Em 1999, após quase uma década de misturas ecléticas e do Tsunami que foi o Grunge ( e também o New Metal que estava por chegar no seu ápice) e que deixou o Rock/Metal mais tradicional incomodado e sem espaço. Algumas bandas que praticavam um som mais extremo (no final dos 80 até meados dos anos 90) decidiram experimentar algo “menos agressivo” como forma de se recolocar no mercado da música ou então para se reinventar artisticamente.
Após o lançamento do Load do Metallica de 1996, One Second do Paradise Lost e Carnival Of Souls do Kiss em 1997, algumas bandas também se deram ao direito de experimentar outras tendências para ver no que dava.

Para muitos, o ano em questão foi péssimo em relação aos lançamentos do mundo do Rock/Metal, por causa dessas mudanças de direcionamento e principalmente a “descaracterização” de trabalhos perante discografias de bandas já consagradas.

Como por exemplo o Eye II Eye de 1999 do Scorpions, que é criticado e odiado até hoje. Eu particularmente acho um álbum bacana, tem várias músicas inspiradas naquele álbum e também algumas realmente estranhas, tenho que concordar. Mas não vejo como algo execrável, apenas diferente.

Eu considero 1999 um ano impecável pela variedade, quantidade e qualidade dos trabalhos que foram lançados. O fato de ainda termos em atividade artistas clássicos e principalmente novos nomes que viriam ser ENORMES no início da década e século que estavam por chegar.

Antes de começar a discorrer sobre minha lista, é importante e reconfortante fazer a básica menção honrosa a outros títulos do ano de 1999, que para mim são importantes até hoje.

Biohazard/New World Disorder, Filter/Tittle Of Record, Korn/Issues, Mr.Bungle/California, Dog Eat Dog/Amped,
Nine Inch Nails/The Fragile, Rage Against The Machine/The Battle of Los Angeles, Sevendust/Home, Red Hot Chili Peppers/Californication, Primus/Antipop, In Flames/Colony, Suicidal Tendencies/Freedumb, Staind/Dysfuction e Chris Cornell
com Euphoria Morning.

Por ordem das datas de lançamento, vamos a mais este prazeroso desafio de escolher apenas 5 lançamentos de 1999.

Ah! Apenas mais uma ressalva. Na pequena lista abaixo, para fugir do óbvio, não abordei o que foi sucesso de público e crítica. Optei por álbuns que estão no “Limbo” (entre o céu e inferno) de suas discografias. Que na época foram controversos e geraram muitas polêmicas pela mudança de sonoridade de cada trabalho como Kreator, Paradise Lost, Machine Head e Megadeth. No caso do Slipknot a polêmica foi o repúdio daqueles que AINDA não gostavam do som e da proposta do espetacular Debut oficial dessa, que viria se tornar a maior banda de metal do início do sec XXI.

Kreator – Endorama

Bem distante de temas como Renewall e  Terrible Certainty. Endorama tem outra proposta, que na minha opinião foi muito bem vinda instantaneamente.

O Kreator que é com certeza um dos nomes mais importantes do Trash Metal mundial e um expoente do metal alemão, também passou por um momento de incertezas sobre seu direcionamento musical. E na mesma linha de raciocínio do Paradise Lost (com o seu One Second) o Kreator decidiu fazer algo mais polido e moderno. Diminuiu sim, a dose de agressividade de suas composições, mas nem se compara com Paradise Lost e Metallica com, One Second e Load respectivavamente (que foram acusados de se vender e praticar algo extremamente comercial).

Apesar de uma sonoridade mais amena, não se escutou nada do Endorama em rádios FM. Quando foi exibido na MTV foi em programas de Metal. Endorama é sim um trabalho agressivo! Que manteve as características vocais do Petrozza e abriu um novo horizonte para o som dessa clássica banda, mas a sonoridade de Endorama nunca mais foi repetida.

