Uma viagem no tempo é algo que sempre exerceu fascínio no ser humano. Isso já foi retratado em filmes , de maneiras diversas, mas nada tem o poder de transportar uma pessoa ao passado como a música . Desde os primórdios , música remete a lembranças e quando isso acontece normalmente estamos diante de um clássico.O ano de 71 foi um ano emblemático pro rock n’ roll. Discos desse ano influenciaram e influenciam gerações até hoje , tanto pelo contexto em que foram concebidos (pressão de gravadoras , viagens lisérgicas regadas a lsd e “otras cositas más” , ocultismo , etc…) como pelo legado musical perpétuo que fizeram a diferença na música mundial. Confira agora 5 discos que não apenas mudaram os rumos da música como também pavimentaram uma das décadas mais produtivas e inspiradas do rock n’ roll. Parafraseando o saudoso Celso Blues Boy , “Aumenta que isso aí é rock n’ roll”.
Sticky Fingers – The Rolling Stones
A capa do disco já dava o tom do que estava por vir. Personificando o ditado da época onde perguntavam : “ você deixaria a sua filha sair com um Rolling Stone?” , os Stones soltam um saraivada de rocks safados como Brown Sugar , Bitch , Can’t You Hear Me Knocking , alternando com momentos sublimes do quilate de Wild Horses e Sway . O rock n’ roll característico da banda emerge com Dead Flowers ( uma canção sacolejante e cheia de energia ) . Os Stones provaram ser essenciais a partir desse disco , e foram se consolidando ainda mais , se tornando não apenas uma lenda do rock mas podemos afirmar com certeza que são o próprio rock n’ roll encarnado.
Rolling Stones – Sticky Fingers
Data de lançamento: 23 de abril de 1971
Gravadora: Rolling Stones Records / Atlantic Records
Formação:
Mick Jagger – Vocal,guitarra acústica e elétrica,percussão
Keith Richards – Backing vocal,guitarra e violões
Mick Taylor – Guitarra,violão e slide guitar
Charlie Watts – Bateria
Bill Wyman – Baixo e piano
Faixas:
Brown Sugar,Sway,Wild Horses,Can’t You Hear Me Knocking,You Gotta Move,Bitch,I Got The Blues,Sister Morphine,Dead Flowers,Moonlight Mile.
Fragile – Yes
Um disco que começa com uma música como Roundabout já merece o status de clássico. A formação clássica do Yes , contava com Rick Wakeman , Bill Brufford , Jon Anderson , Chris Squire (R.I.P.) e Steve Howe , e lançou álbuns fenomenais , com incursões na música clássica e erudita , jazz , polirritmias e experimentalismos , fazendo do Yes um dos grupos mais virtuosos da época. Fragile foi o quarto álbum dos caras e o segundo a contar com Steve na guitarra. Após o aclamado Yes Album ( lançado apenas 6 meses antes ) , a banda mostrou que sua criatividade estava em alta dando à luz esta verdadeira obra de arte , que além da já citada Roundabout , trazia uma peça de Brahms arranjada por Wakeman , uma composição “vocal” de Jon Anderson chamada We Have Heaven . Compostas por Squire , Bruford e Howe vem Five Per Cent For Nothing , The Fish e Mood for a Day . Esse álbum teve impacto direto no Rock Progressivo , transcendendo os limites do rock da época e influenciando diretamente no surgimento de inúmeras bandas do estilo no futuro , além de preparar o caminho para seu antológico álbum Close to The Edge de 1972.
Yes – Fragile
Data de lançamento: 01 de novembro de 1971 (Reino Unido) e 04 de janeiro de 1972 (E.U.A.)
Gravadora: Atlantic Records
Formação:
Jon Anderson – Vocal
Steve Howe – Guitarras acústicas e elétricas
Chris Squire – Baixo , vocal
Rick Wakeman – Órgão hammond,piano,Rmi 368 electra-piano,mellotron,moog
Bill Bruford – Bateria e percussão
Faixas:
Roundabout,Cans and Brahms,We Have Heaven,South Side of The Sky,Five Per Cent for Nothing,Long Distance Runaround, The Fish (Schindleria Praematurus), Mood For A Day, Heart Of The Sunrise, America **, Roundabout (Early Rough Mix)** .
