O ano de 1967 foi extremamente importante para a música de uma forma geral, mas para o rock, e até para o que viria a ser o heavy metal no futuro não tão distante, talvez tenha sido até mais. Como vimos na primeira parte do Top 5 de 1967 (clique aqui para ler), grupos como Cream e a guitarra mágica de Eric Clapton em seu “Disraeli Gears”, e o lendário Jimi Hendrix com “Are You Experienced”, lançaram álbuns incendiários e revolucionários que influenciaram muitos guitarristas que pouquíssimos anos depois estariam despejando riffs de hard rock e heavy metal inspirados neles. Nesta segunda parte do Top 5 – 1967, tentei trazer bandas que foram influências grandes para outros gêneros do rock, como o progressivo, o experimental e o avant-garde, a segunda geração mod e até grupos que ultrapassaram a esfera musical e viraram ícones na cultura popular de forma geral. Como em qualquer lista, muitos discos icônicos ficaram de fora: cinco por já estarem na primeira lista feita ano passado, e outros por dolorosa opção minha. Alguns merecem destaque nessa introdução, como Axis: Bold as Love (Jimi Hendrix), John Wesley Harding (Bob Dylan), Younger Than Yesterday (The Byrds) e Procol Harum (Procol Harum). Vamos aos que chegaram até a postagem principal:
The Mothers of Invention – Absolutely Free
Frank Zappa, um dos músicos mais geniais que já passaram por esse mundo, liderava a banda The Mothers of Invention antes de continuar sua carreira sob seu próprio nome alguns anos mais tarde. Porém, entre 1966 e 1969 lançou nada menos do que 7 álbuns de estúdio com o The Mothers, sendo uma espécie de “papa” do experimentalismo durante a década de 60 e também na de 70. Em Absolutely Free, o segundo álbum da banda, já podemos ouvir e sentir toda a energia criativa de Zappa, seu lado ácido, humorístico e suas diversas influências que iam do jazz à música clássica, passando, claro, pelo rock ‘n roll, que era a base de tudo e também pelo que viria a se tornar o rock progressivo. “Plastic People”, “Big Leg Emma”, “Call Any Vegetable”, “Son of Suzy Creamcheese” e “The Duke of Prunes” são exemplos de faixas que são tão diferentes umas da outras, mas que soam pertinentes em um mesmo disco, pois contam com a marca de Zappa como compositor. Passados quase 30 anos de sua morte, sua influência pode ser ouvida e sentida em uma gama enorme de gêneros e bandas, que vão de Ed Motta a System of a Down.
The Who – The Who Sell Out
Terceiro LP do The Who, e último da fase mais power pop-rock psicodélico da banda, The Who Sell Out é um disco conceitual, mas que as canções não necessariamente contam a mesma história. O álbum foi feito como se fosse uma transmissão de uma rádio pirata chamada Radio London, com comerciais entre as faixas e tudo. Era uma ironia ao fato do próprio The Who fazer comerciais de rádio naquela época. Um dos maiores clássicos dos caras está neste trabalho: “I Can See For Miles”. The Who Sell Out fecha uma trilogia de discos da banda (com My Generation de 1965 e A Quick One de 1966) que representou a fase mais influenciada pelo mod, que foi uma subcultura originária de Londres no final da década de 50 e que no final dos anos 70 ressurgiu com bandas como The Jam, que eram muito influenciados pelo The Who dessa época. Aqui no Brasil tivemos como representantes mod os paulistanos do Ira! que sempre reverenciaram o movimento, o The Jam e o The Who. A partir de seu trabalho seguinte, a sonoridade do The Who ficou mais roqueira, com mais influências de hard rock e influenciou toda uma nova geração também, sendo possível dizer ser uma banda que influenciou dois movimentos diferentes com suas diferentes fases musicais.
The Doors – The Doors
Quando me referi a bandas que ultrapassaram a esfera musical e chegaram à cultura pop na introdução dessa postagem, embora possa relacionar com outras aqui publicadas, estava me referindo especificamente ao The Doors e Jim Morrison. Morrison morreu em 1971 e permanece até hoje não só como um ídolo para muitos, mas também como um símbolo daquela geração; algumas de suas fotos são icônicas e transformadas em camisetas, adesivos e muito mais pelo mundo todo, transformando-se num ícone pop. Assim como acontece com camisetas do Ramones, já conheci quem usasse uma com Jim Morrison estampada e não sabia quem ele era. O The Doors lançou dois álbuns em 1967, este e Strange Days. Particularmente, prefiro Strange Days, mas tudo neste álbum de estreia da banda se tornou mais clássico e influência para todas as próximas gerações, desde às músicas até às artes. Estão aqui os dois maiores clássicos da banda: “Break on Through (To the Other Side)” e “Light My Fire”. Há ainda “Alabama Song”, “The End” e a clássica versão para “Back Door Man”, escrita por Willie Dixon e gravada por Howlin’ Wolf. Por isso tudo ele merece estar aqui.
The Rolling Stones – Their Satanic Majesties Request
Este é considerado um álbum “cult” dos Stones, pois quando lançado não foi bem aceito e conforme os anos foram passando, as pessoas foram indo do aceitamento a ele para o amor por ele. Nem mesmo Jagger e Richards o pouparam nos anos seguintes ao seu lançamento, porém merece estar em uma lista dessas justamente por ser um ponto importante na história da banda. Muitos criticam este trabalho por ser uma tentativa dos Stones em ter o seu próprio “Sgt. Peppers”, fazendo algo mais experimental e psicodélico. Por outro lado, ele foi o ponto de mudança onde deixaram aquela pegada de um rock n’ roll mais inocente (se é que posso usar esse termo quando se trata de Rolling Stones) de sua discografia prévia, partindo para um rock n’ roll mais malicioso e mais “bad boy” a partir do seu LP seguinte, Beggars Banquet. Destacam-se aqui “Citadel”, “She’s a Rainbow”, “The Lantern”, “On With the Show” e claro “2000 Man”, anos depois regravada pelo Kiss.
The Moody Blues – Days of Future Passed
Há um certo debate na comunidade de fãs de rock progressivo sobre quando e em qual disco o gênero de fato nasceu. A maioria defende que o campeão é “In The Court of the Crimson King”, do King Crimson, em 1969. Outros pensam que foi “Sgt. Peppers”, dos Beatles ou “Freak Out!”, do The Mothers of Invention. E há também aqueles que julgam que a mistura de experimentalismo, rock n’ roll e música erudita de bandas como Procol Harum e The Moody Blues foram os precursores em 1967. Independente do que tenha sido, todos tem sua marca de importância no surgimento do gênero. E representando a música progressiva nessa postagem, trago Days of Future Passed, segundo e ousado álbum do The Moody Blues, gravado com a London Festival Orchestra. Considerado um dos primeiros álbuns conceituais na história do rock, o trabalho versa sobre um dia normal: do nascer do dia ao pôr do sol. Da faixa “The Day Begins: The Day Begins/Morning Glory” até “The Night: Nights in White Satin/Late Lament”. E é exatamente essa última que merece o destaque: a canção se tornou um clássico sessentista que ultrapassou gêneros e décadas. Até hoje escuto minha mãe cantarolando essa canção sem nem ter ideia sobre qual é o nome da banda. Outros destaques: “Tuesday Afternoon” e “The Morning: Another Morning”.