O que provavelmente gerou polêmica na época foi a abordagem “gótica” por conta de efeitos de sintetizadores, somada as partes melódicas do vocal e também as guitarras base (que dominaram boa parte das músicas). Com menos solos de guitarra, o álbum acabou tenho um clima mais sombrio e triste, que desagradou os fãs de Trash Metal, mas agradou em muito os fãs de Gothic Metal. Como na faixa título que tem participação de Tilo Wolff da banda alemã Lacrimosa (que é uma nome importante do cenário gótico no metal).

Muitos amigos que “torceram o nariz” na época do lançamento de Endorama, hoje consideram um clássico. E para mim, apesar do álbum ser inteiro ótimo, a faixa Golden Age é seu ponto mais alto.

Data de lançamento: 20 de Abril
Gravadora: Pavement Music
Produção: Mille Petrozza e Tommy Vetterly

Faixas: Golden Age, Endorama, Shadowland, Chosen Few, Everlasting Flame, Passage To Babylon, Future King, Entry, Soul Eraser, Willing Spirit, Pandemonium, Tyranny

Formação:

Mille Petrozza – vocais, guitarras
Tommy Vetterli – Guitarras, programação
Christian Giesler – baixo
Jurgen Reil – bacteria

Músicos convidados:

Roland Kupferschmied – programação
Tilo Wolff – vocais em “Endorama”

Paradise Lost – Host

Confesso que fiquei surpreso na primeira audição de Host, que foi o primeiro lançamento “pós One Second” de 1997.

Eu esperava uma mistura de One Second com Draconian Times (clássico absoluto da banda). Mas o que ouvi foi o oposto, uma releitura de Depeche Mode, e que eu até brinco dizendo que Host é mais “depeche mode” que o próprio Depeche Mode.
Ausência total de solos de guitarras, vocais 100% limpos, teclados e sintetizadores direcionaram as estruturas das músicas por completo. E inacreditavelmente pra mim, o resultado ficou MARAVILHOSO. Tanto que não consegui parar de ouvir e cantar suas letras e melodias por dias a fio.
E ao mesmo tempo que estava incrédulo com tamanha diferença, eu também estava de “queixo caído” com tamanha sofisticação nas melodias e letras. Acompanhando a repercussão na internet e revistas da época pude perceber que todos os fãs ficaram em “shock”, com mudança tão drástica, “cadê os Deuses do Doom Metal’ gritavam os “órfãos” do estilo. Mas no meu caso, esse susto se transformou em vício.

De todos os álbuns citados nesta lista, este com certeza é o que mais causou estranheza. Pois a mudança do Doom Metal do início da carreira para este trabalho é enorme. Parece realmente outra banda.

Na ocasião eu soube entender a mudança, acompanhando entrevistas dos membros da banda, pude perceber que passavam por um momento realmente complicado em suas vidas e carreiras. Drogas, depressão e tours intermináveis resultaram em um trabalho anormal para os padrões da banda. Porém, é algo único e que ainda hoje é absurdamente moderno e que no meu caso específico, ajudou para eu gostar ainda mais de Depeche Mode.

Outra coisa legal é ter material para rolar na companhia de pessoas que curtem um som mais eletrônico e eu saber que é Paradise Lost. Além disso, por mais “comercial” que possa parecer esse álbum, nunca escutamos nada nas rádios FM.

So Much Is Lost continua nos setlists desde então até os dias de hoje, mesmo na era do lindíssimo Obsidian. Mas as músicas que se tornaram imprescindíveis em Host para mim são: In All Honesty, Ordinary Days, Permanent Solution, Behind the Grey e Host.

Data de lançamento: 28 de abril
Gravadora: EMI
Produção: Steve Lyon

Faixas: So Much Is Lost, Nothing Sacred, In All Honesty, Harbour, Ordinary Days, It’s Too Late, Permanent Solution, Behind the Grey, Wreck, Made the Same, Deep, Year of Summer, Host.

Formação:

Nick Holmes – Vocal
Gregor Mackintosh – Guitarra
Aaron Aedy – Guitarra
Steve Edmonson – Baixo
Lee Morris – Bateria

Slipknot – Slipknot

Slipknot

Preciso confessar, comprei essa álbum pela capa.