**Faixas bônus acrescentadas na versão masterizada, relançada em 2002.
Who’s Next – The Who
A viagem iniciada com Tommy pressionou Pete Townshend a lançar um sucessor tão poderoso quanto a ópera rock lançada 2 anos antes. Com essa idéia em mente , Pete começou a trabalhar numa outra ópera rock chamada Lifehouse , inclusive com planos de lançar um filme. As gravações chegaram a ser iniciadas e contava com participações do calibre de Al Kooper no órgão e Leslie West na guitarra. Por algum motivo o guitarrista se desiludiu e decidiu abortar o projeto , chegando a ter um colapso nervoso devido ao fracasso do mesmo (reza a lenda que o Who quase encerrou suas atividades nesse período). Foi então que o grupo decidiu abandonar o conceito inicial (Lifehouse) e se concentrou em canções mais livres , sem um tema comum unindo-as. O resultado foi o disco mais aclamado pela crítica e público , considerado o melhor disco da banda , entrando pra lista dos 200 álbuns definitivos no Rock n’ Roll Hall of Fame. O uso de sintetizadores até foi mal visto por uma parte dos fãs , mas estes mesmos logo se renderiam à força de canções que viraram clássicos instantâneos como Baba o’ riley e Won’t Get Fooled Again. O disco conta ainda com a divertida My Wife e a balada Behind Blue Eyes , canção posteriormente assassinada pelo Limp Biskit numa versão cheia de incursões pelo hip-hop. Na edição remasterizada foram incluídas uma versão de Marvin Gaye para a canção Baby Don’t You Do It , entre outras músicas. Ao deixar as pressões de lado e se concentrar apenas na música , o The Who lançou um álbum que é justamente o meio termo entre a grandiosidade de Tommy e a urgência sonora e a crueza de My Generation.
The Who – Who’s Next
Data de lançamento: 2 de agosto de 1971
Gravadora: Decca Records (E.U.A.) ,Polydor Records ( Reino Unido )
Formação:
Roger Daltrey – Vocal
Pete Townshend – Guitarras
John Entwistle – Baixo
Keith Moon – Bateria
Faixas:
Baba O’Riley,Bargain,Love Ain’t For Keeping,My Wife,The Song Is Over,Getting In Tune,Going Mobile,Behind Blue Eyes,Won’t Get Fooled Again.
A versão remasterizada traz ainda as seguintes faixas: Pure and Easy,Baby Don’t You Do It,Naked Eye,Water,Too Much of Anything,I Don’t Even Know Myself,Behind Blue Eyes.
Masters of Reality – Black Sabbath
Após terem gravado o disco de estréia em apenas 2 dias e o segundo (Paranoid) em menos de 1 semana também , o quarteto de Birmingham recebeu de fevereiro a abril de 71 para gravar um novo disco. Ao ter mais tempo , Bill Ward pode gravar uma bateria mais coesa e pesada da mesma forma que Geezer Butler fez com que seu baixo ficasse mais cadenciado e grave , bem como Tony Iommi e seus experimentalismos no violão clássico. A voz de Ozzy soava ainda melhor , encaixando perfeitamente na atmosfera mais densa proposta no novo trabalho. O resultado foi um álbum que serviu pra definir (assim como os anteriores) mais algumas vertentes do metal como o Doom Metal , Sludge Metal e Stoner. O clima arrastado , os instrumentos afinados 1 tom e meio abaixo da afinação padrão e as letras melancólicas e pessimistas de Geezer casaram perfeitamente , dando à luz uma nova espécie de heavy metal e influenciando todo o rock pesado a partir daí. Sweat Leaf é um ode a cannabis (adorada por Ozzy e seus comparsas) enquanto After Forever fazia uma espécie de mea culpa com o Cristianismo ( meio que atacado em outras letras dos álbuns anteriores). Bill Ward comenta sobre o assunto: “Anteriormente falamos sobre o lado negro das coisas e ainda penso no Sabbath como uma força escura, mas não estávamos descartando o Cristianismo.” Lógico que o lado negro da força estaria presente como em Lord Of This World após um interlúdio clássico chamado Orchid. Esse álbum é um marco do metal pesado,não podendo jamais ser ignorado por quem diz gostar de heavy metal. Nem dirija a palavra a quem não conhece esse disco.
