Falar de metal nacional é uma tarefa complicada as vezes. Mesmo sabendo que alguns dos maiores nomes do metal que o mundo já conheceu, são brasileiros. Angra, Shaman, Sepultura, Kriziun, Noturnall, Hibria, isso citando só alguns dos que mais aparecem na mídia. Porém, só de ler esses nomes já se sabe: o Brasil representa o metal SIM. E por esse motivo, trago com muito orgulho a resenha do álbum “Prologue”, da banda curitibana Ankhy, a qual eu acompanhei de perto desde o início.

Enraizados no power metal, prog metal e com nuances de rock n’ roll clássico, esses caras mostram que existe som atual de EXTREMA qualidade. Seguindo uma linha parecida com o da banda Unleash the Archers, o grupo traz anos de estudo e amor à música pra compor essa que deveria ser um dos maiores lançamentos do metal do ano. O álbum foi lançado oficialmente em 13 de agosto de 2017, e foi produzido pelo grande Adair Faudembach (produtor de grandes nomes como Project 46/Semblant/Shaman/Aquiles Priester), em projeto independente.

Helius (The City of Sunrise) é o tipo de música que nos pega de surpresa. O motivo que fez com que a Ankhy a elegesse como a música que abriria o álbum “Prologue” é evidente. O início acústico logo nos remete à um som como o do Blind Guardian, com um incrível e breve dueto dos guitarristas Olek e Felipe. Logo ao encerrar a introdução, as distorções características dos nomes que já são conhecidos na cena local de Curitiba entram combinando com uma técnica impecável. As linhas de baixo e bateria estão espantosamente alinhadas, e deve-se fazer uma menção honrosa ao alcance vocal do Matheus Motta, que intercala drives, gutturais e agudos de maneira natural e coerente. A música de abertura é forte na proposta, demonstra as influências em Judas Priest, Dream Theater e Helloween dos integrantes de maneira clara. Sua construção é complexa, com berço no metal progressivo mas com passadas no power, fatores esses que, combinados com uma letra extremamente bem construída, temos uma faixa incrível para os amantes de fantasia.

Duas músicas conectadas, entramos em Lunius (The CIty of Shadows) com uma ambientação mais soturna e pesada que a da faixa anterior. A banda mostra a química e sinergia que possuem nos riffs muitíssimo bem estruturados e interligados. Matheus novamente nos deixa boquiabertos com seus gutturais e drives até que apresenta seu vocal limpo no refrão, extremamente melodioso, intercalando muito bem com as passadas no metalcore. Conforme a música avança, nos deparamos com um incrível solo que exibe técnica e versatilidade, característica de ambos os guitarristas Felipe Bagatin (Felp) e Olek Nowakowski (os caras tem até nome de músico famoso).

Ways to Oblivion nos remete ao metalcore e ao post-hardcore (por incrível que pareça) já no início, porém, não demora muito até tappings e pedais duplos estourarem as caixas, ajudando a compor a melodia constante da música. Um breakdown pré-solo casado com um coro constrói a temática do álbum (falaremos disso mais pra frente). O solo dessa música é o que mais me chamou a atenção, pois temos a forte presença do excepcional baixista Caio Vidal (CJ) abrindo as portas de maneira calma e precisa para os guitarristas provarem que o power metal também tem muito feeling.

In The Name of Gold exala metal progressivo desde o primeiro segundo. Uma composição puramente instrumental que novamente exibe a técnica e química presente entre os integrantes da banda. Mais uma vez a “rasgação de seda” vai para Caio Vidal, que nos remete a músicos como Felipe Andreoli (Angra), Ivan Beck (atual Hibria) e Marco Panichi (ex-Hibria) com seus arpejos insanos.

A faixa Slave to the Gold mantém a linha apresentada até o momento. Vale lembrar que esse é um álbum construído de maneira a constituir uma história linear, algo muito difícil de controlar conforme a progressão das músicas. A complexidade em produzir um trabalho como esse é imensurável, pois se trata de ênfases instrumentais e vocais intercaladas conforme a evolução das faixas. Em resumo: é muito músico bom reunido no mesmo lugar.

Unleash the Serpents mete o pé na sua cara no momento em que se inicia. O frontman Matheus Motta tem uma variedade de tonalidades escondidas na garganta. Sua voz vai de Matt Heafy (Trivium) à Rob Halford (Judas Priest) em questão de segundos, e sem perder a afinação ou o fôlego (e eu já vi isso pessoalmente). Felp e Olek possuem estilos distintos e bem perceptíveis, mas por serem amigos de longa data e músicos excelentes, intercalam de maneira maestral os solos.

You Make Your Maker apresenta uma estrutura sólida e mais pesada que as demais músicas. Com exceção dos refrões, Matheus Motta utiliza seus gutturais em toda a faixa. Nessa música, há uma ponte belíssima acústica e melodiosa com falas ao fundo,  que antecede um solo insano do time de cordas.