Sempre gostei de “palhaços do mal”. Provavelmente influenciado pela capa do ultra citado (por mim) primeiro álbum do Mr.Bungle (que possuí um palhaço bizarro na capa) e também por um quadro de palhaço que tinha na casa de uma tia quando eu era criança. Aquela gravura me assustava mas eu não conseguia parar de olhar. Resumindo, acho palhaços do mal muito foda.
Ao ver esse bando mascarado na capa e um palhaço (óbvio) e fiquei intrigado. Dando uma olhada na contra capa do CD, pude perceber que pertenciam a Roadrunner (gravadora de nomes como Sepultura, Biohazard, Machine Head). Tive então a certeza de que era algo de metal (por conhecer a tradição do casting de bandas da gravadora), levei o CD sem sequer ouvi-lo.

Na época, como sabemos não havia Youtube ainda, e a nossa maior fonte de informação eram os programas de clips na MTV e revistas especializadas. Ao ouvir pela primeira vez esse álbum do Slipknot (nome que eu não sabia pronunciar ainda), eu agradavelmente me surpreendi com uma das coisas mais barulhentas, esquizofrênicas e bizarras que tinha ouvindo na vida. Sem ter referências ainda, logo eu os identifiquei como uma mistura de Ministry, Mr. Bungle, Sepultura e Korn.

Depois de muito tempo fui descobrir que esse na realidade era o segundo trabalho dos caras, e que o primeiro registro foi a Demo (raríssima) Mate.Feed.Kill.Repeat, e que nem era o Corey Taylor no vocal e sim Anders Colsefini

Por coincidência, semanas após eu comprar o CD, as revistas especializadas começaram a comentar esse lançamento e seus shows alucinantes no Ozz Fest, além de vídeos que começaram a passar nos programas de metal da MTV e também em outros canais de música.

Wait and Bleed foi um sucesso absurdo. Principalmente a molecada da época pirou na banda. Eu nem imaginava que esses malucos se tornariam a maior e mais bem sucedida banda de som pesado do século que estava por vir.

O resto é história.

Data de lançamento: 29 de junho
Gravadora: Roadrunner
Produção: Ross Robinson

Faixas: 742617000027, (sic), Eyeless, Wait and Bleed, Surfacing, Spit It Out, Tattered & Torn, Frail Limb Nursery, Purity, Liberate, Prosthetics, No Life, Diluted, Only One, Scissors, Eeyore (faixa escondida).

Formação:

#8 = Corey Taylor – Vocais
#7 = Mick Thompson – Guitarra
#0 = Sid Wilson – DJ
#6 = Shaw Crahan – Percussão, backing vocals
#2 = Paul Gray – Contra baixo, backing vocals
#1 = Joey Jordison – Bateria
#3 = Chris Fehn – Percussão, backing vocals
#4 = James Root – Guitarra
#5 = Craig Jones – Samples, teclado


Machine Head – The Burning Red

Com exceção de alguns fãs da primeira banda do Rob Flynn (o maravilhoso Vio-Lence), quem conheceu o Machine Head com o arrebatador debut album (Burn My Eyes), não esperava nesse terceiro álbum algo tradicional ou uma volta as raízes do Vio-Lence.
A modernidade se fez presente desde o início no som do Machine Head, que na minha opinião não podia ter tido uma evolução diferente. Justamente pelas inserções de rap e dos grooves ainda mais em destaque, e claro, tem o visual do cabelo do Rob (que inacreditavelmente desagradou aos já tradicionalistas fãs de Burn My Eyes).
Diferente do que possa parecer, The Burning Red não é menos pesado que os anteriores. Esses elementos deixaram o álbum mais com mais variação de cadência e ritmo, resultando numa audição mais tranquila. A variação de estilos e texturas do álbum fez com que fosse um sucesso de vendas, mas a crítica não reagiu bem.