Black Sabbath – Masters of Reality
Data de lançamento: 21 de julho de 1971
Gravadora: Vertigo (Reino Unido),Warner Brothers,Castle,Rhyno,Sanctuary (E.U.A.)
Formação:
Ozzy Osbourne – Vocal
Tony Iommi – Guitarra, sintetizador em “After Forever”, flauta e piano “Solitude”
Geezer Butler – Baixo
Bill Ward – Bateria
Faixas:
Sweat Leaf,After Forever,Embryo,Children of The Grave,Orchid,Lord of This World,Solitude,Into the Void.
IV ( Four Symbols) – Led Zeppelin
Conhecido como Four Symbols , o quarto álbum do Led Zeppelin nunca recebeu um nome oficial. Na capa do disco apenas um camponês, segurando um feixe de feno , uma imagem que acabou se tornando emblemática por si só.
Após as duras críticas feitas ao álbum anterior , o maravilhoso ”Led Zeppelin lll” , a banda decidiu lançar um disco que não contivesse nenhuma informação sobre a banda , ou fotos , nada importaria a não ser a música. Para a gravadora isso seria um suicídio comercial , mas o Led , tal qual um Zeppelin de chumbo desembestado , comprou a briga e em novembro de 1971 o álbum foi lançado. De cara a clássica Black Dog abria caminho com uma vibe poderosa , como se estivesse num jogo de perguntas e respostas entre a voz e o instrumental. Em seguida Rock And Roll , majestosa , pulsante e elevando ainda mais os decibéis no melhor estilo sugerido pela faixa título. The Battle of Evermore surge com uma proposta mais folk , abordada no álbum anterior , dando uma chance para os ouvintes respirarem. O mesmo clima seria mantido na belíssima e triste Going To California. Misty Mountain Hop é uma canção sacolejante e dançante , como se a banda estivesse em meio a uma festa. Mas o ponto alto do disco está em Stairway to Heaven. Lírica , progressiva, melódica, heavy , e uma série de outras definições lhe caberiam perfeitamente. Uma obra prima que apesar de ignorada por um de seus autores (Robert Plant demonstra incrível má vontade pra cantar essa canção até hoje) , possui uma das letras mais enigmáticas do rock , dando margens para várias especulações , inclusive sobre o suposto envolvimento de Jimmy Page com a magia negra e satanismo. A música possui um dos mais belos solos de guitarra da face da terra (eleito várias vezes em inúmeras revistas especializadas), onde Page deixa de fato o clima da música transbordar através de seus dedos , quase como que num orgasmo sonoro frenético.O fato é que esse foi o principal lançamento de 71 , e mesmo com outros álbuns importantes lançados no mesmo ano , esse disco é ítem obrigatório pra qualquer um que diz amar rock clássico. O Led Zeppelin reinou absoluto na década de 70 , e a prova está aqui , transformada num clássico atemporal e lendário.
Led Zeppelin – IV ( Four Symbols)
Data de lançamento: 8 de novembro de 1971
Gravadora: Atlantic Records
Formação:
Robert Plant – Vocal e Gaita
Jimmy Page – Guitarra,Violão e Bandolim
John Paul Jones – Baixo,Teclado e Sintetizadores
John Bonham – Bateria e Percussão
Faixas:
Black Dog,Rock And Roll,The Battle of Evermore,Stairway to Heaven,Misty Mountain Hop,Four Sticks,Going to California,When tThe Levee Breaks.