Por Cris Figueiredo
15.06.19
Conversei com o Guitarrista Igor Tavares, direto de Dublin, capital da Irlanda, sobre as cenas do Brasil e da Europa, a sua história com a música e, principalmente, das gravações do debut da banda – com previsão de lançamento ainda este ano – e a experiência de participar, diretamente, na produção.
A Viscerall entrou em estúdio, no mês de março deste ano, para a gravação do seu EP – ainda sem título divulgado – prometendo trazer peso, melodias marcantes e um Heavy Metal bastante singular e orgânico. Vale a pena conferir a entrevista.
CF: Sua vivência e paixão pela música começou muito cedo, o que te deu uma experiência mesmo ainda jovem. Fale um pouco da sua história com a música e sua trajetória até esse momento como produtor musical e guitarrista da Viscerall.
Igor Tavares: Iniciei os meus estudos musicais aos 14 anos de idade, na cidade de Alagoinhas/BA. Ao lado de amigos, ainda na adolescência, participei de alguns projetos de MPB/Bossa, Pop Rock, Rock’n Roll e Heavy Metal. Foi naquela época, inclusive, que vim a participar, a convite de Gleuber Machado, do projeto embrião que hoje viria a ser a Viscerall, sendo este chamado de projeto Agge.
Em 2005, aos quase 19 anos de idade, após mudar-me para a cidade de Salvador/BA, tive a oportunidade de ingressar em diversas bandas de relevância na cena local. Como destaque, poderia citar a Templarius, projeto autoral ao qual dediquei, entre muitos shows e gravações de álbuns e demos, muitos anos da minha vida como músico. Ainda nessa época, tive passagens em outros projetos autorais e/ou covers, podendo citar a breve passagem pela Nomin.
A partir do ano de 2012, por razões profissionais, acabei por fixar residência em outros estados da federação, o que me deu a oportunidade de conhecer e conviver com diversos personagens atuantes nas diversas cenas com as quais me relacionei. Como destaque, musicalmente falando, citaria a minha passagem pelo estado do Maranhão, onde viria a desenvolver, juntamente com o vocalista local, Oliveira Neto, o EP do projeto Red Karma.
Atualmente, encontro-me residindo fora do país, mais especificamente na cidade de Dublin, capital da República da Irlanda. Como não seria diferente, venho me inserindo na cena local. Como trabalhos desenvolvidos por aqui, posso citar a gravação do EP de uma banda local chamada The Fallen Ones, onde atuei como guitarrista nas gravações e em alguns shows. Contudo, continuo colaborando ativamente com os trabalhos da Viscerall, mesmo à distância.
Com relação à atual posição como produtor, eu diria que foi um “acidente”. Antes da Viscerall, todas as produções nas quais atuei foram focadas nos meus próprios projetos, ora por necessidade, ora por insatisfação com os resultados alcançados. Eu, apenas, acordei um dia e decidi que ia começar a estudar para produzir os meus trabalhos. Tem sido assim desde a Red Karma, acima mencionada. No que diz respeito à Viscerall, me foi feito o convite por parte do Gleuber Machado e aqui estamos nós.
CF: Você está morando na Irlanda, passando uma temporada, por questões profissionais, mas continua vivendo a música intensamente. Qual sua avaliação com relação à cena Hard Rock/Heavy Metal em comparação ao Brasil?
Igor Tavares: Eu diria que a cena Hard Rock/Heavy Metal underground daqui é muito similar à nossa. Da mesma forma que ocorre no Brasil, a cena local é movida pelas próprias bandas e alguns pequenos produtores de eventos locais. As dificuldades encontradas aqui, para esse estilo musical, são bem similares. Há, contudo, o ponto favorável em relação à proximidade com outros países da união europeia. Caso a banda/projeto consiga fazer um bom network, além do trabalho musical satisfatório, há grande chance de participar de festivais ou pequenos eventos em outros países.
Por outro lado, a cena de Rock clássico, alternativo e/ou moderno é maior e mais bem organizada/estruturada. Dublin, em sua essência, é uma cidade com uma veia musical muito forte.
