Em 7 de março de 1961, nascia em Seattle, Warrel G. Baker, ou simplesmente Warrel Dane. Vocalista, chef de cozinha, filósofo, teólogo, sociólogo e letrista dos bons, marcou época na cena se tornando um dos letristas mais inteligentes.
Sua carreira musical começou no início dos anos 1980 com o SERPENT’S KNIGHT, com o qual gravou o álbum “Released From the Crypt” (1983). Em 1985 fundou o SANCTUARY junto com seu amigo de longa data e sócio em um concorrido restaurante em Seattle, o baixista Jim Sheppard. Gravaram dois álbuns, “Refuge Denied” (1987) e “Into the Mirror Black” (1989), até que a banda acabou, literalmente, na mão por diferenças musicais. Em 2012, a banda retornaria e eles gravariam mais um álbum, “The Year the Sun Died” (2014),
Em 1991, fundou o NEVERMORE na companhia do amigo Sheppard e recrutou dois gênios: o guitarrista prodígio Jeff Loomis, que havia feito parte da última formação do SANCTUARY e o ex-designer da Nintendo, o baterista Van Williams. E com esta formação que se manteve durante os 20 anos que a banda permaneceu ativa, eles fizeram história, com uma sonoridade única.
Foi com o NEVERMORE que ele obteve reconhecimento na cena, seja do público, da crítica e o respeito de outras bandas. Discos como “The Politics of Ecstasy” (1996), “Dreaming Neon Black” (1999), “Dead Heart in a Dead World” (2000) são verdadeiras obras-primas e rendeu à banda a reputação que eles tiveram.
Dono de uma técnica vocal impressionante, Dane foi cantor de ópera durante cinco anos antes de se dedicar ao Heavy Metal. Era fã de Gothic e ficou extremamente abalado quando seu maior ídolo, David Bowie faleceu. Quando conheceu a casa “Madame Satã”, em São Paulo, ficou extasiado com o clima gótico que a casa proporciona, tanto é que em seu último álbum, lançado postumamente, “Shadow Work” (2018), ganhou uma música em homenagem à casa: “Madame Satan“.
Gravou dois discos solos, além do já citado “Shadow Work“, lançou também “Praises to the War Machine” (2007) em parceria com Peter Wichers. Este álbum foi lançado no período em que o NEVERMORE tirou férias, o que durou dois anos aproximadamente.
Em 2011, após os anúncios de Jeff Loomis e Van Williams de que ambos estariam saindo da banda, Dane resolveu se dedicar ao seu restaurante, até que resolveu aceitar o convite de quatro músicos brasileiros: Thiago Oliveira. Johnny Moraes, Fabio Carito e Marcus Dotta. E o que era para ser apenas uma turnê pelo Brasil para celebrar seus tempos de SANCTUARY e NEVERMORE, acabou dando liga, culminando com turnês pela Europa e um disco, com o aval da Century Media.
Em 2017 todos se reuniram para a gravação do segundo álbum solo desta lenda imortal. Em princípio seria um álbum de covers, mas ideias foram surgindo e o único cover aproveitado no álbum foi o de “The Hanging Garden“, do THE CURE. Porém, a falta de cuidado com sua diabetes falou mais alto e ele veio a falecer, em 13 de dezembro daquele ano, vitimado de ataque cardíaco. Morreu enquanto dormia, em São Paulo, a cidade que o acolheu e que ele tanto amava .
Ainda assim, os músicos e toda a equipe juntaram suas forças e conseguiram concluir a gravação do álbum, que foi muito bem recebido por público e crítica, chegando a figurar bem por alguns charts pela Europa. Nossa lenda merecia esta repercussão positiva em sua última obra.
Dono de um senso crítico muito grande, Dane era abertamente contra governantes autoritários e se estivesse entre nós, certamente estaria compondo letras em protesto contra os políticos de direita e extrema-direita que andam eclodindo mundo afora. As religiões também não escapariam, como ele fez durante toda sua carreira. Ainda tinha muita lenha para queimar, tanto na parte musical quanto na lírica.
Mas o seu legado está ai e merece ser exaltado todos os dias. Esteja onde estiver, ele sabe que foi e que será muito importante para o Heavy Metal. E que sua voz e interpretação fazem muita falta. Porém, como eu sempre digo, lendas não morrem. Eu escuto gente morta, e você, caro leitor, também o faz?
