The Stooges: 50 Anos do álbum de estreia

Em diversas oportunidades, falamos aqui sobre o cinquentenário de álbuns vinculados ao conceito de “proto-heavy”: Iron Butterfly, Steppenwolf, Blue Cheer… Mas a ebulição criativa de 1969 apontava para direções e contextos diversos. O “proto-punk” seria outro termo a ser popularizado nos léxicos musicais do futuro. No começo daquele ano, a cidade de Detroit, no estado americano de Michigan, seria o berço do seminal álbum ao vivo “Kick Out The Jams”, do MC5. Dentro do mesmo estado, a cidade de Ann Arbor não deixaria o segundo semestre passar em branco e o auto intitulado “The Stooges” seria o primeiro registro de uma força da natureza que encarnou, de forma quase sobrenatural, a imagem e a resistência do réptil no qual buscou inspiração para a sua alcunha: Iggy Pop.

O nome da banda foi inspirado pela clássica trupe de humor Os Três Patetas. A música gerada era Rock de garagem na interpretação mais literal do termo e o conceito de produção foi abordado na literalidade mais ampla. Sendo um dos líderes da revolução psicodélica e experimental americana, John Cale, do Velvet Underground, permitiu que tudo fosse captado de forma crua, orgânica, direta, sem filtros para refinar. Batidas tribais e guitarras alimentadas por fuzz e wah-wah são a receita da faixa “1969”. Se Iggy era o elo perdido entre Mick Jagger e Johnny Rotten, isso ficou evidente na interpretação de “I Wanna Be Your Dog”, com o ritmo hipnótico que estimulou a releitura de discípulos tão diversos quanto Sonic Youth e Slayer.

As semelhanças com Jagger não são aleatórias, pois Iggy era um confesso admirador tanto do vocalista dos Rolling Stones quanto de outra figura icônica dos anos 60, Jim Morrison. Os dez minutos do mantra “We Will Fall” bebem na fonte do The Doors, apesar das diferenças óbvias, pois o barítono de Jim não encontrava correspondência na languidez chapada de Iggy. Nesse caso, a conexão era mais de postura de palco.

“No Fun” é o retrato minimalista da geração que despontava para os palcos longe do Festival de Woodstock. O solo de Ron Asheton se assemelhava a evoluções ao redor de uma única nota, enquanto que a cozinha do irmão Scott Asheton na bateria e do baixista Dave Alexander mantinha a rotação em velocidade constante. Pode se aferir que não há tantas diferenças significativas entre esta e a seguinte “Real Cool Time”, mas a curta duração desta última não se trata de mero acaso, pois a banda mentiu ao dizer que tinham oito músicas para colocar no álbum, quando na realidade só possuiam três. Pressionados com a possibilidade de perderem a oportunidade da gravação, criaram três canções em uma noite e as tocaram pela primeira vez no estúdio. “Ann” ainda é uma das cinco originais e quase se assemelha a uma balada, alterada pela lisergia de sua parte final. As duas últimas faixas, “Not Right” e “Little Doll”, são da mesma sessão criativa da véspera da gravação, sendo que a última apresenta mais variações entre as três.

Os marketeiros das gravadoras iriam explorar a imagem exótica de Iggy colocando-o sozinho na capa dos próximos álbuns, passando também a creditar os discos como Iggy Pop & The Stooges, mas o conjunto inicial, mais precisamente focado em Iggy e nos Ashetons, permanece como os autores do manual prático de Rock´n´Roll, cheio de lições para aqueles que não queriam seguir lição nenhuma.

Formação

Iggy Pop – vocal

Dave Alexander – baixo

Ron Asheton – guitarra

Scott Asheton – bateria

Músicas

01 1969

02 I Wanna Be Your Dog

03 We Will Fall

04 No Fun

05 Real Cool Time

06 Ann

07 Not Right

08 Little Doll

Encontre sua banda favorita