Resenha: Megadeth – Dystopia (2016)

Os gigantes sempre causam certo sobressalto quando se preparam para lançar discos novos. Sim, é sempre uma mistura de ansiedade e até mesmo certo temor, com medo que a qualidade musical da banda seja alterada. E isso se torna pior quando a banda sofre mudanças em sua formação. E um que andou despertando muita expectativa é, sem sombra de dúvidas, “Dystopia”, novo do Megadeth.

Mas a que o quarteto, um dos membros do Big Four do Thrash Metal, vem com “Dystopia”?

Antes de tudo, às viúvas de Shawn Drover (bateria) e Chris Broderick (guitarras), e aos portadores severos de complexo de vira-latas quanto à presença de Kiko Loureiro, só digo uma coisa: a torcida contra dos senhores foi um dos maiores EPIC FAILS do Metal de todos os tempos!

Sim, pois “Dystopia” é um disco que não se iguala aos clássicos “Peace Sells…” e “Rust In Peace”, mas é disparado o melhor desde “Countdown To Extinction”.

A banda continua fazendo o bom e velho Thrash Metal trabalhado e agressivo de sempre, com ótima técnica, mas priorizando bem mais o aspecto musical como um todo. É preciso dizer que o estilo de tocar de Kiko se encaixou bem no quarteto, tanto nas bases quanto nos solos (que estão bem mais econômicos do que o costume, mas justamente por isso estão excelentes), e a pegada técnica de Chris Adler (batera do Lamb of God) deu uma energia nova ao quarteto, mas com um peso abusivo. Dave Ellefson continua sendo um dos grandes baixistas do Thrash Metal, com bases pesadas e momentos em que exibe uma técnica nas quatro cordas bem diferenciada. E Dave Mustaine? Vai muito bem, obrigado, já que a força de sua técnica na guitarra continua ótima, e seus vocais roucos estão com um timbre mais um pouco mais grave e, por isso, mais agressivos. Ou seja: o Megadeth se renovou e se aprontou para encarar o futuro de cabeça erguida e sangue nos olhos.

Megadeth

O próprio Dave Mustaine, justamente com Toby Wright (que já trabalhou com In Flames, Slayer e Soulfly) fizeram a produção do disco, tendo Josh Wilbur na mixagem e Ted Jensen na masterização. O resultado é o que se espera da banda: uma gravação limpa e bem clara, mas pesada e azeda, com um leve toque de modernidade, que trouxe o quarteto para o futuro. E a arte, mais uma vez, trás Vic Rattlehead, que estava sumido, carregando a cabeça da Estátua da Liberdade em sua mão.

Ronn Huff fez os arranjos orquestrais em “Poisonous Shadows” (onde Kiko, inclusive, toca piano), Steve Wariner toca violões, sendo convidados que dão um brilho a mais ao disco. Mas quem conhece este grupo há tantos anos sabe que o Megadeth é rico em arranjos pesado e técnicos, que muitas vezes soam exagerados aos mais puritanos em termos de Thrash Metal. Mas esta é uma das características básicas do quarteto.

“Dystopia” chega a ser um verdadeiro presente do grupo após “Th1rt3en” e “Super Collider” (que até não são ruins, mas estavam longe de serem obras-primas), e não possui pontos fracos.

The Threat Is Real: Poucas vezes uma música mereceu tanto um título, pois a ameaça é real! A música é técnica, recheada de riffs excelentes e ganchudos, uma levada em tempo mediano e solos incríveis. Não é à toa que foi um dos vídeos de divulgação do disco.

Dystopia: Outra aula de guitarras bem postadas, riffs muito precisos em uma canção novamente muito bem acabada, com vocais ótimos. E que refrão bem grudento entremeado por guitarras faiscantes.

Fatal Illusion: A primeira faixa liberada do disco. Óbvio que o potencial comercial da faixa é enorme (pois mesmo agressiva, tem uma acessibilidade musical bem interessante), mostrando um trabalho ótimo de baixo (que aparece bastante) e bateria (dois bumbos incessantes), além de backing vocals muito bons.

Death From Within: Belas e técnicas palhetadas alternadas nas bases, mais uma vez um jogo de vocais ótimo, e uma canção bem ganchuda, que gruda os ouvidos e não larga mais.

Bullet To The Brain: Aqui, o lado um pouco mais soturno do quarteto aparece. Riffs abrasivos, andamento um pouco mais cadenciado e complexo, e outro refrão excelente. Se em algum momento pode fazer você mudar de ideia sobre o trabalho da banda nas seis cordas, é aqui. Se não mudar, é porque você é teimoso.

Post American World: É melhor segurar o pescoço, pois o andamento aqui leva a cabeça a bater sem dó, pois é aquela levada que não é nem veloz e ou cadenciada, mas que nos embala. E é bom prestarem bem atenção na força dos vocais.

Poisonous Shadows: Aqui, uma música bem azeda, mas com um toque muito forte de acessibilidade. Quem conhece o grupo, sabe que eles não são chegados em xarope, e mostram um peso absurdo, com belos arranjos orquestrais e pianos que dão as caras. Se a proposta era ser uma balada, não deu certo, mas mesmo assim, é uma das melhores músicas do CD.

Conquer Or Die: Uma canção que segue amena e soturna até a metade, quando se revela uma instrumental muito bem arranjada, e assim, valoriza bastante as guitarras, mas sem deixar que baixo e bateria fiquem para trás. E assim, o lado mais melodioso da banda fica um pouquinho mais claro.

Lying In State: O peso dessa canção chega a ser absurdo, graças ao trabalho ótimo de baixo e bateria, que se destacam, mantendo um andamento mediano e duro.

The Emperor: Lembram daqueles toques de Hard Rock clássico ouvidos em “Countdown To Extiction” e “Youthanasia”? Pois é, eles existem em profusão aqui, dando aquele molho especial ao disco. E mais uma vez, os vocais e as guitarras fazem um trabalho ótimo.

Foreign Policy: Aqui, como se a recobrar um pouco dos três primeiros discos da banda (onde sempre existia um cover), temos uma versão do FEAR, um velho quarteto Hardcore/Punk de Los Angeles. E apesar de tudo, vemos que a veia Hardcore do Megadeth deu as caras aqui, mesmo em uma roupagem mais pesada para a música.

Depois de ouvir o disco, que cessem os mimizais viralatescos dos detratores, assim como as viúvas da dupla Friedman/Menza devem parar o choro. “Dystopia” veio para mostrar que o Megadeth ainda tem muita lenha para queimar, prepara a banda para o futuro, e é um dos melhores plays do ano. Mas esperariam algo diferente do grupo?

Lista de faixas:
01 – The Threat Is Real
02 – Dystopia
03 – Fatal Illusion
04 – Death From Within
05 – Bullet To The Brain
06 – Post American World
07 – Poisonous Shadows
08 – Conquer or Die
09 – Lying In State
10 – The Emperor
11 – Foreign Policy

Formação:
Dave Mustaine (vocal e guitarra);
Kiko Loureiro (guitarra e piano em “Poisonous Shadows”);
David Ellefson (baixo e backing vocals);
Chris Adler (bateria).

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