Eis que a esperada data de 12 de Outubro finalmente chegou e a ansiedade do redator não é pelo fato de a data ser o dia das crianças e muito menos por ser o da padroeira deste Brasil varonil, mas sim pela chegada da oitava edição do Guaru Metal Fest.

E para este que vos escreve, o festival começou já na sexta-feira, véspera do evento, uma vez que eu trabalho a noite e simplesmente não dormi, saindo praticamente direto da minha jornada de trabalho rumo à Guarulhos, de ônibus. Motivos para reclamar? Nenhum, pois eu amo a paisagem da Via Dutra e é sempre um prazer quando tenho a oportunidade de ir até a terra da garoa (N. do R: que de garoa não teve nada neste fim de semana).

Chegada tranquila na capital, o objetivo era correr para chegar a tempo na vizinha Guarulhos, o que conseguimos com certa facilidade. O sábado estava com céu claro, temperatura bastante elevada, o que fez o redator pensar que ele simplesmente não havia ainda deixado o Rio de Janeiro. O festival estava com previsão de início às 15:00, mas atrasou um pouquinho. Nada que comprometesse as dez bandas que lá se apresentariam, mas a partir daí, nenhuma banda se apresentaria exatamente no horário previamente marcado. E por volta das 15:30 tivemos a primeira atração subindo ao palco do Clube Recreativo de Guarulhos:

HELL ON WHEELS

A banda subiu ao palco e abriu o festival tocando para uma casa muito vazia. O HELL ON WHEELS apresentou seu tributo ao ACID, um Heavy Metal Tradicional. O destaque é para a vocalista Andressa, esbanjando simpatia e muita sensualidade no palco. Detalhe é que a moça além de cantar, é a mente por trás do Guaru Metal Fest: cuidou do festival, das bandas e inclusive tornou possível a presença da ROADIE METAL, A VOZ DO ROCK no evento.

A qualidade do som não estava muito boa, os instrumentos muito altos, por vezes não nos deixando entender o que a vocalista cantava, mas isso não chegou a comprometer a atuação da banda. A música “Hell on Wheels” foi a que mais me chamou atenção, com bons riffs. A banda deixou boa impressão para quem os prestigiava pela primeira vez.

Setlist HELL ON WHEELS:
01 – Max Overload
02 – Lucifera
03 – No Time
04 – Lost in Hell
05 – Hell on Wheels
06 – ACID
07 – Black Car
08 – Hooked on Metal

Hell on Wheels em ação. Foto: Flávio Farias

FACING FEAR:

A casa já tinha um pouco mais de gente quando a banda do Rio de Janeiro subiu ao palco do Guaru Metal Fest. E eles executaram um setlist bastante enérgico, divulgando seu primeiro disco, intitulado “Ana jansen“, lançado neste ano, com uma bela performance do vocalista Terry Painkiller, que além de cantar muito, tem uma presença de palco excelente, tendo inclusive, momentos em que o rapaz incorpora Bruce Dickinson e sai correndo pelo palco, com os mesmos trejeitos do inglês. E o que impressiona é que a banda mesmo tendo apenas um guitarrista, não deixa um buraco no som durante os solos e a baixista Nathalia Souza segura bem a onda.

A banda aposta em um Heavy Tradicional de excelência e o som, apear de apresentar uma melhora, ainda seguia alto. Apresentação impecável, que foi muito ovacionada pelos presentes ali e que teve direito até a algum tipo de efeito pirotécnico, mesmo que isso tenha significado algum tipo de risco à segurança (da banda e do público), mas felizmente nada aconteceu.

Setlist FACING FEAR:
01 – The Lonely
02 – We Are Facing Fear
03 – I Wanna Play
04 – Calling Me
05 – Hell’s Killer
06 – Lutaremos Pelo Metal
07 – We Will Arrive

Facing Fear em ação no Guaru. Foto: Flávio Farias

NECROHUNTER:

A terceira banda a se apresentar no Guaru Metal Fest era a única representante do nordeste. E o trio paraibano NECROHUNTER teve a possibilidade de se apresentar para um número maior de pessoas, em comparação às bandas anteriores. Ao vivo a banda não conta com baixista, então o lineup se dá com duas guitarras, mais a bateria. E os caras não decepcionaram, destilando seu Death Metal old-school. A banda apresentou uma música nova, chamada “Sex Pervesion”, que está presente no próximo álbum, a ser lançado ainda no mês de outubro.

O som ainda continuava demasiadamente alto e mesmo que isso beneficiasse as duas guitarras, a bateria estava praticamente inaudível. Esperava-se que pela agressividade do som da banda, algumas rodinhas pudessem surgir, até porque era a primeira banda mais extrema a subir ao palco, mas a moçada de Guarulhos ainda estava tímida, limitou-se apenas a banguear. Mas o som dos caras pede muitos moshs insanos.

