Colaborou: Fábio Miloch (Metal Na Lata)

Eis que a mais maldita das colunas está de volta em seu oitavo capítulo. Como sempre, a coluna Funeral Doom Metal traz as novidades, as histórias e as curiosidades do estilo que se caracteriza como uma das formas mais extremas de música. Se você notou a demora, deve rememorar o que este colunista, o Discípulo do Doom, sempre afirma: se você consegue esperar o tempo entre duas batidas no caixa da bateria de um Funeral Doom, consegue esperar o tempo entre dois episódios desta famigerada coluna.

Pois bem. Há quase três meses foi publicado o último episódio do “Funeral Doom” e lá adiantávamos o novo lançamento de uma das instituições do estilo extremo, o Evoken.

HYPNAGOGIA

Lançado oficialmente no último dia 09 de novembro pela gravadora Profund Lore Records, Hypnagogia traz de volta toda a imponência e majestade de uma das pioneiras do Funeral Doom/Death Metal. Em seu sexto álbum de estúdio (lançado após seis longos anos de espera desde Atra Mors), a banda formada atualmente por John Paradiso (vocais, guitarras), Vince Verkay (bateria), Don Zaros (teclados), David Wagner (contrabaixo) e pelo novato Randy Cavanaugh (guitarras) entrega o que se espera da banda: um Funeral Doom/Death pesado e imponente, com os traços imarcescíveis do Death/Doom noventista que são o molho para temperar a essência mórbida e sufocante da sonoridade do grupo, marcas registradas do Evoken. Os vocais de John Paradiso continuam em dia e a condenar os pobres e moribundos ouvintes de sua música a eterna condenação.

O single Valorous Consternation já havia mostrado com antecedência que a veia Death Metal podre e nauseabunda à la Autopsy ainda fazia parte do sistema vascular do Evoken, mas faixas como Schadenfreunde são a prova que a banda também faz músicas com um toque de beleza e calma, não tão negra, mas da mesma forma impactante.

A engenharia de som de Hypangogia ficou a cargo (não, não foi do Bumblefoot, o que repetiria uma das parceria mais ortogonais do Metal) de Steve DeAcutis, que já trabalhou, dentre outros nomes, com a veterana banda TT Quick, cujo um dos fundadores foi o vocalista Mark Tornillo, hoje a voz do Accept. Já a clara, mas melancólica, arte de capa foi elaborada por Adam Burke, que recentemente trabalhou com bandas como Pagan Altar e Sólstafir.

Ajoelhai-vos e curvai-vos ante a majestade do Funeral do Evoken!

AS LUZES DO INFERNO SE ACENDEM

Outro aguardabilíssimo lançamento do estilo ultralento musical finalmente viu a luz do dia. Através da conceituada Solitude Productions, os brasileiros do HellLight lançam seu sexto álbum de estúdio, As We Slowly Fade. Bandas como o HellLight fazem parte de um seleto grupo (no qual o Evoken também faz parte, diga-se de passagem) de bandas que, mesmo antes de lançarem seus álbuns, já temos certeza que o resultado não será menos que excelente.

O álbum traz o Funeral Doom que só a banda liderada por Fábio de Paula (vocais, guitarras), sabe fazer: lento, denso e pesado, como a cartilha do estilo ensina, mas sem deixar de lado o DNA brasileiro do Metal, que traz em si zelo pela questão técnica e pelo bom-gosto de arranjos, que se mostram bastante variados e adornados com vários solos de guitarra. Além, é lógico, pela polidez e nitidez do som muito bem mixado, balanceado peso e atmosfera de forma exuberante.

Outro destaque vai para os vocais limpos de Fábio, cuja interpretação lembra bastante a de uma saudosa voz, a de Warrel Dane, a Voz do Desespero, que nos deixou em dezembro último. Além de Fábio de Paula, formam o HellLight atualmente o baixista Alexandre Vida e o baterista Renan Bianchi.

Detalhe: a capa de As We Slowly Fade, criada por Rodrigo Bueno, é uma séria candidata a melhor arte de capa do Metal mundial em 2018.

