Após um ano mais ou menos movimentado no mundo do rock/metal recifense, era chegada a hora do último grande evento do ano na cidade, se tratando esse do Verão do Caos Fest, no Baile Perfumado, localizado no bairro do Prado, zona oeste do Recife. Festival que conta com as bandas Sepultura, Krisiun e Nervochaos, anunciado para ocorrer nas cidades de Recife, em Pernambuco, e em Belém, do Pará.
Na edição de Recife, o evento também contou com a participação do Korzus e da banda local Realidade Encoberta.
Com cinco bandas no cast, o evento estava marcado para se iniciar às 18:30, e diferente do que normalmente acontece na maioria dos eventos, a pontualidade foi cumprida a risca, tendo a Realidade Encoberta iniciado seu show exatamente nesse horário, pouco depois de terem terminado sua passagem de som, mesmo ainda diante de uma plateia de gatos pingados naquele momento.
O veterano grupo recifense de Crossover tem mais de 30 anos de história no underground pernambucano, e trazia para o palco do Baile Perfumado a divulgação do seu mais recente álbum intitulado “Não Vivamos Mais Como Escravos”, de 2018.
Por toda a sua carreira, a Realidade Encoberta sempre deixou claro suas ideologias políticas, e certamente, no Verão do Caos Fest isso não foi diferente. Pois, além de suas letras, que já possuem fortes críticas principalmente ao governo atual, o quinteto fez questão de colocar uma bandeira na frente do palco do movimento antifacista para quem quisesse ver (e quem não quisesse, também).
Apesar das poucas pessoas que estavam lá na hora não terem interagido tanto, a Realidade Encoberta conseguiu esquentar bem os ouvidos dos presentes com um grande show, preparando tudo mundo para as próximas lapadas na orelha que estavam por vir.
Após mais ou menos alguns minutos após o fim da apresentação da Realidade Encoberta, o palco já estrava preparado para a segunda atração da noite, que se tratava da banda paulista Nervochaos.
Quando o show do quarteto se iniciou, o Baile Perfumado já se encontrava com mais pessoas, mas a movimentação ainda era considerada fraca. Mas em compensação, o público presente acordou mais e começou a fazer as primeiras pequenas rodas punks da noite.
O Nervochaos fazia ali sua segunda passagem pelo Recife em menos de um mês, já que no dia 30 de novembro, o grupo foi uma das atrações do Festival Visions Of Rock, ocorrido no Estelita Bar. Certamente, aquela foi mais uma data da turnê do “Ablaze”, mais recente álbum do grupo lançado esse ano.
Se for comparar a apresentação do Nervochaos no Verão do Caos com a realizada no Visions of Rock, praticamente nada mudou, inclusive o setlist (o que é normal). O show deles transcorreu com uma pegada forte, intensa, pesada e blasfema, da forma que qualquer um espera da banda.
Como já dito anteriormente, apesar do número de pessoas presente ter aumentado, a casa ainda não estava no pico máximo, mas os que ali estavam se mostravam bastante instigados com a apresentação dos paulistas.
Após mais ou menos 50 minutos de apresentação, o Nervochaos encerrava sua apresentação no Verão do Caos Fest, e assim, o público aguardava pelo início do show da também paulista Korzus.
Quando o Korzus iniciou sua apresentação no palco do Baile Perfumado foi quando o público finalmente mostrou a que veio, o show já começou com o vocalista Marcello Pompeu chamando o público para perto, tendo a partir daí a “pancadaria” se iniciado de forma generalizada na pista ao som da faixa “Guilty Silence”.
Naquele momento, a pista do Baile Perfumado tinha finalmente virado um “redemoinho” de camisas pretas, e além disse, o público fez coro junto com a banda em boa parte das músicas, principalmente nos refrões de “Raise Your Soul”, ‘What Are You Looking For?” e “Correria”.
O guitarrista Antônio Araújo, que é de Recife, obviamente aproveitou a ocasião para levantar a bandeira, e apoiar o metal do Nordeste, agradecendo também a todas as bandas que estavam participando do festival na ocasião.
E Pompeu mais uma vez mostrou ser um dos melhores frontmans do metal brasileiro, pois sua presença de palco e a forma que ele consegue chamar o público para o show (vide como ele fez logo no início) é simplesmente sensacional.
E para encerrar a apresentação com chave de ouro, o Korzus soltou um cover de “Raining Blood”, do Slayer, no que obviamente, ocasionou em um verdadeiro “pandemônio” (no melhor sentido da palavra) no meio da pista do Baile Perfumado. Na ocasião, Pompeu e Antônio dividiram os vocais.
Mesmo após a “destruição” que o Korzus causou no Baile Perfumado, ainda havia muita “lapada” por vir naquela noite, sendo a próxima a do power trio gaúcho Krisiun.
