Entrevistamos o Pedro Paixão, tecladista do Moonspell. A entrevista foi feita durante o Vagos Metal Fest, no inicio de agosto e está na integra, com exclusividade para a Roadie Metal.

O músico fala do último trabalho ao vivo lançado pela banda, sua admiração pelo Brasil, as bases e influências que formaram o Moonspell e como se auto definem no mercado musical.

A entrevista foi feita por Verônica Mourão e a gravação e fotos por Ana Costa.

Confira.

 

Verônica Mourão – “Lisboa Under The Spell” é uma gravação recente, realizada através da reunião de um rico trabalho da carreira da banda. Fale um pouco sobre isso para nós.

Pedro Paixão – O “Lisboa Under The Spell” é um projeto de longa duração. As pessoas vão ter contacto com um DVD. A data de lançamento oficial é 17 de agosto, mas alguns, na pré venda já tiveram acesso ao material, que contém o álbum em áudio (ao vivo) e o DVD. Ele é baseado num concerto gravado no “Campo Pequeno” em Lisboa, nomeadamente numa sala que é uma praça de touros. E fazem muitos espetáculos lá. Tocamos 3 (três) álbuns na integra: O “WolfHeart”, o “Irreligious” e o “Extinct”. Tem cenas de vida real dos membros da banda e outras atrações. É um álbum memorável e é de certa forma, uma trilogia. Tivemos o cuidado em fazer uma grande produção, foi bem filmado e as gravações de áudio também; todas feitas pelo nosso produtor. E lançamos o álbum ainda este ano! Este material pode parecer “antiquado”, mas para as pessoas (fãs) é praticamente um documento quase que essencial.

 

V.M. – Terem usado o Wolfheart, o Irreligious e o Extinct tem a ver com o facto destes álbuns ajudarem na repercussão mundial da banda?

Pedro Paixão  – Os dois primeiros sim. O Extinct eu não diria, porque foi o ultimo álbum a ser lançado. Portanto, não foi por esse destaque. Eu acho que nós fizemos este trabalho com o primeiro e o segundo álbum, não apenas porque eram os que tinha mais projeção. Nem porque eram mais emblemáticos. Nem mesmo porque continham as musicas mais conhecidas dos Moonspell; mas sobretudo para todos ouvirem como nós interpretarmos ao vivo os temas daquela altura. Eu penso que hoje em dia nós temos uma interpretação mais interessante e mais atual. Não as tocamos de forma diferente, a não ser na expressividade e na forma como a voz do Fernando está. Esta diferente do que era. Em relação ao Wolfheart, a voz dele já é mais grossa. É uma voz mais endurecida. E também o Ricardo que não interpretou o Wolfheart, interpreta os temas com 5 integrantes, ao invés de 6. Enfim, acho que isso também foi uma motivação extra para a gravação.

 

V.M. – Este material foi gravado no formato 3 CDS, 1 Blue Ray e 1 DVD. Por que optaram por esse formato de publicação?

Pedro Paixão – Eu não sei bem o que é um Blue Ray. Acho que é um formato que tem mais informações e penso que é também mais definição. Não tenho habito de ver DVDs, só vejo ocasionalmente. Portanto não sou muito entendido disso. Sou mais apreciador de vinis mesmo.

 

V.M.– A ideia de criar um material extenso, foi feito também para agradar os colecionadores ou apreciadores, fás do Moonspell?

Pedro Paixão -Sim, de um modo geral, os colecionadores acabam por ter algum peso no mercado. A venda dos CDs estão divididas essencialmente entre alguns curiosos, mas no nosso âmbito, também há muitos colecionadores. As vezes eu acho que as gravadoras exageram até um pouco, com edições diferenciadas de um mesmo álbum, usando um pouco mais dessa adição, esse vicio do colecionador. Portanto para um colecionador essa peça é essencial, mas também para qualquer fã do Moonspell. Já tinhamos um DVD. Mas ele foi gravado sem o nosso controle, edição e produção; além disso não era “Ao Vivo”. Foi gravado na Polônia, por um produtor local. E a produção do atual é incrível!

 

V.M.– Você comentou sobre a voz do Fernando ter mudado, e a banda amadureceu também. Vocês utilizaram mais o apelo teatral no ultimo álbum 1775?

Pedro Paixão -Não posso concordar que o apelo teatral foi só agora. No inicio da banda o Wolfheart tinha um apelo muito forte, mas concordo em destacar que a temática do 1755 puxa mais para essa tendencia. No entanto, não acho que seja uma tendencia intrínseca à banda. mas é algo que temos sim, intrínseco à teatralidade. Isso tem sido sempre presente, mas não acho que vai progredir ou desenvolver. Não vamos usar no futuro mais e mais. Mas se acontecer, é porque vimos alguma necessidade e nós não somos temerosos à novidade musical, a novidade criativa, somos pessoas de facto muito abertas a novas ideias e também as que nos estruturaram, como a teatralidade.

