A proposta não é apenas de soar de maneira intimista. Dentro da performance inicialmente delicada ofertada pelas notas doces do teclado existem nuances de uma dramaturgia pungente que chega a beirar um torpor que, nitidamente, esconde um sofrimento de natureza lancinante. Inclusive, é interessante perceber que os propositais espaçamentos entre uma nota e outra acaba amplificando a sensorialidade do drama presente na composição. E mesmo na presença puramente narrativa da voz levemente grave do vocalista, esse detalhe sentimental não diminui. Essa é a verdadeira essência de The Summons, uma faixa introspectiva que garante uma pungência estarrecedora que toca e captura o ouvinte em sua plena totalidade.
Diferente da canção anterior, mas curiosamente mantendo a mesma veia introspectiva, a presente faixa é regida por uma introdução puxada por uma linha lírica de caráter feminino, doce e ululante. Diante dela, inclusive, o ouvinte é capaz de perceber boas notas de crueza pairando livremente em cada palavra proferida em razão da identidade que esse timbre esboça. Surpreendentemente, a canção é tomada pela entrada marcante de um violoncelo ilustrado perante uma sonoridade um tanto grave que, audaciosamente, caminha por uma linearidade que propõe um diálogo direto com a outra camada dramática: a d violino e de sua valsa amorfinante, mas visceral. Construída perante um lirismo equilibradamente dividido entre interpretações assumidas por uma voz femininas e outras masculinas, Echo Couriers se consagra como uma composição de veia melancólica bastante intensa, o que é capaz de capturar o ouvinte em razão de sua dor intensa.
Nesse período introdutório, não existe grandiosidade, brilhantismo ou qualquer sinal de firula instrumental. É apenas o piano caminhando por entre suas notas graves perante um andamento amaciado, mas drástico e lancinante. A cada passo dado pelo instrumento, passos esses que são pesados e duros, o ouvinte consegue sentir não apenas a dor, mas o lamento e, essencialmente, o remorso transpirando de sua identidade sônica. O interessante, porém, é também salientar a natureza etérea de Voice Inside The Glass obtida especialmente em razão da forma como o enredo lírico é interpretado.
Fugindo completamente das paisagens sônicas anteriormente apresentadas, Masks Are Mandatory leva o ouvinte a caminhar por um terreno pulsante, sensual e curiosamente sorridente, o que é, de fato, surpreendente. Sincopada e caminhando perante os terrenos estético-estruturais tanto da new wave quanto do funk, uma combinação um tanto gananciosa, a canção acaba flertando com a paisagem sônica de Let’s Dance, single do David Bowie. A partir daí, muito além da new wave e do funk, a presente faixa apresenta flertes também com o dance pop e o pós-disco.

É possível descrever The Doppelganger Trials com algumas poucas palavras. E elas seriam: cinemático, versátil, plural e eclético. Porém, tratá-lo dessa forma soa um tanto duro e rígido, sem a possibilidade de um estudo mais abrangente. Afinal, eis aqui um produto que pede por profundidade. Até porque, cada um de seus 21 títulos, além de serem agraciados por muitas camadas, são, à sua maneira, profundos.
E a profundidade aqui também pode ser entendida nas questões sensoriais que o álbum tão bem trabalha perante o comando do Dark Matter Rhapsody. No trabalho, o ouvinte pode se deparar com o dramático, com o soturno, com o melancólico. Pode dialogar com o introspectivo, mergulhar na delicadeza e ser provocado pela sensualidade. Tudo perante uma ótica cristalina.
Tais detalhes, ainda que sejam muito bem destacados perante as primeiras quatro canções da sequência de faixas do material em razão, inclusive, das posturas despretensiosas que elas oferecem, são bem perceptíveis também nas outras músicas. Até porque, The Doppelganger Trials é, como um todo, um produto de identidade inquestionavelmente teatral.
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