Setlist NECROHUNTER:
01 – Intro
02 – Hungry Hunter
03 – Shredded abd Carbonized
04 – Sex Pervesion
05 – Slaughtered
06 – Prelude to Havoc
07 – Damned X
08 – Retaliatory
09 – Perverse Abyss
10 – Damnation
11 – Last Days

Necrohunter, representando o nordeste no Guaru. Foto: Flávio Farias

BHELL

Depois de alguns minutos de pausa, eis que sobre ao palco o BHELL, o projeto do guitarrista Valério, a lenda mineira do HOLOCAUSTO. A banda fazia a sua estreia nos palcos e o Guaru Metal Fest fora o contemplado com este marco.

O trio mineiro apostou no seu Death Metal com algumas influências de Doom. O som já deu uma melhorada considerável e era possível ouvir todos os instrumentos; Alguns convidados subiram ao palco para cantar as duas últimas músicas do set, que mesmo com uma sonoridade pesada e potente, ainda não conseguiu fazer com que a galera se empolgasse abrindo as rodinhas. O set list ainda contou com a música “Resista“, do HOLOCAUSTO.

Setlist BHELL:
01- The Bloody Face
02 – Blasphemy
03 – Creatures
04 – In the Name of the Sinner
05 – Rest in Hell
06 – Sacred Desecration
07 – Resista
08 – Revenge of Evil
09 – BHELL

BHELL fazendo a primeira apresentação da sua história no Guaru Metal Fest. Foto: Flávio Farias

OUTLAW:

A primeira metade do Guaru Metal Fest seria encerrada pelo OUTLAW, que subiu ao palco por volta das 20:00 apresentando seu Death/Black Metal pesado e sombrio, com o destaque indo para a cozinha, principalmente com o baixista, por sua técnica cavalar. Todos os instrumentistas são acima da média, mas honestamente eu fiquei impressionado com a técnica do baixista. É bom quando podemos presenciar um baixista que sabe realmente botar peso ao vivo e aqui, não raro, o som do baixo sobressaía diante das duas guitarras da banda. Eles fizeram uma atração bem teatral, com direito a velas acesas durante a execução do set e também uma cruz invertida no centro do palco. E até o momento, essa era a banda que teve mais resposta positiva do público presente, ainda que nesta altura fosse pequeno.

Setlist OUTLAW:
01 – Intro
02 – Darkest Corners
03 – Mahapralaya
04 – Ashes and Blood
05 – Trial By Fire
06 – Kali Yuga
07 – Achangel Fall
08 – Devourer of Light

Outlaw fazendo o Black Metal marcar presença no Guaru. Foto: Flávio Farias

ANARKHON:

E antes dos paulistanos subirem ao palco, o público era agraciado com o som de “Angel of Death“, que gritava nos PAs. E o cansaço pela maratona que este redator enfrentava (e nem era metade do que ele iria buscar nos dois dias que permaneceu na capital paulistana), acabou que eu não fiquei na frente do palco durante a apresentação da banda, acompanhei mais de lado e fiquei com uma boa impressão do Death Metal praticado pela banda durante os 45 minutos aos quais ela teve direito a tocar.

LIVING METAL:

Durante a apresentação desta banda, eu precisava fazer coisas de primeira necessidade, como por exemplo, comer algo e carregar a bateria do telefone, pois este era o meu principal instrumento de trabalho. Mas pude conferir, mesmo à distância a qualidade do Heavy Metal que a banda destilou no palco do Guaru Metal Fest, tendo uma boa parte dos Headbangers curtindo muito a apresentação. Uma apresentação bem correta deste quinteto, que ainda recebeu a participação da vocalista Andressa, que repetiu seu modelo sensual. Uma performance bem enérgica.

NERVO CHAOS:

A reta final do Guaru está chegando e se existe uma banda que por si só faria com que eu me deslocasse do Rio de Janeiro rumo à São Paulo, esta banda seria o NERVO CHAOS, veterana banda paulistana. Eu os conheci na coletânea “Hamlet“, lançado pela “Die-Hard“, já no longínquo ano de 2001 e desde então me tornei fã da banda. É bem verdade que fazia tempo que eu não acompanhava os caras e neste 12 de outubro eis que era chegada a hora e os caras chegaram chegando, botando para quebrar com seu Thrash/Death Metal podre, porém, muito bem trabalhado, sendo esse o diferencial da banda. Um absurdo de pesado o som deles.

O vocalista aproveitou para pregar a paz entre as tribos, dizendo que não importava se os presentes ali eram punks ou bangers, mas que todos ali estavam por um único objetivo, que era escutar um som pesado e bater cabeça ao som desgraçado que a banda pratica. Eles seguem um ritual curioso: vez por outra, eles ativam o playback com uma intro e então todos os integrantes dão as costas ao público e aí depois de alguns segundos, todos se viram para prosseguir o massacre sonoro. É Metal de altíssima qualidade, e o que é melhor: Made in Brazil. Certamente o NERVO CHAOS é uma das melhores e mais brutais bandas do cenário undergound tupiniquim. Que showzaço, senhores.