 

V.M. – O Moonspell é uma banda muito apreciada no Brasil. O que você acha do público brasileiro? Se vocês gostam de ir la fazer os shows e como esse publico devolve à vocês o trabalho que fazem?

Pedro Paixão. -Pra já eu sou altamente apaixonado pelo Brasil. O Brasil me surpreendeu muito, principalmente, o seu pessoal. “Altamente” é “fixe” e “fixe” é “bacana“, sabe? Porque as pessoas lá tem muito mais auto-critica, do que os brasileiros que conhecemos como imigrantes. É tal e qual quando vejo portugueses na Suiça ou em França não são bem o “Portugues”, são os “Sobre -Portugues” já é um “Super Portugues”. Praticamente acordam, comem um chouriço e bebe um vinho tinto…É praticamente um exagero a nivel de Portugal e acontece muito com os  brasileiros que vemos em Portugal…Agora já está a ficar mais calmo. Mas lembro que houve uma grande fase, que foi marcante, e eu fiquei muito surpreendido positivamente porque o brasileiro, tal como o povo sul americano, tenho um imenso respeito pela cultura . Nos sentimos extremamente bem no Brasil porque as pessoas, como sabem que fazemos musica, agradecem mesmo que não gostem da nossa musica porque consideram que arte é muito importante. Nós sentimos essa prioridade e ênfase na arte, e isso é algo que nos faz sentir muito bem. São pessoas cultas, sensíveis e parecidas com os portugueses em muitos aspectos. Os brasileiros são para nós como os Estados Unidos para os Ingleses, tipo, um pais mais moderno em algumas coisas. Ao contrario  que alguns brasileiros pensam, Portugal é ate bem moderno hoje em dia. Mas é diferente, pois o brasileiro também se surpreende com  Portugal.

 

V.M. – Como imigrante posso dizer que é a mesma língua, mas com uma cultura diferente. Né?

Pedro Paixão.-Sim, mas o Brasil têm muito mais influências de outros países do que Portugal. Nós temos poucas influências e muito antigas, como os Árabes, os Hispânicos, Celtas em certa medida, as invasões Francesas….Mas isso é muito pouco comparado com o Brasil que tem japoneses, por exemplo… tem italianos e tem muita influencia dos Estados unidos, pela proximidade. O Brasil  as vezes se parece um bocado com os Estados Unidos e é engraçado ver essas diferenças.

 

V.M. – Voltando ao assunto da banda, vocês no início da carreira, nem poderiam ser classificados pelo gênero Doom Metal, porque talvez nem existisse isso na época. Vocês  se consideram “Doom”? qual a melhor definição ao estilo do Moonspell?

Pedro Paixão -Eu gosto quando nos catalogam como DARK METAL. Doom não somos. Temos uma passagem muito mais variada.Temos temáticas muito variadas. Tem uma raiz da Black Metal mas que não se expressa nos álbuns que nós temos… Eu acho que tem uma sonoridade no Gotico também, por ter influencia por Sister of Mercy, Fields of the Nephilim, etc mas assim, o estilo, eu prefiro o Dark Metal, que está entre o Black e o Gothic Metal.

 

V.M. – Tem alguma banda que vocês tem mais ligação ou admiração? São referências?

Pedro Paixão -Há muitas bandas com relação de amizade, admiração…claro que temos como o Tiamat, e tem os Type o Negative  que fizemos muito mais concertos do que podemos sonhar. e hoje em dia cruzamos com bandas com projetos interessantes como o Cradle of Filth, recentemente. Ontem tocamos com o Laibach, foi privilegio para mim, aqueles lituanos militarizados e portanto, nós ouvimos vários estilos , e vamos em festivais com outros gêneros…Já estivemos com o Echo and Bunnymen também.

 

V.M. – E banda brasileira, tem alguma que você conhece e destacaria?

Pedro Paixão -Eu gosto muito de Matanza. Eu e Fernando gostamos muito. O meu filho também é fã desta banda. Conhecemos o Marco, o guitarrista, em São Paulo. E também o Sepultura. O Fernando gosta muito de toda aquela gente da geração da Cogumelo em BH, em Minas Gerais. Tal como o Sarcófago. Não sou tao conhecedor. Conheço claro uns incontornáveis como o Tom Jobim, o que se houvia no tempo dos nossos pais.

 

V.M.- Queria q você mandasse um recado lá para os fãs do Moonspell e da Roadie Metal.

Pedro Paixão -Bom eu tenho um tio avô que vive no Rio de Janeiro e ele quando  vinha nos visitar a Portugal ele falava com minha pronuncia mas as palavras brasileiras. No caso,  ” Galera” , “Vai se pegar…no nosso estilo”…hahaha. Bem, Moonspell é uma banda sempre atual. Não somos uma banda só dos primeiros álbuns. Mas também vamos ao passado. Quando vamos ao Brasil, sentimos um interesse crescente e esperamos que isso continue e sentimos que os nossos fãs no Brasil são muito apegados às mesmas coisas que fazemos. E essa é a relação que queremos estabelecer com o Brasil. Obrigado Roadie Metal.

 

 

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