Existem mais pontos de conexão entre “Boy”, e o cenário musical de seu período, do que entre o álbum e o restante da discografia ao qual pertence. Fato normalíssimo para um disco de estreia. Aquele U2, jovem e impetuoso, possuía ousadia, um adjetivo mais afeito aos jovens e que, quando aplicado aos artistas mais velhos, passa a se chamar experimentalismo.
O U2 de “Boy” principiava uma história de vida que trazia, para perto de si, o garoto da capa, Peter Rowen. Alguns anos mais tarde, ele retornaria para estampar “War” e, depois, passaria para o outro lado da lente, pois tornou-se fotógrafo profissional, tendo inclusive acompanhado a banda e sendo o autor da imagem de capa do recente álbum ao vivo “U22”. Mas aí já estamos avançando para além do necessário, pois tirando a presença de “Out of Control” no repertório deste live album, existe uma grande distância entre a neófita banda que exalava energia Pós-Punk e o quarteto atual. Havia influências de Joy Division e até mesmo alguns toques de The Cure em “An Cat Dubh”. Os timbres de baixo e as conduções de bateria remetiam diretamente ao que tantas bandas do Reino Unido vinham praticando. Desde sempre, a parceria entre Adam Clayton e Larry Mullen Jr. esbanjava ritmo e sincronia, complementando a linha de frente, onde estava a outra metade do grupo, com os integrantes que melhor diferenciariam o seu DNA sonoro.
Bono Hewson, Bono Vox, ou simplesmente Bono, ainda estava um pouco distante do ativista político e ecológico que tornar-se-ia indissociável de sua imagem de palco, mas já demonstrava a tendência fortemente melódica e o apreço por temas que repetir-se-iam ao longo da discografia, como a religiosidade e a perda da mãe. Temas estes que se unificariam no contexto da primeira faixa, “I Will Follow”.
O outro elemento dominante na química da banda era o som e o estilo do guitarrista The Edge. O seu característico uso do Delay ainda não estava desenvolvido, mas as progressões de acorde minimalistas apontavam para um músico que transitava da escola do Blues em direção a uma personalidade singular e distinta. A soma criativa dos quatro irlandeses gerou um primeiro álbum com satisfatória variedade entre seus climas.
O Rock mais juvenil e dinâmico não poderia deixar de estar presente e, além da mencionada “I Will Follow”, temos “Out of Control” e “The Electric Co.” com esse mesmo espírito. “Twilight” não possui o mesmo ímpeto Punk que estas, mas soa alta e dona de um solo simples, agudo e eficiente.
“Into The Heart” é uma balada com aquele clima de “pôr do sol em um dia de superação”, ao passo que o Pós-Punk, propriamente dito, se faz presente em “Another Time, Another Place” e em “Stories For Boys”, possuidora de uma condução de baixo calcada no trabalho de Peter Hook no Joy Division. Referência esta que inspirará a letra de “A Day Without Me”, que trata sobre o suicídio de Ian Curtis.
A última canção, “Shadows and Tall Trees”, poderia estar em “October”, e essa tem sido a característica dessa banda, que lhe pavimentou a legitimidade para transpor estas quatro décadas: seguir para diante, preservando suas características, mas abrindo caminhos a partir delas e chegando a locais distintos. Quarenta anos depois, aquele garoto mudou bastante, mas seu coração ainda carrega os mesmos sentimentos.
Boy – U2
Data de Lançamento: 20/10/1980
Gravadora: Island
Tracklist:
01 I Will Follow
02 Twilight
03 An Cat Dubh
04 Into the Heart
05 Out of Control
06 Stories for Boys
07 The Ocean
08 A Day Without Me
09 Another Time, Another Place
10 The Electric Co.
11 Shadows and Tall Trees
Formação:
Bono – vocal
The Edge – guitarra
Adam Clayton – baixo
Larry Mullen Jr. – bateria