Dez anos… O que acontece durante todo esse tempo? Difícil responder em poucas linhas, não é mesmo? Seja em qual aspecto da vida for, dez anos é uma marca a ser comemorada quando alcançada. No meio musical não é diferente, principalmente quando um disco completa a sua primeira década de existência! Hoje, o “aniversariante” é ‘The Black Light Bacchanalia’, o décimo segundo álbum (de composições inéditas) do Virgin Steele.
Lançado primeiramente no dia 22 de outubro de 2010 na Alemanha, Áustria e Suíça (e algum tempo depois, no restante da Europa e EUA) pela SPV/Steamhammer, o trabalho chegou ao mercado quase quatro anos após o espetacular ‘Visions of Eden’ (2006) e certamente gerou expectativas nos ouvintes, principalmente em relação à sonoridade – já que a cada disco a banda buscava se renovar, mesmo que não perdendo sua essência.
Voltando um pouquinho mais no passado, o vocalista, multi-instrumentista, compositor, produtor – enfim, a alma da banda – David DeFeis, sempre foi um aficionado pela Antiguidade e nas Mitologias buscou inspiração para muitas de suas músicas ao longo das décadas. Entretanto, após finalizar a saga ‘The Marriage of Heaven and Hell’ com o álbum ‘Invictus’ (1998), o Virgin Steele já mergulharia em outro enredo épico, que foi ‘The House of Atreus’ e seus dois atos, baseados na tragédia escrita pelo dramaturgo grego Ésquilo. Já com o citado álbum de 2006, buscou uma visão crítica sobre Deus, a criação do mundo segundo a Bíblia e demais assuntos relacionados. Mantendo o sistema “operístico” dos discos anteriores, o trabalho teve como subtítulo: ‘The Lilith Project – A Barbaric Romantic Movie of the Mind’.
Mas afinal de contas, por que diabos eu voltei assim no tempo? Simplesmente para você entender que ‘The Black Light Bacchanalia’, nas palavras do próprio DeFeis: “Liricamente é uma espécie de continuação da história que contei no último álbum… Musicalmente é outra coisa…”. Ou seja: “É um álbum longo… Com quase 80 minutos de duração. E (para ser bem breve) trata da reversão de todas as coisas. Uma vez conquistados por culturas invasoras, as divindades pagãs mais antigas se tornam os demônios da nova religião. ‘The Black Light Bacchanalia’ é uma reversão dos sagrados costumes sexuais e a profanação final do ‘Princípio da Deusa’, mudando da descendência matrilinear para a descendência patrilinear, com o surgimento da ideia do Deus do Fogo da Montanha. Também tem a ver com medos antigos, como o medo do sol não nascer…”. Megalomaníaco, ambicioso, filosófico… Chame como quiser.
Também lançado no Brasil, pela Shinigami Records em formato duplo – com o disco bônus apresentando duas faixas e mais uma biografia da banda narrada por David DeFeis – , o trabalho manteve a formação estabilizada com os músicos Josh Block (guitarra de sete cordas, solo – 1, 2, 5-8, 10), Frank Gilchriest (bateria – 1-8, 11) e Edward Pursino (guitarra, solo – 4 e 5). Esse último, componente importante na história do V.S., em função a alguns problemas pessoais, se manteve um pouco afastado da banda na época, refletindo inclusive em sua baixa participação no disco, bem como nas apresentações ao vivo (ele não esteve presente quando a banda se apresentou aqui no Brasil, em 2011). Aliás, no quesito estúdio, não é segredo de ninguém que David DeFeis assume diversas funções, inclusive no registro dos demais instrumentos. Para quem possui o trabalho oficial, basta conferir no encarte onde é informado, música por música, o que cada um gravou ou não.
Como já informado logo acima, trata-se de um álbum extenso (ok, de 1994 pra cá, isso não é novidade), em que são necessárias algumas audições para que se entenda o que está acontecendo. Pessoalmente falando, foi exatamente isso o que aconteceu comigo, já que estava demasiadamente habituado ao ‘Visions of Eden’ e com uma tremenda carga de expectativa. Algumas conferidas depois, ‘The Black Light Bacchanalia’ ocupou um lugar cativo entre os trabalhos da banda que mais ouvi e aprecio.
Mesmo com incontáveis passagens instrumentais e melodias marcantes, o álbum mais uma vez não agradou a todos, que esperavam por algo mais direto e com um teor de complexidade mais contido, como nos trabalhos mais antigos. Mas, como não se pode agradar a todos, o que indico é a boa e velha conferida para se ter a própria opinião sobre o mesmo.
Observando brevemente as onze composições principais, a impactante “By the Hammer of Zeus (And the Wrecking Ball of Thor)” faz as honras e entrega uma levada voltada ao Power Metal, com bastante elementos épicos. “Pagan Heart” já muda totalmente de ares, com alguns momentos sem tanto peso, mas que consegue manter a audição em boas mãos. A curta “The Bread of Wickedness” pode ter sido econômica no tempo, mas não em sua qualidade, com um refrão simples que não sai mais da cabeça.
Em “In a Dream of Fire” temos uma composição diferente em se tratando de Virgin Steele, que pode gerar estranhamento, mas não soa como uma faixa ruim. Porém, o mesmo acontece com “Nepenthe (I Live Tomorrow)”, que tenta se apresentar como uma balada mais climática. Não digo que essas duas podem ser encaradas como um deslize, pois não são ruins, mas é fato que as coisas melhoram drasticamente com a chegada de “The Orpheus Taboo”. As rédeas continuam curtas em se tratando de agressividade (algo que foi usado com certa economia no álbum, diga-se), mas sua diversidade e beleza dispensam demais atrativos. Outra que tira o fôlego é “The Crown Them with Halos (Parts 1 & 2)”, que apesar de ser a faixa mais longa (tanto deste álbum, quanto de toda carreira até o momento, deixando para trás “Veni, Vidi, Vici” – ‘Invictus’ -, com 10:43, e “Resurrection Day (The Finale)” – ‘The House of Atreus – Act II’ [Disco 2], com 10:29), com seus dinâmicos e variados 11:16. Simplesmente um dos pontos mais altos do disco!
“The Black Light Bacchanalia (The Age That Is to Come)” não deixa os ânimos se esfriarem, mas depois de uma faixa tão impactante como a anterior, faltou sim uma carga rítmica mais explosiva, já que apostou as fichas nas melodias, o que também não foi nada mal. Já que a maior faixa foi apresentada, agora é a vez da mais curta “The Torture’s of the Damned”, uma peça climática e forte de apenas 02:59, que serve como um tranqüilizante para o que virá em seguida com “Necropolis (He Answers Them with Death”. Felizmente, a composição trouxe com maestria a formula do peso e do dinamismo de volta, além de uma curiosa (e até polêmica, para alguns) “versão inversa” do trecho inicial da tradicional oração cristã “Pai Nosso”. Por ultimo, mas não menos importante, “Eternal Regret” encerra muito bem o disco, de uma maneira totalmente surpreendente, sendo basicamente um Progressivo melodioso de encher os olhos (ou de fúria, para quem não entendeu nada). Sim, de uns anos para cá esse estilo veio para somar, porém, usado com bastante sabedoria,
No mais, eis aqui uma pequena lembrança a um trabalho complexo, diversificado e musicalmente rico, com uma temática bastante elaborada. Extenso sim, porém, que merece ser apreciado com total atenção aos detalhes!