O Krisiun foi outra banda que estava fazendo ali sua segunda passagem pelo Recife esse ano (eles já haviam tocado no mesmo Baile Perfumado no dia 26 de julho, no Garage Sounds), e mais uma vez divulgando seu mais recente álbum “Scourge of the Enthroned”, lançado ano passado.
O som do Krisiun, apesar de ser bem “porrada”, fez com que os headbangers do local ficassem mais batendo cabeça, enquanto as rodas acabaram não sendo tão intensas como foram no show do Korzus, por exemplo.
Mas claro, o trio gaúcho entregou aquilo que todos os seus fãs estão acostumados, muito peso e brutalidade em seus fortes riffs, com direito a coro contra o atual presidente da república puxado pelo próprio Alex Camargo.
De qualquer forma, o Krisiun conseguiu prender a atenção dos headbangers do início ao fim do show, mostrando todo peso e brutalidade os quais são conhecidos.
Encerrado o show do Krisiun, era a hora mais esperada da noite, iniciando assim a expectativa para o show do Sepultura, que desde 2009 não se apresentava na capital pernambucana.
E quando o palco ficou 100% pronto para a entrada do maior nome do metal no Brasil, a coisa “esquentou” no sentido literal da palavra, pois quando os integrantes estavam adentrando no palco e cumprimentando o público, poucos segundos depois foram avisados pela sua equipe para sair do mesmo por conta de um princípio de incêndio.
Mas calma, felizmente não foi nada em grande proporção. O que ocorreu foi que havia um refletor que estava literalmente colado com uma coroa de cartolina que havia sido colocada na parte de cima da estrutura do palco (não sei se foi a produção que colocou lá ou se era algo do próprio Baile Perfumado), e por conta disso, o refletor em questão acabou esquentando a cartolina (pelo menos suponho que era cartolina) a ponto da mesma formar uma chama.
Como disse anteriormente, felizmente o fogo não era em grande proporção, a plateia gritou da pista avisando do que estava ocorrendo, e os Bombeiros agiram de forma rápida para apagar o fogo (sendo inclusive aplaudidos e clamados pelo público presente), os dois refletores que estavam próximos da tal coroa foram desativados, fazendo com que a apresentação pudesse seguir seu rumo.
Quando o Sepultura finalmente iniciou o seu show, a coisa voltou a “pegar fogo”, mas agora na roda punk, que naquele momento se encontrou em seu pico máximo, assim como o próprio Baile Perfumado.
A sequência de “Arise” e “Territory” foi a combinação perfeita para o caos se formar na pista da casa de shows.
Além de grandes clássicos da antiga época do grupo, também houveram faixas de seu repertório mais recente, como o “Kairos”, do álbum de mesmo nome, lançado em 2011, e o “Phantom Self” e o “Sworn Oath”, do “Machine Messiah”, o mais disco mais recente do grupo, lançado em 2017.
“Inner Self” foi outra faixa onde os presentes intensificaram ainda mais a roda punk, dando uma ótima energia ao show, que já vinha boa por parte da banda no palco.
Outro ponto alto foi quando Andreas Kisser chamou dois percussionistas da banda Nação Zumbi (Mascos Matias e Toca Ogan), para junto com eles, fosse executada a versão do Sepultura para a música “Da Lama Ao Caos”, originalmente da famosa banda recifense “Chico Science e Nação Zumbi”. Nessa música, Kisser assumiu os vocais, e Derrick ficou ajudando na percussão tocando seu surdo.
Claro, não faltou a inédita “Isolation”, que estará presente no novo álbum da banda intitulado “Quadra”, que será lançado em 2020.
Também esteve presente no set a música “Ratamahatta”, uma das poucas do grupo completamente em português, onde Kisser mais uma vez assumiu boa parte dos vocais, tendo Derrick ficado mais uma vez no surdo, e jogado para o público as partes em que ele canta (certamente, ele ainda tem dificuldade para cantar em português).
Todos os integrantes fizeram um show em alto nível, principalmente Derrick (mesmo tendo a voz engolida pelo instrumental em vários momentos), e o baterista Eloy Casagrande, sendo mais uma vez um mostro na bateria.
O show se encerrou com mais uma sequência de peso, a lapada final ficou garantida com as execuções das músicas “Refuse/Resist” e a tão aclamada ‘Roots Bloody Roots”, fechando assim com chave de ouro uma noite de peso, protagonizada por cinco grandes bandas do metal extremo brasileiro.
No mais, podemos dizer que o Verão do Caos Fest foi a melhor forma de encerrar a temporada 2019 de shows do metal no Recife, o público compareceu em peso (apesar de ter demorado para dar as caras), interagiu muito bem com as apresentações, e a organização funcionou que nem um relógio em todos os quesitos. Além disso, todos os shows, sem exceção, foram de alto nível.
Agora, a todos resta apenas recompor as energias (inclusive eu) para a temporada 2020 de shows, que já está com alguns eventos marcados.
E também, espero que depois dessa noite para se ficar na memória, o Sepultura não demore mais 10 anos para voltar a se apresentação nos palcos recifenses.