13 de dezembro de 2017: eu acordava com uma mensagem em meu WhatsApp. Um grande amigo me dizia que havia lido em um blog de um amigo que Warrel Dane havia falecido. Incrédulo, eu joguei no Google a frase: Warrel Dane morreu. E o primeiro resultado era uma nota no portal G1 confirmando a veracidade da notícia que o amigo havia me falado. E o choro foi inevitável.
Foi o choro mais doído da minha vida, desde que perdi meu pai, há 31 anos atrás. Eu não conseguia acreditar que o meu maior ídolo tinha perdido a batalha pela vida. Batalha esta, convenhamos, não fora tão impetuosa. Warrel Dane era diabético e tinha sérios problemas com o alcoolismo. Ele próprio admitia isso e em entrevista no ano de 2012, ele deu a seguinte declaração:
“O NEVERMORE foi a melhor banda destruída pelo álcool.”
Pessoalmente, minha ligação com Dane era e será intensa. Suas letras inteligentes, com as quais eu me identifico. E como sempre digo, tais letras ajudaram a moldar a minha personalidade e me tornaram um ser humano melhor. Eu tive o grande prazer de conhecê-lo, quando ele fez seu primeiro show solo, aqui no Rio de Janeiro. Naquele 10 de abril de 2014, eu fui um dos contemplados em um Meet & Greet e pude trocar umas palavras com a fera, tirar umas fotos e de quebra, fiz alguns amigos, os quais cultivo amizade até os dias de hoje.
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Dono de uma técnica vocal extensa, Warrel George Baker nasceu em 7 de março de 1961, na cidade de Seattle. Era formado em Sociologia, Teologia e Filosofia e isso explica a sua sapiência, explicitada nas letras tanto do SANCTUARY quanto do NEVERMORE e também em seus discos solo. Dane também era chef de cozinha dos bons e tinha um restaurante disputadíssimo em Seattle, do qual seu parceiro de longa data, Jim Sheppard era sócio.
Com o fim do NEVERMORE, Dane ficou depressivo e alimentava um possível retorno da banda. Retorno esse que esteve bem perto de acontecer em 2016, depois que Dane e Loomis fizeram as pazes, através de um telefonema realizado na casa do guitarrista Thiago Oliveira, último parceiro de composição do nosso homenageado. Este retorno frustrou demais os fãs (N. do R: inclusive, claro, deste redator que vos escreve).No ano de 2013, sem fazer o que mais amava e abandonado pelos amigos, quatro brasileiros lhe deram uma oportunidade de sobrevida: o já citado guitarrista Thiago Oliveira, o também guitarrista Johnny Moraes, o baixista Fábio Carito e o baterista Marcus Dotta.
Era a oportunidade perfeita para ambos os lados. Para Dane provar que ainda estava em forma e que tinha lenha para queimar e os músicos brasileiros com as chances de suas vidas de alavancar suas respectivas carreiras. E o vocalista topou o desafio de vir ao Brasil, realizou uma turnê e as coisas deram tanta liga que Dane aproveitava todas as folgas que tinha em seu restaurante para se reunir com seus novos parceiros. Com uma banda nova, ele embarcou para uma turnê na Europa. Houve comemoração aos 15 anos do disco mais emblemático do NEVERMORE, “Dead Heart in a Dead World“, com direito a execução deste play na íntegra.
E o ápice da parceria entre Dane e os músicos brasileiros se deu quando a “Century Media” deu sinal verde para a gravação de seu segundo disco solo. Este disco seria inicialmente uma compilação de covers em versão Heavy Metal de artistas admirados por Dane. No meio do caminho, as coisas se modificaram e o trabalho acabou virando um disco de músicas autorais. Apenas “The Hanging Garden“, do THE CURE fora aproveitada.
Durante as sessões de gravação de “Shadow Work“, Warrel Dane acabou falecendo, em São Paulo, aos 56 anos. curiosamente no mesmo 13 de dezembro que seu amigo Chuck Schuldiner também havia falecido. E Warrel quase foi o vocalista do projeto CONTROL DENIED, capitaneado por Chuck. O Brasil que ele escolheu como o cenário do que acabou se tornando o final de sua carreira e Brasil esse que ele tanto amava, acabou sendo o local de sua morte. Foram aproveitados o que Dane gravou na pré-produção.
“Shadow Work” foi um sucesso, sendo bem colocado nos charts da França, Alemanha e Suíça, além de ter sido por algumas semanas o disco mais vendido na “Hellion“, aqui no Brasil.
Em um trabalho de apenas 40 minutos, a banda deu o melhor de si para que o último trabalho de Dane tivesse a qualidade que ele merece. Um disco pesado, sombrio e com a voz marcante dele, mesmo que não tendo mais o mesmo alcance dos tempos do NEVERMORE. Mas o carisma e a interpretação estão lá.
Todos os dias eu acordo desejando que a morte dele tenha sido apenas uma brincadeira de mau gosto ou um pesadelo meu. E começo meus dias pensando como seria o retorno do NEVERMORE como a banda poderia angariar fãs com a qualidade e as letras certeiras de um Warrel Dane que teria muito o que escrever deste Brasil atual, cheio de problemas e com um governo autoritário (N. do R: e quem conhecia Dane sabe que ele detestava esse tipo de coisa, vide a letra de “Inside Four Walls“, por exemplo) que não representa sequer quem o elegeu.
Enfim, ao perceber que ele não está mais entre nós e que hoje completa-se dois anos de sua partida, a dor ainda é imensa. Mas confortada com uma sua obra espetacular deixada. A vida tem que seguir e nós seguimos divulgando e exaltando o legado da nossa lenda.
Porque lendas não morrem.
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