TOP 5: álbuns que marcaram 1980 – parte 2

1980! Outro ano absurdamente emblemático na história da música mundial. É IMPRESSIONANTE a QUANTIDADE de registros históricos no último ano da década de 70! Já tivemos o TOP 5 parte 1 (https://roadie-metal.com/top-5-albuns-que-marcaram-1980/), e mesmo assim, não foi tarefa nada fácil para nós essa escolha. Artistas que explodiram no decênio que chegava perto do adeus, queriam mostrar sua força mediante as novas tendências que eclodiam com força total.

Tivemos estreias sensacionais! Na NWOBHM (new wave of british heavy metal), o debut autointitulado do Angel Witch e “On Through The Night”, Def Leppard. No pós-punk, a “criação” de seu maior representante, com “Boy”, do U2 (e olha que teve também “Closer”, Joy Division). Assim como o primeiro do futuramente estelar INXS. Bruce Springsteen chegava ao ápice com o duplo “The River” e Paul McCartney soltou a bela continuação de seu projeto totalmente solitário, “McCartney II”. O Genesis adentrava a música pop com “Duke” (totalmente antenado a sonoridade AOR radiofônica em voga, assim como “Departure”, do Journey) e Bowie também dava indícios disso com o “estranhamente acessível”, “Scary Monsters”.

A new-wave explodia com registros incensados de The Pretenders, B’52, Devo, The Cars e Elvis Costello and the Afractions. O punk “expansivo” do The Clash (“Sandinista”). E tome “metal alto nível”, com Accept (“I’m a Rebel“), o autointitulado do Michael Schenker Group e as meninas do Girlscholl (“Demolition”). Mas falando em sonoridades mais pesadas, foi DURO deixar de fora “Animal Magnetism”, Scorpions (dos clássicos “The Zoo” e “Make It Real”) e “Ready N’ Willing”, Whitesnake (o hino “Fool For Your Loving” e a irresistível faixa-título). No Brasil, o cenário pós-ditadura ainda estava devagar, com exceção da explosão “pop-rock-disco” de Rita Lee com o seminal “Lança Perfume”. MAIS UM ANO QUE RENDE MUITOS TOP 5! Mas vamos ao nosso da vez:

AC/DC – BACK IN BLACK

Muita ralação durante os anos 70, discos incríveis enfileirados e finalmente a consagração: “Highway to Hell” vende 500.000 cópias em solo americano, levando a banda australiana para outro patamar! O ano de 1980 adentra, os preparativos para o sucessor começam, quando de repente uma bomba trágica: no dia 19 de fevereiro, Bon Scott morre acidentalmente, engasgado no próprio vômito. Além do amigo de longa data que partia, perder o vocalista, frontman e compositor, justamente neste momento? Seria o fim do AC/DC? Com todos em frangalhos e sem perspectiva de futuro, o incentivo do pai de Scott foi fundamental: “Continuem, era isso que ele iria querer”. A motivação para seguir em frente com os trabalhos veio na premissa de homenagear o parceiro, mas Angus, Malcom & cia tinham outro desafio pela frente: ENCONTRAR OUTRO VOCALISTA! Tarefa nada fácil pelo que Bon representava frente ao grupo…

Testes em profusão, alguns nomes conhecidos, muitos nem tanto, até chegarem a Brian Johnson, vocalista do Geordie, sugestão de um fã e do produtor “Mutt” Lange. Detalhe: Bon Scott já o tinha elogiado anteriormente mediante os amigos do grupo, o que fortaleceu o “aval”. “Back in Black” saiu em 25 de julho de 1980, cinco meses após o ocorrido. A capa toda em preto já externava que o tom seria de homenagem. Mas nada de melancolia! A faixa-título soa como uma “marcha-fúnebre” acelerada, um “luto festivo” como celebração, e se tornou um dos maiores hinos da história do rock. A voz de Brian, mais rouca e com menos “bluezy”, acabou trazendo um toque de modernidade bem adequada a avaliação do público norte-americano (apesar de mais agressiva). Simultaneamente dialogava com uma cena metal que chegava com força total nesse ano. E surgia um dos maiores clássicos da música mundial! A maior “volta por cima” que uma banda cometeu!

O início devastador com os sinos de “Hell Bells”; a luxúria irresistível e mais acessível sonoramente de “You Shook Me All Night Long” (simplesmente indispensável em qualquer performance de strip ou pole dance!); “Rock and Roll Aint Noise Polution”, com o começo ao fundo ditado por Brian, como um pastor de igreja pregando de forma hipnótica (sugestão do produtor!); a pauleira balanceada de “Shoot to Thrill”; “Let put my Love Into You”, blues-rock de matador arranjo setentista; a diversão que fez o homenageado em questão dar um sorriso onde estivesse, de “What Do You Do for Money Honey”, “Have a Drink on Me” e “Shake a Leg”! Com vendas estimadas em mais de 50 milhões de LPs, fitas K-7 e CDs desde seu lançamento, é o álbum de rock’n’roll mais vendido da história e o segundo mais vendido de todos os tempos, perdendo apenas para “Thriller”, de Michael Jackson. A produção de “Mutt” Lange, redirecionou a sonoridade hard dos anos 80. REVOLUCIONÁRIO!