War of the Gods é uma das faixas mais melódicas do álbum, mesmo com os já conhecidos gutturais de Matheus Motta, nos surpreendemos ao conhecer a versatilidade dos músicos que conseguem se adaptar facilmente ao vocalista, e vice-versa. O conhecimento dos instrumentos é algo evidente na banda, tendo todos os seus recursos utilizados onde e quando necessários.

Agora chegou a hora de falarmos do single da banda. All Men Must Die, antes de tudo, é uma declaração apaixonada pela literatura fantástica, pois foi criada em homenagem à personagem Daenerys Targaryen, da saga “Crônicas de Gelo e Fogo”. Logo no início da música, notamos uma voz feminina: Mizuho Lin, dona de uma voz maravilhosa e potente, frontwoman da banda Semblant. Logo voltamos à participação dela. Na progressão da música, percebemos arpejos de Caio Vidal usados como ponte entre as seções que compõem a faixa. Uma coisa que eu notei, é que nessa música em especial, podemos ver a possível influência de Trivium em Matheus Motta. Quando a segunda ponte entra, Mizuho reaparece, mas dessa vez, em evidência, com o timbre já conhecido que é tão característico dela. Antes que possamos retomar o fôlego e ainda eufóricos, nos deparamos com mais um solo do time das 6 cordas, e dessa vez, seguindo a escola do Iron Maiden. 

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Prometheus é guiada pelas guitarras, e novamente temos uma belíssima introdução puramente instrumental que abre alas aos vocais insanos de Matheus Motta. Aqui, Markos Franzmann mostra seu domínio nas baquetas, intercalando muito bem a velocidade dos pedais com o uso dos pratos para ajudar a compor várias pontes e variações que determinam o peso da faixa. A música segue uma linha mais agressiva que as demais, não tão rápida, mas definitivamente mais agressiva que o restante do álbum. A banda impressiona ao mostrar mais uma vez a versatilidade e excelência na composição, tanto nos instrumentais, quanto nas letras. Também vemos o uso de efeitos um pouco diferentes nas cordas, o que dá um toque a mais na faixa. CJ rouba a cena novamente com uma ponte solada no baixo, essa que antecede um solo de extremo bom gosto e um pouco mais “fritado” que os demais. A faixa conta com 06:37 de pura agressividade, mas não é a mais longa do álbum.

Se vocês achavam que um álbum com as raízes no prog e power metal não ia ter uma faixa comprida, estavam enganados. Prologue of the Last Dark Age possui insanos 13:59. Aqui a variação de tempo nos remete a um instrumental mais épico que os demais. O tom sombrio da faixa faz jus à música, que fecha a história do álbum com a temática inspirada em “A Batalha do Apocalipse”, de Eduardo Spohr, com uma pitada de outros clássicos da literatura, como “A Divina Comédia”. A faixa é, na verdade, um embate ideológico entre Lúcifer, o anjo negro Azazel e os mortais. O mais impressionante nessa faixa é a caracterização dos personagens apresentados, que é feita de maneira extremamente criativa. Na trama, Lúcifer envia Azazel, seu fiel anjo negro para a terra, em busca de almas humanas com o objetivo de aumentar seu poder e influência. Porém, sedento pelo poder, Azazel decide então tomar uma alma humana para si, e assim, destronar Lúcifer e tomar todo o comando dos anjos negros. A composição também explora a avareza e fragilidade dos mortais. Em meio à inúmeros diálogos, temos variações instrumentais que lembram o magnífico Rush. A faixa merece muita atenção, pois a história é empolgante e extremamente bem construída. Os fãs de Castlevania: Symphony of the Night certamente terão boas lembranças ao ouvi-la!

Por mais que hajam comparações com vários nomes, vale lembrar que a banda apresenta sonoridade ÚNICA. Como disse no início dessa resenha, eu sinto orgulho em ouvir um trabalho tão bem produzido, feito de suor e anos de dedicação dos integrantes do grupo.

Para quem quiser conhecer melhor a banda, sigam a Ankhy nas redes sociais e ouçam o álbum “Prologue” GRATUITAMENTE pelo Deezer.

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Ouça “Prologue” pelo Deezer

Track list:
1. Helius (The City of Sunrise) – 05:32
2. Lunius (The City of Shadows) – 04:26
3. Ways to Oblivion – 04:51
4. In The Name of Gold – 02:47
5. Slave To The Gold – 04:10
6. Unleash The Serpents – 05:47
7. You Make Your Maker – 05:35
8. War of the Gods – 03:58
9. All Men Must Die – 04:40
10. Prometheus – 06:37
11. Prologue Of The Last Dark Age – 13:59

Formação:

Matheus Motta –  Vocal
Felipe (Felp) Bagatin – Guitarra
Olek Nowakowski – Guitarra
Caio Vidal (CJ) – Baixo/Backing Vocal
Markos Franzmann – Bateria