Muito se fala sobre Curitiba ser um celeiro para o rock, não só por conta da sua amálgama de bandas boas, mas por uma lenda que reina no imaginário brasileiro sobre o curitibano. Sim, aquele mesmo ser mitológico que não dá bom dia, está sempre com a cara fechada e ganhou status de crítico responsável por um sucesso ou fracasso de qualquer show.

A lenda “Ah, se der certo em Curitiba, dá certo em qualquer lugar” existe desde sempre. Não que seja verdade, muito menos inteiramente uma mentira. O difícil mesmo é “dar certo” em Curitiba.

Difícil, mas não impossível como bem demonstrou o Macumbazilla na sexta-feira do dia 10 de junho de 2022. (Que se incluam nos registros antológicos da história do rock!).

Aliás, pensando bem, só podia mesmo ser o Macumbazilla aquele a acabar com as lendas urbanas e criar uma noite tão perfeita.

Apesar de o Macumbazilla ser composto por três caras que respiram música (são inteligentíssimos, diga-se de passagem!), e tem seus nomes cravados na história, a verdade é que nada parece fácil na vida artística desse trio formado atualmente por André Nisgoski (vocal/guitarra), Carlos “Piu” Schner (baixo) e Júlio Goss (bateria). Pelo contrário.

É no mínimo curioso o buzz que a banda gerou em torno de si com três músicas lançadas no primeiro EP. Daqueles casos raros em que o público vai ao show e fica anos aguardando o novo lançamento.

E quando finalmente “At a Crossroads..” tem a chance de sair para o mundo, eis que surge a pandemia e toda a dificuldade e negação cultural que veio com ela. O que não diminuiu em nada o mérito do disco que foi consagrado pelos maiores veículos especializados em música pesada do país.

Então, claro, o lançamento de “At a Crossroads…” só podia contar com o Crossroads lotado. Aliás, melhor local impossível, sendo uma das mais tradicionais casas de rock que existe por aqui. E que se mantém firme e forte, tornando-se a casa de muitas gerações roqueiras e que admiravelmente busca sempre se inovar, sem perder a essência. Um clássico que nunca sai de moda, pelo contrário, torna-se cada vez mais relevante para a cidade.

Corram para as Colinas

Fotografia: Angela Missawa.

Quem embarcou na parceria dessa noite histórica foi a Corram para as Colinas. Parceria mesmo porque eles aproveitaram o burburinho para lançar seu novo clipe “Sufoco”, primeira atração da noite. A luz se apagou e ficou aquela sensação estranha de quem estava acostumado a olhar para o palco deveria olhar para o telão. Uma coisa meio art nouveau contemporânea. Intrigante e corajoso lançar um videoclipe dessa forma nos dias de hoje, em que tudo que parece importar são os likes e visualizações. Em que grandes lançamentos são feitos via live e com acompanhamento via chat, em que nada do que se é dito sobre realmente importa, apenas o que gera engajamento.

E essa definitivamente não é a pegada do Corram, como são carinhosamente chamados por aqui. Talvez sejam os anos de estrada ou a rebeldia genuína de se fazer o que acredita, algo que se reflete diretamente nas letras em português de Gustavo Slomp (Vocal/Baixo), Márcio D’Avila (Vocal/Guitarra) e André Wlodarczyk (Bateria).

O set list veio rápido, pesado, cheio de energia e porrada pura: “Dilúvio”, “Porco Vesgo”, “A Marcha”, “Capitão from Hell”, “Rival”, “Desalmado”, “Sufoco” e “Ratazana”.

Fotografia: Angela Missawa.

O show do Corram para as Colinas veio também cheio de coisas bem curitibanas e só quem mora na cidade vai compreender a essência desse comentário aqui: “Próxima música se chama Desalmado e quero dedicar aos meus amigos do Boqueirão. Esse tempo era muito bom e não volta mais. Fica só na lembrança. A todos desalmados que foram da boqueira ao largo.”, disse Gustavo.

Outra coisa que combina muito com o Corram para as Colinas é uma consciência que se expressa na música, porém, vai além. “Sei que o gole é legal, o role é legal, o flerte é legal, mas vamos valorizar as bandas.”, disse o baixista.