Lançamento: 25 de julho de 1980. Produção: Robert ‘Mutt” Lange. Gravadora: Atlantic Records.

JOHN LENNON & YOKO ONO – DOUBLE FANTASY

A pergunta que nunca cala… Se o ex-Beatle não tivesse sido brutalmente assassinado, “Double Fantasy” (lançado um pouco antes do ocorrido), teria tido o mesmo retumbante sucesso? Particularmente acredito que esse seria SIM o caminho natural. Após 5 anos afastados dos estúdios, por quererem se dedicar mais a vida caseira após o nascimento do filho Sean, o compacto com a clássica “(Just Like) Starting Over” (uma das melhores composições de John Lennon) e “Kiss, Kiss, Kiss” de Yoko do outro lado, chegou ao TOP 5 da parada americana. Obviamente a comoção pós-tragédia levou o álbum ao número 1, mas quem o adquiriu independente da motivação, não teve o que reclamar. Os pontos positivos eram muitos! A produção de Jack Douglas (Aerosmith, The Who, Patti Smith, New York Dolls) fugiu da sonoridade mais “suja” que permeou a obra do casal nos anos 70, trazendo grande frescor e soando mais moderna.

A parceria com Yoko Ono, foi como no líbelo político “Some Time In New York City”, de 1972. São 14 músicas em “Double Fantasy”, sendo que metade foi composta e é cantada por cada um deles, com as canções se complementando. Aliás, o material de Yoko, sempre MUITO criticado pelos fãs de John, é o mais bem sucedido até então. O canto inspirado na música tradicional japonesa estilo enka, com variações de entonação experimentais flertando ao bizarro, dialoga PERFEITAMENTE com a new-wave que aportava de forma avassaladora. Nunca as canções de Yoko fizeram tanto sentido como neste momento. Aliás, vale ressaltar o ALTO ASTRAL que o disco transmite. Se existe uma obra do casal que passe a leveza do amor que desfrutavam, é com certeza essa aqui. Mas o grande destaque, está nas composições brilhantes de Lennon.

Além da encantadora abertura com “(Just Like) Starting Over”, o registro nos proporcionou mais 3 clássicos: “Woman” (uma das músicas mais lindas já concebidas, tratou como uma “Girl’ amadurecida, já que era sobre Yoko), o desabafo “Watching the Wheels” e a tocante “Beautiful Boy (Darling Boy)”, feita para o filho. Aliás a “resposta” de Ono, “Beautiful Boys”, homenageando o amor pelos dois “homens da vida”, é ótima, assim como a dançante “Every Man Has a Woman Who Loves Him”, que recebeu muitos remixes ao longo da história (os DJs a amam!). John flerta incisivamente com o pop em “Dear Yoko”, mas rememora o rock’n’roll de outrora com as contundentes “Cleanup Time” e “I’m Losing You”. Enfim, soou como despedida pela triste circunstância, mas em altíssimo nível!

Lançamento: 17 de Novembro de 1980. Produção: Jack Douglas, John Lennon, Yoko Ono. Gravadora: Geffen.

RUSH – PERMANENT WAVES

Se tem algo que o Rush DÁ AULA, é em como fazer um álbum perfeito de transição sonora (“Caress of Steel” que o diga!). Mas obviamente, não apenas nesse quesito, é óbvio… E quando o disco em questão é um dos maiores clássicos da música? Pois é, o seminal “Hemispheres” (1978) apesar do sucesso, foi o canto dos cisnes da fase totalmente progressiva da banda. Os canadenses perceberam que o gênero não iria sobreviver a década seguinte, com as novas tendências que brotavam no cenário.

“Permanent Waves” escancara logo na abertura a simbiose musical que iria permear o Rush nos anos 80. “Spirit of Radio” (um dos maiores hinos do grupo), tem ecos de new-wave, punk, hard-rock, reggae (influência do The Police devidamente escancarada), e ao mesmo tempo sem descaracterizar a sonoridade indefectível do trio. Um marco! A introdução primorosa de Alex Lifeson, evolui para algumas dobradas de baixo e guitarra de tirar o fôlego, sempre acompanhados pela bateria primorosa do saudoso Neil Peart. Em seu andamento, percebemos uma canção de astral elevado em uma levada empolgante. Aliás, vale frisar que as letras de Peart deixaram de lado a ficção científica que tradicionalmente se impunham, para apostar em temas introspectivos e universais.  