AKRESCENTE UM “A.K.” NO NOME DA LENDA RUSSA

Tá, esse trocadilho foi horrível. Juhani Palomaki está se retorcendo em sua sepultura agora. Mas é porque até no necro-mundo do Funeral Doom existe briga por nome de banda. Aconteceu recentemente com os russos do Comatose Vigil.

A banda foi fundada em 2003 na capital Moscou por Andrey “iEzor” Karpukhin (bateria, vocais) e por Alexander “ViG’iLL” Orlov (guitarras, teclados), tendo seu fim decretado em 2016. O primeiro decidiu reativar a banda neste ano, porém o segundo o impediu de usar o nome “Comatose Vigil”. Pois muito bem. Karpukhin pegou o velho nome e acrescentou um “A.K.” (a sigla já fazia parte do pseudônimo artístico de Karpukhin) como sufixo. Desta forma, o que existe agora é o Comatose Vigil A.K.

Agora revigorado e em formato power-trio (Funeral Doom power trio?), iEzor conta para ajudá-lo nesta nova empreitada com ninguém menos que David Unsaved, uma das mentes do Ennui, como responsável por toda parte harmônica da banda. Para a bateria foi trazido o norte-americano John Devos (Mesmur, Blood Atonement). A verdade é que “estabilidade” nunca fez parte do vocabulário do Comatose Vigil. Idas e vindas marcam a história do grupo. Quando parecia que o fim e a morte eram certos, iEzor foi lá e ressuscitou o monstro.

E que monstro poderoso! Pelo que foi revelado até agora de seu novo álbum, o Comatose Vigil A.K. surge revigorado (fez diferença a entrada de David Unsaved) e com fome de dominação. Assim como Ungoliant, a gigantesca aranha que se alimentava de luz e deixava um rastro de escuridão e maldição na pré-histórica Terra-Média de Tolkien, é o Comatose Vigil A.K. Toda luz e esperança se esvaem quando seu som pesado e cinza-plúmbeo começa a tocar e ocupar todos os espaços, fazendo restar somente trevas e desespero, ou não fazendo restar nada. Evangelium Nihil, a estreia do Comatose Vigil A.K. (ou o novo álbum do Comatose Vigil, se você preferir pensar assim), será lançado oficialmente no próximo dia 14 de dezembro via Non Serviam Records.

NOVIDADES DA ALEMANHA

Sinister Downfall. O nome parece ser de banda grega de Thrash Metal, mas na verdade ele batiza uma das novas revelações alemãs do gênero lentíssimo e maldito, guiado unicamente por Eugen Kohl. A banda lançou recentemente seu debut, o ótimo Eremozoic. Composto por quatro faixas que totalizam um confortável full-time de 41 minutos, Eremozoic apresenta um Funeral Doom sem muitas novidades, mas muito bem-feito de muito bom-gosto. Melódico e pesado, o Funeral Doom do Sinister Downfall é adornado cavernosamente pelos vocais de Kohl, que mais parecem distantes agouros de titãs aprisionados nos mais profundos calabouços do inferno, e pelas linhas de guitarras limpas e de teclado que se misturam em meio ao caos provocado pela densa parede de guitarras distorcidas.

Eremozoic foi lançado no dia 28 de novembro graças a uma parceria entre as gravadoras Funere (Armênia) e Weird Truth Records (Japão). Disponível na íntegra no Youtube, não há desculpas para você não conhecer hoje mais esta manifestação de dor e impiedade do Funeral Doom.

E lançamento foi o que não faltou neste ano de 2018 dentro do submundo cataclísmico do Funeral Doom Metal. No derradeiro capítulo desta coluna será feito um resumo dos álbuns que foram disponibilizados este ano, que, por sinal, foi muito bom e que fez a alegria de todos os guerreiros fãs do gênero ultralento.

A alegria, ou embalou a tristeza e as noites frias daqueles que adotam o Funeral Doom como trilha sonora de suas introspecções e viagens ao centro da alma. Stream the Funeral!

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