Colaborou: Fabio Miloch (Metal na Lata)

A coluna “Funeral Doom” está de volta trazendo novidades e curiosidades sobre o gênero ultralento e monolítico da música pesada.

Como foi prenunciado na última edição desta coluna, uma das instituições pioneiras do estilo está de volta este ano com um novo álbum de estúdio, o primeiro após seis anos de silêncio.

O RETORNO DO EVOKEN

Mas, aqueles que gozam da paciência de ouvir um Funeral Doom “casca-grossa” podem esperar seis anos por um novo álbum de uma das lendas do estilo.

O Evoken tem uma longa tradição e um imenso respeito no cenário Doom Metal mundial não só por ser considerada uma das pioneiras do Funeral Doom, mas também por ser praticante de um Death/Doom sufocante e mortal e que não deixa de lado a veia Death Metal mais tradicional. Com cinco álbuns de estúdio em sua discografia, chama a atenção a curiosa e até mesmo inusitada relação da banda com o guitarrista Bumblefoot, atual Sons Of Apollo e ex-Guns n’ Roses, tendo em vista que o músico produziu os três primeiros álbuns do Evoken. O novo álbum do grupo, Hypnagogia, tem data de lançamento prevista para o dia 09 de novembro. Todavia, a gravadora Profund Lore Records já disponibilizou o primeiro single deste álbum, Valorous Consternation, em suas contas no Bandcamp e no Youtube.

E o que se nota nesta música é que o Evoken está de volta com força total e trazendo consigo todos os elementos que o fazem ocupar o posto de lenda do Funeral Doom, bem como do Doom Metal em geral. Como criadores inconscientes do estilo, a banda não dedica 100% de sua musicalidade aos andamentos extremamente arrastados, mostrando zelo também com sua veia Death/Doom mais tradicional e mortal. Em Valorous Consternation, o Evoken perpassa pelo Funeral Doom lento e sufocante até momentos Death Metal velozes e nauseabundos, como ensinado pelo Autopsy, tudo em pouco mais de oito minutos.

Aqueles que acompanham o estilo com afinco e que gostam de elaborar listas com as melhores bandas e álbuns do ano, este escriba sugere aguardar até novembro e de preferência com um lugar vago em seu rol, pois o Evoken virá com cadência e força para ocupar um posto de destaque de 2018. Evoken é John Paradiso (vocais, guitarras), Randy Cavanaugh (guitarras), David Wagner (contrabaixo), Don Zaros (teclados) e Vince Verkay (bateria).

Evoken

CLÁSSICO DEBUT DO SKEPTICISM RELANÇADO

Outra banda pioneira do Funeral Doom Metal também anunciou novidades nos últimos dias. Considerada uma das primeiras bandas do estilo, os finlandeses do Skepticism irão relançar em vinil seu debut Stormcrowfleet, originalmente datado de 1995 e que ocupa um capítulo na cartilha básica do Funeral Doom. Em contraponto aos conterrâneos e contemporâneos do Thergothon, que praticavam Funeral Doom estrangulante com o odor fétido do Death Metal, o Skepticism inaugurava em Stormcrowfleet a linha mais atmosférica e épica do estilo lentíssimo, adornada por teclados, bases de guitarras cheias e até mesmo baquetas para tímpano sendo usadas para tocar o caixa da bateria, criando assim um som mais cheio, abafado e distante.

O relançamento de Stormcrowfleet está sendo viabilizado pela gravadora Svart Records e traz em seu conteúdo o álbum remixado diretamente das másters originais. Na verdade, a banda declarou que a intenção não era bem dar uma nova mixagem para o debut, mas sim oferecer o autêntico som da banda trabalhado com melhores equipamentos. Em termos de arranjos, nada foi alterado, a menos na faixa The Gallant Crow, que ganhou uma introdução acústica que existia originalmente, mas que não fora registrada em 1995.

CLOUDS E SEU CONCURSO DE VOCALISTAS

Um dos nomes que mais vem chamando a atenção do cenário Doom Metal mundial é o Clouds. Apesar de não ser em sua essência uma banda de Funeral Doom (sua proposta é mais direcionada ao Atmospheric), seu line-up reúne alguns dos músicos mais importantes do estilo ultralento europeu. Um super-grupo de Doom Metal, se é que você prefere denotar a banda desta forma. O mentor do projeto trata-se do músico romeno Daniel Neagoe, que é baterista de bandas como Shape Of Despair, Pantheist e Eye Of Solitude, dentre várias outras. Neagoe personifica o Clouds em estúdio, tendo em vista que ele grava todos os instrumentos sozinho. Ao vivo, o Clouds se transforma em uma entidade completa, com músicos oriundos de outras bandas como os conterrâneos do Descend Into Despair. Além da sonoridade etérea, atmosférica e introspectiva, o Clouds tem também como atrativo os convidados que gravam os vocais das músicas. Várias vozes reconhecidas do Funeral Doom e do Death/Doom já deixaram registradas suas marcas guturais ou limpas em músicas do Clouds, como Kostas Panagiotou (Pantheist), Pim Blankestein (Officium Triste) e Jón Aldará (Hamferð), bem como o guitarrista Déhà (mil bandas) e o baterista Anders Eek, do Funeral e do Fallen.

