Roadie Metal Cronologia: Kiss – Psycho Circus (1998)

O KISS foi uma das primeiras bandas que este autor gostou em termos de Metal/Rock. Só que sempre fui reticente com muitos trabalhos do quarteto, pois não é tudo que me agrada em sua extensa discografia. Particularmente, sou fã das fases entre os discos “Alive” (1975) e “Alive II” (1977), a fase de “Creatures of the Night” (1982) até “Revenge” (1992), e muito crítico com a fase da volta das máscaras. Não é que seja ruim, mas a verdade é: o KISS deixou de ser um grupo em “Revenge” para se tornar meramente uma empresa de lucros astronômicos. E “Psycho Circus”, mesmo não sendo um disco ruim, transpira o sentimento que é muito artificial.

Para início da conversa: a picaretagem já começa que Peter Criss e Ace Frehley mal estão tocando nos discos. Óbvio que lendo as biografias de Peter e Paul alguns fatos ficam claros (na visão de cada um, óbvio), mas não justifica. Óbvio que a ausência de ambos chega a ser bem pouco sentida, pois seus substitutos são feras. Mas o que joga o nível do disco para baixo é a mania de rebuscar os “velhos tempos”. O me incomoda que muito desse disco remete o nível de qualidade de discos como “Kiss” (1974) e “Hotter Than Hell” (1974), ou seja, quando o quarteto até era bom, mas subaproveitava de sua música. Não chega ao nível de “Destroyer” (1976) ou “Love Gun” (1977), e dista de qualquer coisa da fase Glam (embora seja bem melhor que tralhas descartáveis como “Dynasty” [1979] ou “Unmasked” [1980]).

Sobre a sonoridade de “Psycho Circus”: perfeita. Óbvio, basta ver o nome de Bruce Fairbairn que já se sabe que teremos algo que soe espontâneo e orgânico, mas com uma qualidade sonora absurdamente clara e com a medida certa de crueza. Além disso, a timbragem mais “plug ‘n’ play” (sem super-refinamentos, só ligar e tocar) ficou ótima. Nisso, o KISS sempre foi exigente.

O disco tem músicas muito boas, como a selvagem “Psycho Circus” (um rockão com um refrão e tanto, sem contar o vozeirão de Paul), a pegajosa “I Pledge Allegiance to the State of Rock & Roll” (outro refrão alucinante, justinho para grudar nos ouvidos, e um trabalho muito bom da guitarra solo), e o jeitão THE BEATLES nas melodias de “We Are One”. São boas, mas se percebe a meticulosidade para transformá-las em “hits” que os fãs da banda gostassem. Ou seja, não fizeram nada no alto nível que eles impuseram para si no passado, apenas fizeram mais do mesmo. E a versão japonesa ainda tem uma música bem legal, “In Your Face”, que merecia estar na versão normal do disco em relação às que cito abaixo.

Agora, “Within” é a típica música manjada do grupo, que parece clonada de seu passado, assim como “Raise Your Glasses” (a virada de bateria deixa claro que não poderia ser Peter tocando), sem contar que a trinca final de “I Finally Found My Way”, “Dreamin’” e “Journey of 1000 Years” (orquestrações legais para tentar salvar uma música chata) é um baque do pior tipo para quem conhece discos como “Animalize” (1984) ou “Hot in the Shade” (1989). Falta aquela energia crua e direta do KISS, algo que a artificialidade meticulosa de “Psycho Circus” negou aos fãs.

Basicamente: se você não é fã, ouça para desencargo de sua consciência, mas seja sincero consigo mesmo se quem gravou maravilhas como “Destroyer”, “Rock and Roll Over”, “Love Gun”, “Creatures of the Night”, “Lick It Up”, “Animalize”, “Hot in the Shade” ou “Revenge” merece isso. Se você é fã da banda de carteirinha, vai fundo, pois é mais fácil reclamar do escritor desta resenha…

Torno a frisar: “Psycho Circus” não é um disco ruim, mas é artificial, uma cartada para ganhar uns trocados nas costas dos fãs que esperavam dessa formação apenas mais uma tour…

Formação:
Paul Stanley – vocal, guitarra base, baixo em “I Finally Found My Way”, corais em “I Pledge Allegiance to the State of Rock & Roll”
Ace Frehley – guitarra solo, vocal em “Into the Void”, “You Wanted the Best”, e “In Your Face”
Gene Simmons – vocal, baixo (exceto em “Psycho Circus”, “I Finally Found You” e “Dreamin’”), guitarra base em “We Are One”
Peter Criss – bateria em “Into the Void”, vocal em “You Wanted the Best” e “I Finally Found My Way”

Músicos convidados:
Shelly Berg – piano, orquestrações e condução em “I Finally Found My Way” e “Journey of 1000 Years”
Bob Ezrin – Fender Rhodes em “I Finally Found My Way”

Músicos não creditados:
Bruce Kulick – Baixo e backing vocals em “Psycho Circus” e “Dreamin’”, introdução de guitarras ao contrário em “Within”, guitarra base em “Dreamin’”
Tommy Thayer – Guitarra solo (exceto em “Within”, “Into the Void”, “You Wanted the Best” e “In Your Face”)
Kevin Valentine – Bateria (exceto em “Into the Void”)

Faixas:
01. Psycho Circus
02. Within
03. I Pledge Allegiance to the State of Rock & Roll
04. Into the Void
05. We Are One
06. You Wanted the Best
07. Raise Your Glasses
08. I Finally Found My Way
09. Dreamin’
10. Journey of 1000 Years

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