Falar de bandas progressivas nos remetem a ouvir longas músicas e viagens psicodélicas, “com ou sem substâncias”, para poder conectar com a complexidade de instrumentos e o lirismo de um tempo que existiu entre os frenético anos 60 e os inflamados anos 80.

Se você tem por volta de 40 anos, certamente ouviu porque alguém mais velho te ensinou, se você tem mais que isso, é porque de alguma forma viveu essa fase e se você tem uns 30 anos, certamente pouco aprecia (porque pouco conhece do estilo). A verdade é que cada geração tem seu saber e vivemos conforme o que nos é apresentado nos meios de comunicação ou nas influências de alguém. Mas alguma coisa nos liga de forma inexplicável: A universalidade da música.

Com minha filha de 14 anos, iniciante no mundo do canto de rock e jazz, a descoberta dos anos 70 foi através do spotify que magicamente apresentou uma banda que sequer imaginei que pudesse tocar seu coração: Os Jethro Tull. Parece que tudo tem seu caminho perfeito quando se trata de música, pois ela é atemporal e cheia de despertares que nem imaginamos.

Ao mesmo tempo que ela dedicou sua opinião â mim, soube que haveria o show desta banda onde moramos em Portugal. Além de ter todo interesse em assistir, eu desejei que esse fosse o primeiro show da sua vida, pois com certeza seria uma experiencia edificante e experiente, pois era algo já feito há décadas. Não sabiamos o resultado visto que hoje o interesse dos mais jovens está ligado à massiva procura do que toca os jogos e as redes sociais, mas tudo era propício e oportuno.

E assim, fomos ao Super Bock Arena, no Porto, para que ela pudesse ter este momento. E a magia se fez para mim, para ela e para quem via aquilo pela primeira vez. O The Prog Years, foi uma agradável experiencia de encontro com o moderno e antigo, num misto de música madura com as enormes telas altamente deslumbrantes de vídeos que conversavam com o som, com um sutil psicodelismo, a realidade atemporal e o encanto de Ian Anderson, que na sua imagem “SACI” ao tocar a sua flauta transversal em um pé, divide o seu talento com a incrivel banda formada por jovens e antigos. Uma fluência impressionante.

 Já não se via seus olhos arregalados e cabelos longos dos tempos em que os vídeo clipes mostravam a louca imagem daquele que formou as bases do progressivo. No lugar, um senhor de idade extremamente ativo, que mantinha seu espírito jovem com uma intensidade impressionante e sedutora. A banda é atualmente formada por Ian Anderson, Joe Parrish, Scott Hammond, David Goodier, John O’Hara.

A banda Jethro Tull, rompeu os limites da pandemia e nos deu a sorte de vê-los sentados num grande pavilhão, com as emoções à flor da pele, com a tremenda vontade de levantar e sair dançando o entusiasmante som de sua voz e de seu conjunto tão harmónico. Mesmo de máscaras e nos sentindo completamente seguros, o nosso espírito viajou incansável naquelas duas partes do concerto, separados pela homenagem ao progressivo e uma tremenda critica politico-social deste mundo em que vivemos. Tudo numa ode ao passado, ao presente e ao futuro

Uma coordenação perfeita entre a homenagem às origens, a realidade e o que podemos fazer com o que temos, oportunamente em um mundo que cheira uma nova guerra mundial.

Pretendo não fazer spoiler, mas sim uma homenagem ao encanto deste concerto.

Com lindas imagens de fundo, numa cadencia perfeito com a musicas pudemos estar de encontro com o universo de canções como Nothing is Easy, Thick as a brick, Living in the past, Hunt by Numbers, Wicked Windons e My God, levando a plateia em êxtase com palmas em pé, de alguns realmente impactados com tamanho qualidade do espectáculo.

Após intervalo, a surpreende segunda parte, nos levou para submundo das realidade das redes sociais, o universo politico, com fortes imagens de governantes políticos e apertos de mãos contraditórios, que de alguma forma, representam a separação de países, povos e ideologias. Sem esquecer de outros clássicos como Locomotive Breath e incrível versão de Aqualung com imagens de mendigos e o olhar esquecido do sofrimento e abandono humano. Uma critica ao vicio às redes sociais e parte do novo disco The Zealot Gene também se fizeram presentes. A festa acaba com um suspiro de esperança, e mensagem indefectível sobre a paz, com todas as bandeiras que pude identificar e não faltou a do Brasil e a de Portugal. Uma grande imagem que unia no final um grande e forte abraço de todas as nações, para emocionar e nunca mais esquecer, fazendo nossa história tão óbvia sobre a importância da união, do fim do racismo, da xenofobia e tudo que separa o humano um do outro, pelo bem-estar de todos.

No final do concerto, como estava sentada longe de minha filha, soube que ela verteu verdadeira emoção com algumas lágrimas e é raro ver isso em seu rosto. Não poderia dizer que a noite foi mais perfeita, e ir embora nos trouxe um certo tipo de entorpecimento calado e maravilhado de que a música não tem fronteiras nem do tempo, nem da idade, nem dos povos. A tour The Prog Years continua pela Europa.

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