Bastante ativa e solícita em suas redes sociais, o Clouds lançou em julho uma proposta em alusão ao seu novo álbum que está sendo gravado no momento: um concurso de vocalistas, que visa escolher duas vozes que irão participar de uma das novas músicas do super-grupo. O candidato entra em contato com a banda pelo Facebook e recebe da banda o instrumental pronto de uma nova música. Em cima dela o cantor tem total liberdade para criar uma letra e gravar seus vocais. Desde vocais líricos femininos até guturais cavernosos típicos do Funeral Doom (até mesmo uma mulher com vocais agudos de Black Metal está na parada), vários postulantes à vaga de cantor convidado já lançaram suas versões, que são tão logo disponibilizadas pela própria banda para apreciação dos fãs, cuja opinião terá peso determinante para a escolha dos vencedores. O interessado em ser a voz do Clouds em uma música têm até o dia 15 de setembro para enviarem suas versões para a banda.

Enquanto este pleito não se resolve, confira a seguir o clipe da nova música do Clouds, Dór. Esta sim, completa e com vocais. Kostas Panagiotou, o líder do Pantheist, aparece como ator no clipe, tentando se libertar das lembranças e da saudade de alguém que já se foi, mas que insiste em rondar sua mente até roubar-lhe de vez a sanidade mental.

https://www.youtube.com/watch?v=ruDAlbQ5hjw

PROFUNDO FUNERAL DO ENNUI

Oriunda da Georgia um dos novos nomes do Funeral Doom mundial, o Ennui. Apreciar a música deste duo composto por David Unsaved (vocais, guitarras, teclados) e Serj Sengelia (guitarras, teclados) é como se sentar de costas a uma muralha pré-histórica e intacta, numa paisagem desolada e mal iluminada pelo céu escuro coberto de nebulosas escarlate. Seu som pode ser caracterizado como um amálgama do bom gosto técnico e sonoro do Ea ou do saudoso Colosseum com as repentinas mudanças de andamento do Esoteric.

Em seu mais recente trabalho, End Of The Circle, o Ennui presenteia e tortura os fãs da banda com três faixas que, reunidas, superam a marca de uma hora e doze minutos de duração. Somente a primeira faixa, a que dá nome ao álbum, é um grandioso e imponente monólito sonoro de meia hora, que transita do mais lento Funeral Doom até o mais veloz e tempestuoso Death Metal, temperado com algumas passagens Doom melódicas à la Paradise Lost. A ótima produção e mixagem, que deixou todos os instrumentos bastante nítidos aos ouvidos, aumenta o interesse por ouvir este álbum em sua completude, além, é lógico, da criatividade das composições que empolgam o ouvinte. Ouvindo com a devida concentração, os andamentos lentos não incomodam de forma alguma, pois tudo foi criado com esmero e perícia. Ponto também para o baterista de estúdio, John Devos, que apresenta o melhor de sua técnica adaptada à situação em marcha lenta das composições.

As outras duas faixas do álbum compartilham o mesmo nome, The Withering, pois ambas estão lírica e umbilicalmente ligadas por um mesmo conceito. End Of The Circle, o quarto álbum de estúdio do Ennui, foi lançado via Non Serviam Records. Corra para ouvir e não se preocupe que você terá tempo suficiente e trilha sonora confortáveis para descansar. Em paz.

Ennui

FUNERAL DOOM DE PERNAMBUCO

A banda pernambucana Under The Gray Sky está em estúdio registrando seu novo trabalho de estúdio. O grupo promete trazer um Funeral Doom negro, melódico e profundo, porém audível para ouvidos menos treinados à marcha fúnebre do estilo. Enquanto maiores novidades não surgem (a banda está sempre atualizando suas redes sociais; fique de olho), confira o single In Limit Of Soul, lançado em 2016. Criar um estilo tão introspectivo e mórbido em uma região conhecida pelo calor é para poucos e para os fortes.

Ouça tudo que foi listado nesta coluna de hoje. Será tempo suficiente até a nossa volta. Stream the Funeral!

 

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