Macumbazilla

Fotografia: Angela Missawa.

Era quase uma hora da manhã quando o Macumbazilla subiu no palco. O público estava com as turbinas esquentadas, e sorrisos de orelha a orelha eram vistos em praticamente todos os rostos. Uma porque todo mundo que estava ali acompanhou a saga do trio e acabou se sentindo, ou melhor, fazendo parte da história. Então, no momento em que André, Piu e Júlio subiram ao palco, com certeza não estavam sozinhos.

E se o sucesso tem uma receita, certamente é essa, uma espécie de felicidade compartilhada. Quando o brilho nos olhos do artista refletem os do público e vice-versa. “Muito obrigado por vocês existirem. A gente não ia estar aqui se não fosse por vocês!”, disse o frontman “Nisga”.

Mas o momento bonitinho está só aqui no texto, porque na vida real foi muita pancadaria e energia lá no alto. Ainda mais porque eles começaram com “Colossus”, seguida por “Hellhounds” e “Seize The Day”, com direito ao André tocando no meio da galera. (Não, espera aí que isso aconteceu mais tarde!)

Para “Blood Beer and Broken Teeth”, eles chamaram o multi talentoso Danilo Cardozo, que tocou teclado em diversas faixas como a dobradinha “Blondie Phantom” e “Rebel Yell” (do Billy Idol) que veio na sequência.

Muita gente pergunta ‘por que o nome é Macumbazilla’. Primeiro porque a gente tem orgulho de ser brasileiro e é difícil ser brasileiro nessa porra desse planeta. E não tem nada mais brasileiro que a Macumba, nem o Pelé é mais brasileiro que a Macumba.”, contou o vocalista que emendou com uma ideia de que a banda gosta mesmo é de contar histórias com aquele fundinho de verdade.

Fotografia: Angela Missawa.

Essa música inclusive é uma lenda curitibana. O pai do Piu era repórter na época, ele cobriu essa história, verdadeira essa história, e trata sobre a lenda que a galera fala da loira fantasma, essa porra é nossa, é de Curitiba essa história.”, revelou a verdade por trás da música “Blondie Phantom” e a escolha por retratar essa lenda, afinal, nada no Macumbazilla é por mero acaso.

Na sequência vieram “Ladies From Mars”, a oficialmente primeira música escrita e que quase ficou de fora, além de “Zombie” com vocais de Marina Costa.

E, bem, já que sexta-feira é o dia oficial de ‘sair’, nada mais justo do que o convite que veio na sequência: “Sábado é o dia perfeito pra gente ficar de Ressaca. Então vamos encher a cara, carvalho.”, anunciou André com o que viria a ser a “Leave My Beer Alone”. E agora sim ele foi para o meio da galera tocar e bater cabeça, um clássico headbanger.

Na sequência vieram: “The Enemy”, “Poor Devil”, “Dark Hordes”, “Feeling” e “Slow”. E eles também falaram do apoio do Crossroads para o show, e a importância disso, que muitas vezes pode passar despercebida, mas não para o Macumbazilla. “Não é todo mundo que apoia, um bar com essa estrutura que apoia o metal nacional.”, disse o frontman, que emendou com um agradecimento pessoal ao Ale Reis, dono do lugar. “Alessandro, obrigado pela parceria de quase 20 anos”.

Fotografia: Angela Missawa.

E seguindo a linha clássicas de setlist, a tão conhecida “The Ritual” ficou para o final. Como finalizar uma noite com tanta energia? Ou melhor, como deixar essa noite registrada na mente do público? A resposta é “Morningstar”. Impossível ouvir essa balada e não cantar junto, abraçando a pessoa mais próxima, inclusive (conhecida ou desconhecida).

Ninguém sabe muito bem como definir a tal receita do sucesso, mas se tivesse uma lista, com certeza, Macumbazilla entregou todos os requisitos no lançamento de “At a Crossroads…” no Crossroads, na fria noite do dia 10 de junho, em Curitiba.

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