Blaze Bayley: cantor concede entrevista exclusiva a Roadie Metal

Blaze Bayley sempre acreditou muito no poder de seu trabalho-solo a ponto de pouco recorrer à músicas do Iron Maiden para compor o set-list de seus shows. Após quase duas décadas desde que deu início à sua carreira solo, finalmente Blaze Bayley presenteia seus fãs com um show especial que aborda exclusivamente sua fase no Iron Maiden. Esta turnê, que teve início em festivais europeus na segunda metade deste ano, é feita em celebração aos 25 anos da entrada de Blaze Bayley na banda de Steve Harris. Agora, o “Messiah” virá ao Brasil apresentar este show em várias cidades no mês de janeiro de 2020. Mas ele garante: esta será a última vez em que ele tocará tantas músicas do Iron Maiden em um único show. Nesta entrevista concedida com exclusividade a ROADIE METAL, Blaze explica sua forte relação com seus fãs brasileiros, dá detalhes de como serão os shows no Brasil e revisita um pouco de seu passado, em especial as suas superações em relação a sua saúde mental.

A turnê especial rememorando os 25 anos de sua entrada no Iron Maiden começou na segunda metade deste ano em vários festivais europeus. Agora você traz este show especial para apresentá-lo aos seus fãs brasileiros. O set-list nos festivais obviamente tinha que ser mais curto. Tendo isso em vista, que tipo de mudanças neste show você está preparando com sua banda para as apresentações no Brasil?

Blaze Bayley: Eu espero acrescentar mais músicas ao set-list em relação ao dos festivais. A grande diferença serão os meus maravilhosos fãs brasileiros. Eles sempre dão uma nova vida às músicas. Eu mudei levemente alguns arranjos nas músicas em relação às versões originais dos álbuns. Nestes 25 anos minha voz mudou bastante. Eu sinto que meu canto está mais forte do que nunca e o meu alcance vocal aumentou muito.

Você costuma vir ao Brasil quase todos os anos, seja com sua banda, seja com Thomas Zwijsen (N. do R.: violonista que o acompanha em suas apresentações acústicas), sempre passando por todas as regiões de nosso país. Apesar disso, frequentemente vemos comentários vindos de brasileiros em suas redes sociais te elogiando e pedindo para você voltar. Como você se sente sendo tão bem tratado pelos seus fãs brasileiros? Você sente o mesmo tratamento por parte de seus fãs de algum outro lugar do mundo?

Blaze: O Brasil e os meus fãs brasileiros sempre tiveram um lugar especial em meu coração. Sou muito sortudo em ter um apoio tão maravilhoso. Eu viajei por todo o seu maravilhoso país e toquei em várias cidades que nunca receberam um show de outro artista internacional. Eu sempre fui tratado como um amigo e as pessoas daí sempre fazem-me sentir muito bem-vindo. A minha primeira esposa foi uma brasileira muito linda.

Você teve alguma conversa com Steve Harris a fim de obter permissão para tocar as músicas desta turnê? Se sim, como foi esse contato?

Blaze: O tenho permissão do Iron Maiden para tocar qualquer música. Eles sempre foram muito amigáveis comigo e apoiam a minha carreira desde que eu deixei a banda. Eu não vejo Steve frequentemente. Nós dois estamos sempre ocupados em diferentes partes do mundo, também com gravações e entrevistas.

Está é sua primeira turnê desde 2000 em que você foca predominantemente em sua era no Iron Maiden. Sempre em seus shows, a maior parte do set-list é destinada aos seus álbuns-solo, com poucas músicas do Iron Maiden. Isso sem contar as suas eventuais reuniões com o Wolfsbane. Você cogita a possibilidade de fazer mais uma turnê de “volta no tempo”, desta vez focando em seu material solo dos anos 2000, por exemplo?

Blaze: Esta turnê de 25 anos será a última vez em que eu faço um show somente com músicas do Iron Maiden. Muitos fãs da banda de 20 anos atrás sequer sabem que eu tenho uma carreira solo. Alguns fãs mais novos nunca me viram tocar aquelas músicas ao vivo. Esta turnê é uma celebração ao meu período com o Iron Maiden, mas será também uma despedida e um adeus. Algumas músicas deste show eu nunca mais tocarei ao vivo após esta turnê.

Ao longo dos quase 20 anos de sua carreira solo, a sonoridade de suas músicas passou por algumas mudanças. Na era “Blaze” (N. do R.: “Blaze” era o nome de sua banda-solo que registrou seus três primeiros álbuns), as composições mostravam um peso que as faziam soar quase que como um Thrash Metal. Em The Man Who Would Not Die (2008) e em Promisse And Terror (2010), a agressividade das músicas era tão forte que elas soavam como um Death Metal melódico, apesar de seus vocais limpos. Nos álbuns mais recentes, a tradicional veia “maideniana” e alguns elementos de Power Metal começaram a se tornar proeminentes. Qual é o tamanho da contribuição de seus instrumentistas na composição de suas músicas? O fato de você ter se tornado o seu próprio produtor após o fim da parceria com Andy Sneap influenciou nas últimas mudanças?

Blaze: A influência de Iron Maiden é forte e óbvia em meus três últimos álbuns, que formam a trilogia Infinite Entanglement. Esta é a maior conquista que obtive em minha carreira musical. Eu adorei trabalhar com diferentes produtores em meus álbuns. Sou muito sortudo por ter a chance de trabalhar com vários produtores e músicos talentosos, com os quais eu aprendi bastante. Cada um dos álbuns que formam a trilogia está conectado de alguma forma com alguma coisa que fiz no passado. Todos os meus álbuns contaram com colaborações de diferentes pessoas. No Iron Maiden eu trabalhei com Steve Harris em Futureal e em Virus. Eu aprendi muito e tenho muito orgulho destas músicas.

Talvez você se lembre. Eu falei com você alguns meses atrás dizendo que sou professor em uma escola de ensino médio em Fortaleza e expliquei que conto sua história de vida e suas superações como forma de motivar meus alunos que estão prestes a entrar na universidade. Uma de minhas alunas que amou conhecer sua história pretende estudar jornalismo e ela tem uma pergunta para você:
“Sua popularidade no Brasil e a carinhosa recepção de seus milhares de fãs são bastante notáveis. Como esse afeto o auxilia a superar seus conflitos pessoais? Em abril de 2004 você lançou o álbum Blood and Belief, que trata sobre este assunto, problemas pelos quais você passou e como você fez para superá-los. Essa obra foi uma espécie de desabafo, uma forma de fazer seus fãs conhecê-lo de forma mais profunda?”

Blaze: Sou sortudo em ter tamanho apoio dos meus fãs brasileiros. Em várias de minhas letras eu falo abertamente sobre meus problemas mentais de saúde e também de outros problemas da vida. São quase como se eu escrevesse cartas para mim mesmo. Muitos fãs me falam que eles se identificam e entendem as coisas que falo em minhas letras. Alguns fãs relatam que minhas músicas os ajudaram a atravessar momentos difíceis em suas vidas. Eu tenho um sentimento muito especial quando eu escuto isso. Quando eu escrevo minhas músicas estou sempre pensando nos meus fãs. Eu espero que minhas músicas possam criar uma conexão com eles.

Colaboraram: Alexandre Temoteo e Livya Gurgel.

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