Na contra partida, eu já absorvi esse álbum como uma bela obra e fui conquistado justamente pelos elementos que incomodaram a muitos dos fãs. Outro ponto alto do álbum pra mim que foi desagrado para os fãs antigos, é o cover do The Police com Message In The Bottle que ficou espetacular.

Desse álbum podemos destacar as faixas: “Desire to Fire“, “The Blood, the Sweat, the Tears“, “Silver”,From This Day“, “Message In The Bottle” e a faixa título “The Burning Red”.

Data de lançamento: 10 de agosto
Gravadora: Roadrunner
Produção: Ross Robinson

Faixas: Enter the Phoenix, Desire to Fire, Nothing Left, The Blood, the Sweat, the Tears, Silver, From This Day, Exhale the Vile, Message in a Bottle, Devil with the King’s Card, I Defy, Five, The Burning Red.

Formação:

Robb Flynn – Vocais, Guitarra
Ahrue Luster – Guitarra
Adam Duce – Contra-baixo
Dave McClain – Bateria

Megadeth – Risk

Me lembro de ter comprado esse álbum junto com o Slipknot (citado acima). Minha excitação era enorme, pois o Megadeth é uma das minhas bandas favoritas DA VIDA.

Quanto ao Risk, até então, as únicas informações que eu tinha é que a bateria não teria mais o saudoso Nick Menza e Jimmy DeGrasso (ex Alice Cooper e Suicidal Tendencies) o substituiu. Tem também o fato de que a gravação havia ocorrido num estúdio em Nashville no Tenessee (capital da música country nos EUA). Informação essa que havia deixado a imprensa especializada em polvorosa. Pois tinha receio de vir um “Megadeth Country” como o que aconteceu com o Load do Metallica em 1996 (dizia a imprensa).

Minhas expectativas estavam realmente para uma sonoridade mais suave, pois os dois anteriores (os maravilhosos Youthnasia e Cryptic Writings) já tinham demonstrado uma certa tendência para composições mais “soft” misturadas as mais pesadas e tradicionais.

No início, achei estranho algumas introduções e até alguns instrumentos utilizados na gravação. A estrutura das músicas estava realmente mudada. De fato, houve um distanciamento do trash/speed/metal de outrora. Entretanto, ao entender que o experimentalismo e as mudanças foram intencionais, percebi que de algum modo, o resultado final do álbum fez parte da evolução do músico. No caso, o Dave Mustaine que pelo que me parece, acatou a sugestão do seu ex-colega de Metallica, o baterista Lars Ulrich que disse para o Mustaine que “ele devia correr mais riscos em sua música“. Pelo jeito o conselho foi colocado em prática.

Se você que sempre criticou a voz de “pato rouco” do Mustaine, saiba, esse é o melhor trabalho de voz dele em estúdio. As partes melódicas foram muito bem encaminhadas pelo produtor Dan Huff (que é um dos mais solicitados produtores de música country do EUA). Esse foi um dos pontos positivos, o ponto negativo pra mim foi a música Crush ‘Em, que realmente é um “pop descarado”. Apesar que, de um tempo pra cá eu comecei até gostar e achar divertida. Mas a parte ruim mesmo, é essa música ter sido parte da trilha sonora do filme Soldado Universal – O Retorno (1999), e isso sim é bem ruim (esse filme é péssimo).
Após mais de duas décadas depois, eu considero uma obra maravilhosa e que apesar de alguns detalhes questionáveis na produção do mesmo, existem músicas ali que se tornaram importantes para mim como: Insomnia, Prince Of Darkness, Breadline, Wanderlust e Ecstasy

Data de lançamento: 31 de agosto
Gravadora: Capitol Records
Produção: Dan Huff e Dave Mustaine

Faixas: Insomnia, Prince Of Darkness, Enter The Arena, Crush’Em, Breadline, The Doctor is Calling, I’ll Be There, Wanderlust, Ecstasy, Seven, Time: The Beginning, Time: The End.

Formação:

Dave Mustaine – Vocais, guitarras
Marty Friedman – Guitarras
David Ellefson – Contra – baixo
Jimmy DeGrasso – Bateria