paulistana Encore Records. Em seguida, a banda não parou mais e fez mais seis lançamentos – até a presente data -, sendo um deles o ao vivo ‘Live Black Jack – SP’. Entretanto, falemos aqui hoje sobre o então mais recente álbum, ‘Locked Forever’, de 2015.

Analisando primeiramente o óbvio, a arte de capa preocupou em retratar o título, “Trancado para sempre” (em tradução livre), exibindo uma complexa e detalhada fechadura, ladeada por duas chaves. Qual seria a certa? Ou seriam necessárias as duas pra se abrir? O responsável pelo trabalho foi ninguém menos que o conceituado músico e artista carioca Marcelo Vasco, que já assinou capas de bandas como Belphegor, Borknagar, Dee Snider, Kreator entre várias outras. Ah, tudo isso em formato digipak, só para constar. Não é pra menos, já que as letras foram inspiradas no livro “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex, que retrata as atrocidades do hospital psiquiátrico Colônia, em Barbacena/MG – que a título de curiosidade, é uma cidade vizinha à minha, Barroso. Por sua vez, também deu origem ao documentário de mesmo nome, que já assisti, facilmente encontrado no Youtube.

Lado visual e conceitual brevemente comentado, André Meyer (vocal e backing), Ricardo Silveira & Everton Acosta (guitarras), Nelson Casagrande (baixo) e Mauricio Weimar (bateria) nos entregam em um pouco menos de 50 minutos, um Thrash Metal forte, trabalhado e atual, feito para ser exportado, mas também ser consumido em nosso território mesmo, mostrando mais um exemplo de qualidade para aqueles malignos teimosos ao Metal Nacional. Vale mencionar ainda, que como convidados, o trabalho contou com Eduardo Baldo (bateria na faixa 04), Estevan Prieto (harmônica – ou se preferir: gaita de sopro) e Renato Osório (backing vocals).

Com a abertura “Between the Walls of Colônia” já ficamos com uma ótima impressão do disco, percebendo instantaneamente o cuidado com os processos de estúdio e produção – indispensável em qualquer trabalho decente! Ah, sabe o que também é possível perceber logo na primeira faixa? A boa desenvoltura dos integrantes e a diversidade! Outro fator que não pode ser deixado de lado em músicas. “Lost” não faz feio e reafirma tudo o que foi escrito acima, sem contar a ótima seção de bateria de Nelson Casagrande. O começo da título “Locked Forever” pode te enganar, tendendo mais para o Metal Tradicional, mas logo logo o Thrash dá as caras novamente numa levada rápida e direta (que me agrada bastante) e deságua em passagens mais melodiosas.

“Dehumanized” se inicia climática, algo que me lembrou um pouco Death e Kreator, e sua letra fala sobre a “desumanização” dos pacientes do grotesco “hospital” (será mesmo que poderia ser chamado assim?), que em inúmeros casos sequer possuíam problemas mentais, sendo este funcionando como um depósito humano para pessoas “indesejáveis” à sociedade da época, como mendigos, alcoólatras, mulheres solteiras que engravidavam e coisas do tipo, perdendo a insanidade devido às extremas condições precárias e absurdas do ambiente em que foram jogados. Uma história que demorou a ser descoberta, mas veio à luz. Voltando ao som, “Brazilian Holocaust” é mais uma ótima e forte faixa, que liricamente reforça as últimas palavras anteriores, com seu refrão: “Brazilian Holocaust / Chapters of the Truth / Brazilian Holocaust / Are Facts and Proofs” (“Holocausto Brasileiro / Capítulos da Verdade / Holocausto Brasileiro / São Fatos e Provas”).

Rumando para os momentos finais, “Shortcut to Escape” e “Blacktrade” facilmente mantêm o ótimo nível, mostrando a pegada do Metal atual. “The Blind Vision of the Enemy” tem direito até a uma breve passagem Prog, enquanto que “The Last Trip” coloca um ponto final, com muita classe.

E é isso amigos, agora é com vocês o interesse de conhecer o trabalho do Distraught, bem como esse capítulo nefasto da história brasileira, ocorrido aqui em Minas Gerais, e que por pouco não caiu nas garras do esquecimento.

Faixas:
01. Between the Walls of Colônia
02. Lost
03. Locked Forever
04. Dehumanized
05. Brazilian Holocaust
06. Shortcut to Escape
07. Blacktrade
08. The Blind Vision of the Enemy
09. The Last Trip.