Quando éramos mais jovens, com poucos recursos financeiros e mais tempo para dedicar a cada disco que adquiríamos, por vezes éramos marcados pela experiência musical associando-a a algum fator externo. No caso do primeiro disco do Uriah Heep, trouxe-o para casa e coloquei no toca-discos em um dia chuvoso. Sempre que o reescuto, portanto, sou acometido pela lembrança de um clima nublado, e a claridade solar esvanece.
Caso acrescentemos uma quarta posição ao triunvirato sagrado do hard rock/heavy metal (Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple), certamente a vaga será ocupada pelo Uriah Heep. Porém, a banda inglesa, contemporânea das demais, surgiu com a vantagem de possuir, em suas fileiras, A VOZ. Sim, porque, não obstante os Plants, Rodgers ou Gillans da vida, David Byron é/foi, na opinião deste redator, o melhor vocalista que o Rock já teve.
Esse sujeito, juntamente com Ken Hensley e Mick Box, formaram o trio central da banda e capitanearam uma carreira que, pelo menos em sua primeira fase, não foi menos que brilhante. No caso de “Very ‘Eavy… Very ‘Umble…”, ou seja, já a partir do primeiro disco, a abertura com a faixa “Gypsy” apresenta, de cara, tudo que você precisa saber sobre o grupo. Todos os elementos que caracterizam o som do Uriah Heep, e o tornam único, estão presentes nessa música, inclusive as consagradas e onipresentes harmonias vocais. Estando ainda três álbuns de distância de sua formação clássica e de seus discos mais consagrados – “Demons and Wizards” e “Magician´s Birthday” – não se pode dizer que houve mudanças significativas no som do quinteto. Houve aprimoramento e refinamento, principalmente da tendência progressiva, na qual o Heep investiu mais do que seus colegas de cena, mas a essência já estava definida na origem, tendo sido formatada pelos três músicos acima, embora, nesse álbum, Hensley ainda não tenha participado do trabalho de composição.
Além de “Gypsy”, as músicas “Walking in Your Shadow”, “I´ll Keep on Trying” e “Wake Up (Set Your Sights)” também se caracterizam pelo DNA uriaheepiano, sendo todas destaques do disco, da mesma forma que a belíssima balada “Come Away Melinda”, cuja letra trata do diálogo entre uma filha e seu pai, que tenta explicar sobre a mãe que a criança não conheceu, morta na guerra.
Por fim, como qualquer obra perfeita se prolonga para além das notas musicais, é preciso fazer a devida menção à embalagem. Aprendam: ISSO é uma capa assustadora de verdade!!! Existem duas versões da mesma, mas eu sequer faço questão de me lembrar como é a imagem que estampa a outra, tão icônica que esta é!
O tempo passou, Byron faleceu, o Heep mudou de formação incontáveis vezes, atravessando altos e baixos criativos. Hoje, com o conforto de quem não precisa mais se provar e está aproveitando os momentos de proximidade do final da carreira, o grupo tem lançado bons álbuns. Bandas atuais, que se inspiram em sua obra, causam um grande boca-a-boca entre os apreciadores, mas eu, infelizmente, não consigo me empolgar com isso. O material original está à minha disposição e ainda me causa emoção.
Da mesma forma que me causou quando eu era mais jovem.
Very ‘Eavy… Very ‘Umble… – Uriah Heep
Data de Lançamento: 13/06/1970
Gravadora: Vertigo
Tracklist
01 Gypsy
02 Walking in Your Shadow
03 Come Away Melinda
04 Lucy Blues
05 Dreammare
06 Real Turned On
07 I’ll Keep on Trying
08 Wake Up (Set Your Sights)
Formação
David Byron – vocal
Ken Hensley – teclado (exceto em “Come Away Melinda” e “Wake Up (Set Your Sights)”)
Colin Wood – teclado em “Come Away Melinda” e “Wake Up (Set Your Sights)”
Mick Box – guitarra
Paul Newton – baixo
Alex Napier – bateria (exceto em “Lucy Blues”, “Dreammare” e “Bird of Prey”)
Nigel Olsson – bateria em “Lucy Blues” e “Dreammare”
Keith Baker – bateria em “Bird of Prey”