CF: Falando agora, especificamente sobre as gravações do EP, em curso, a captação do áudio de bateria foi feita no Brasil, mais precisamente no estúdio da Produtora Cultural Colaborativa / Fundação do Caminho, em Alagoinhas, na Bahia. Em relação aos demais instrumentos e vozes, qual será a estratégia de captação?
Igor Tavares: Por ocasião de minha última ida ao Brasil, entre os meses de março e abril de 2019, decidimos antecipar as gravações da bateria para o mesmo período, o que foi feito e assim concluída a captação da bateria. Nesse mesmo período também realizamos a captação da guitarra de Gleuber Machado. De posse deste material, os demais integrantes estão realizando as suas respectivas pré-produções. As minhas linhas de guitarra serão captadas aqui na Irlanda, sendo que as vozes, teclado e baixo serão gravados em estúdio aí no Brasil, com a colaboração da Produtora Cultural Colaborativa / Fundação do Caminho.
CF: É importante que se tenha uma matéria prima de qualidade, isso pode garantir um resultado final bem mais satisfatório, acredito. O que você teria a dizer sobre a captação dos áudios orgânicos das guitarras, a principio?
Igor Tavares: Por conta do tempo e recursos escassos, optaremos por usar a técnica do Re-amp. O processo, basicamente, consiste em captar apenas os sinais limpos (DI’s, como são chamados) com auxílio de VST’s e/ou simuladores. De posse desses sinais, ao final do processo, poderei reprocessá-los inúmeras vezes em amplificadores reais sem a necessidade de ter alguém tocando, propriamente. Esse processo me permite fazer quase todo o trabalho à distância, o que nos fará economizar tempo e dinheiro, além da expectativa de melhor resultado em relação aos timbres de guitarra.
“A expectativa é termos um EP
forte, pesado e orgânico”
CF: Atualmente existem diversas alternativas e meios de se produzir e gravar discos, inclusive com truques muito particulares, pra qualificar e valorizar ainda mais o trabalho. Pra produzir e fazer as gravações, quais os equipamentos/recursos que estão sendo utilizados por você no que tange às guitarras?
Igor Tavares: Estão sendo usados, basicamente, um Direct Box Radial J48, Fractal Axe FX II, caixas 4×12 Mesa Boogie equipadas com falantes Celestion V30, amplificador Mesa Boogie Triple Rectifier, microfones shure SM-57 e Neumann U67/U87. Tudo sendo processado no Logic Pro X.
CF: Muitos confundem ou generalizam as fases de uma gravação, como no caso da produção musical, mixagem, gravação, masterização e etc. Seria possível uma explicação breve do caminho que será feito até que o EP esteja concluído? Quais são as etapas?
Igor Tavares: Resumidamente, de forma simplória, eu diria: guia/esboço inicial, pré-produção, captação, edição, mixagem e masterização.
CF: Sabemos que o material que vocês possuem para a gravação desse EP é de excelente qualidade, são composições do guitarrista Gleuber Machado. Em relação às canções que farão parte deste EP, o que você diria?
Igor Tavares: Eu sou suspeito para falar, pois tenho uma história com essas músicas e com os integrantes do projeto. É uma relação que se estende desde a minha adolescência e, infelizmente (ou felizmente), apenas agora que a vida está dando a oportunidade de concretizar o trabalho. Com relação às músicas, propriamente, todas elas são de excelente bom gosto, havendo sempre alguma mensagem a ser transmitida, o que é o principal objetivo de estarmos fazendo música, no meu ponto de vista.
CF: Sabemos que o caminho é longo até a conclusão de todo esse trabalho, mas, o que podemos esperar do resultado final?
Igor Tavares: A expectativa é termos um EP forte, pesado e orgânico.
Espero que o resultado final possa ajudar o projeto a se inserir, definitivamente, no cenário Metal da Bahia, principalmente para fortalecer a cena do interior do estado. Esse, ao meu ver, é o objetivo primário. Além disso, é deixar algum legado no Metal da Bahia.
Após isso, o futuro dirá.
Foto: Veronika Minasianc – VM Photography