“Freewill”, é mais um clássico concebido! Apesar do tom acessível, o virtuosismo “come solto” com solos do trio praticamente simultâneos. Também obrigatória nos shows a partir de então. As maravilhosas “Jacob’s Ladder” e  “Entre Nous”, retornam sutilmente os ecos progressivos. “Different Strings”  é uma balada singela, dotada de rara beleza. E para encerrar de vez a fase progressiva em alto estilo, a fantástica “Natural Science”, no alto dos seus quase 10 minutos, dividida em três temas diferentes (“Tide Pools”, “Hyperspace” e “Permanent Waves”), e tão complexa que Geddy Lee já assumiu que a reprodução ao vivo NUNCA se dava sem erros na execução. Já que estamos falando de TOP 5, “Permanet Waves” é item obrigatório nesse quesito para qualquer um dos fãs do grupo. E para MUITOS, o maior clássico!

Lançamento: 1 de Janeiro de 1980. Produção: Terry Brown. Gravadora: Mercury.

SAXON – STRONG ARM OF THE LAW

O Saxon adentrou o ano de 1980 com seu heavy-metal diferenciado “arrombando a porta” literalmente! “Wheels of Steel” lançado no primeiro semestre foi um sucesso absoluto, arregimentando vários clássicos eternos ao repertório, e era apenas o segundo registro autoral da banda. Natural que “Strong Arm of the Law” lançado no mesmo ano, soasse como uma continuação e isso realmente ocorre (o anterior finaliza com uma explosão, enquanto esse inicia com o mesmo recurso). A diferença é que aqui o processo vem acrescido de uns degraus a mais…

Pode parecer pouco tempo, mas Paul Quinn e Graham Oliver mostram notória evolução no trabalho das guitarras. Suas performances são assombrosas! Biff está ainda mais a vontade com seu jeito ÚNICO de cantar. Novamente o produtor e engenheiro Peter Hinton, tira um som de referência do Saxon. Enfim, um clássico concebido com louvor! Intro com explosão, trovão, e o petardo irresistível “Heavy Metal Thunder” não deixa “ficar pedra sobre pedra”. Um dos melhores inícios na história da música pesada oitentista. O encerramento é simplesmente a melhor música já feita pelos ingleses na minha modestíssima opinião, a espetacular “Dallas 1 PM”, um primor! Abertura e fechamento até os dias atuais, são clássicos mais do que obrigatórios nos shows. Assim como a cadenciada de ares épicos (que se repetem em “To Hell and Back Again”) faixa-título, com solos de guitarra que produzem “hipnose instantânea”, de tão incríveis.

“Taking Your Chances” e “Sixth Form Girls”, tem estrutura poderosa, com muitos insights melódicos. E ainda temos a deliciosa guinada hard de “Hungry Years”. Enfim, quer apresentar heavy-metal de primeiríssima para alguém? “Receito” esta maravilha aqui. Se não houver reações imediatas de arrepios, cabeça balançando e mãos emulando o ato de tocar, esta pessoa fatalmente NUNCA gostará deste tipo de som. Já no efeito contrário, “Strong Arm of the Law” foi responsável em iniciar MUITA GENTE nesse delicioso caminho sem volta! E assim estamos até os dias atuais…

Lançamento: 01 de setembro de 1980. Produção: Peter Hinton. Gravadora: Carrere Records.

VAN HALEN: WOMEN AND CHILDREN FIRST

Ficou praticamente determinado por crítica e público que o primeiro álbum homônimo e o último, “1984”, são os clássicos absolutos da fase com David Lee Roth perante os vocais da lenda. Mas pretendemos fazer justiça ao subestimadíssimo “Women and Children First”, o terceiro na discografia da banda. Asseguro que está no MÍNIMO no mesmo patamar dos registros citados aqui. Talvez o single escolhido pela gravadora não ter tido grande receptividade radiofônica e as vendagens tímidas do álbum, contribuíram para essa injustiça. A evolução coletiva foi tão absurda, que COESÃO SONORA é a palavra de ordem (primeira vez que eles trabalharam coletivamente em todas as composições). A técnica absurda dos irmãos Eddie e Alex faz toda a diferença, com Lee Roth mantendo o pique nas alturas, a festa é de arromba! Por fim, temos Michael trazendo sua força nos backing vocals e mantendo o ritmo do baixo pulsante de forma singular.

Não é um disco conceitual, mas se torna tarefa praticamente impossível não ouvi-lo de “uma tacada só”, a experiência é absurdamente irresistível! O flerte com hard, metal e primórdios do rock’n’roll (com incisões blues e country), soa perfeito e motiva o ouvinte totalmente, do início ao fim. Tanto que nos recusamos a destacar alguma canção solta, seria um pecado para a sinergia imposta em nível estratosférico pelo Van Halen em “Women and Children First”! “And the Cradle Will Rock…”, “Everybody Wants Some!!”, “Fools”, “Romeo Delight”, “Tora! Tora!”, “Loss of Control”, “Take Your Whiskey Home”, “Could This Be Magic?” e “In a Simple Rhyme” seguidas, e em alto e bom som, é uma das coisas mais fantásticas registradas em disco na história. EMBARQUE!

Lançamento: 26 de Março de 1980. Produção: Ted Templeman. Gravadora: Warner Music.





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