Setlist NERVO CHAOS:
01 – Intro
02 – Necroccult/ Demonic/ Whisperer in Darkness
03 – Ad Maidrem
04 – For Passion
05 – Death Rites
06 – Total Satan/ Feast of Caim
07 – Of Evil and Men
08 – Pazuzu is Here/ Moloch Rise/ Pure Hemp

Nervo Chaos quebrando tudo no Guaru Metal Fest. Foto: Flávio Farias

AZUL LIMÃO:

E chegou a vez de uma das pioneiras do Metal carioca subir ao palco: era o AZUL LIMÃO, reformulado, com as presenças do vocalista Renato Trevas e o do talentoso e carismático baterista André Delacroix, que acompanhados pelo guitarrista Marcos Dantas e pelo baixista Vinícuis Mathias, seguem representando e dando continuidade ao legado maravilhoso. E ao menos na hora do AZUL LIMÃO, todos os presentes no Clube Recreativo de Guarulhos se acotovelaram na beira do palco para conferir a matadora apresentação.

E os veteranos destilaram seu Heavy Metal de extrema qualidade, em uma apresentação muito vigorosa. Impressionante o alcance vocal do Renato Trevas, não perdendo o pique em nenhum momento e mantendo as notas lá no alto com seus agudos. Destaque para a música “Nada a Perder“.

E aquele 12 de outubro era importante para a banda: faziam 12 anos que o AZUL LIMÃO não se apresentava em São Paulo. E o retorno não poderia ser melhor, com nova formação, energias renovadas e o novo álbum sendo divulgado. Com muito peso e riffs marcantes, a banda levou ao delírio os presentes . Houve até uma tentativa de mosh quando a banda tocou “Guerreiros do Metal“, do lançamento mais recente da banda, “Imortal“, mas o rapaz que puxou estava meio bêbado, e não foi levado a sério pelo restante da galera.

O som, embora ainda demasiadamente alto, beirava a perfeição e outra música que provocou frenesi nos presentes foi “Satã Clama Metal“. Apresentação épica.

Marcos Dantas na guitarra e Trevas, ao fundo, arrebentando com o Azul Limão no Guaru. Foto: Flávio Farias

Setlist AZUL LIMÃO:
01 – Intro
02 – Portas da Imaginação
03 – Sangue Frio
04 – Paranormal
05 – Nada a Perder
06 – Não Vou Mais Falar
07 – Imortal
08 – Coração de Metal
09 – O Grito
10 – Rotina
11 – Guerreiros do Metal
12 – Satã Clama Metal
13 – Vingança

Era trabalho sim, mas o redator também não iria deixar passar a oportunidade de tietar essa lenda viva do Metal carioca chamada André Delacroix. Foto: Rodrigo Morais

WHIPLASH:

E como o cronograma já estava todo atrasado, os veteraníssimos do WHIPLASH só aumentaram ainda mais a espera do público. Afinal, a banda era o Headliner do festival e muitos estavam ali para vê-los e quando eles subiram ao palco, ficou explicado o porque de a galera ter se poupado nas bandas anteriores. Algumas rodas foram abertas e todos vibravam ao Thrash Metal old-school praticado por este trio novaiorquino.

A banda tem uma energia fora do comum e nem parecia que já passavam das 2 horas da madrugada, os caras instigando uma galera que resistia a mais de 11 horas de Heavy Metal. A apresentação ainda teve direito a um solo de bateria.

Eles tocaram um pouco de tudo de sua carreira, com destaque para o debut-album, “Power and Pain“, agraciado com 4 músicas. Os caras são super-profissionais e deram conta do recado, por quase duas horas de set, encerrando com chave de ouro um festival que foi longo e exigiu fôlego de triatleta, tanto do público presente e de quem foi lá para trabalhar,

Setlist WHIPLASH:

Um festival em que o Heavy Metal foi celebrado, infelizmente, poucas pessoas se dispuseram a aparecer. E não foi por falha da organização ou de divulgação: do ponto de vista musical, o festival foi um sucesso. Havia boas opções dentro do local para comer e beber; também haviam stands onde as bandas vendiam seus produtos oficiais, e banquinhas de CD’s, uma delas, vendendo discos por R$10 cada. Óbvio que este redator não perdeu a oportunidade e trouxe para casa dois discos do BLACK SABBATH e mais um do DEATH.

Por volta das 2:30 da madrugada terminava o festival, mas ainda não a aventura do redator por terras paulistas: era a hora de ele ir para a zona norte da capital, recuperar suas energias, pois horas mais tarde teria um novo show para cobrir. Que venha o Guaru Metal Fest de 2020.