Hoje é dia de Tá Na Letra! No Tá Na Letra você fica por dentro de interpretações sobre o significado das músicas. Claro que interpretações distintas são válidas, afinal, a arte não possui verdade absoluta e cada um entende a mensagem de uma forma. Aqui nesta série tentamos colocar apenas mais uma possível compreensão da música. A música de hoje é Puteiro em João Pessoa da banda Raimundos.
No Tá Na Letra você fica por dentro de interpretações sobre o significado das músicas. Claro que interpretações distintas são válidas, afinal, a arte não possui verdade absoluta e cada um entende a mensagem de uma forma. Aqui nesta série tentamos colocar apenas mais uma possível compreensão da música. A música escolhida de hoje é Puteiro em João Pessoa da banda de Hardcore Raimundos.
Raimundos é uma banda de Hardcore que teve o início de seus trabalhos em Brasilia – DF, no ano de 1987. A banda teve grande influência de músicas regionais nordestinas, uma vez que alguns de seus integrantes tinham familiares da região e muito convívio por isso. Em muitas músicas podemos ver uma sonoridade próxima de um Baião e de um Forró. Com isso, uma constante definição dos trabalhos da banda é Forrocore.
O nome Raimundos é uma homenagem a uma das bandas preferidas dos integrantes: Ramones. Para deixar a banda com um perfil mais brasileiro, escolheram um nome que se remetia à banda homenageada, porém que pudesse ter um perfil bem regional e nordestino. Raimundos fora, com certeza, uma ótima escolha de nome.
A música escolhida de hoje é Puteiro em João Pessoa, o primeiro grande sucesso da banda. A música encontra-se no disco Raimundos, lançado em 1994.
Puteiro em João Pessoa
Oh, menino, o que é isso? Vocês beberam, foi?
O que foi que aconteceu?
Eu quero é rock, menino, isso não é rock não
”Oumm” o que, menino, para com isso, logo
Eu quero é rock!
Na na na é o Diabo!
A vida me presenteou
Com dois primos já marmanjo
Muito justo era o Augusto
E o safado era o Berssange
Numa tarde ensolarada
toda aquela criançada tomando refrigerante
E com a família embebedada
Foi mais fácil armar a bimbada
”Prum” recém adolescente
Pois foi Berssange, primo velho e cancrado
Que com muito do cuidado
Chegou pra Augustinho e disse: “Tu visse?”
Dudu já tá alucinado, já é meio caminho andado
Pra rolinha comer alpiste
E pro rapaz não ficar triste
Nós vamo onde as nêga são ativa
Não há em toda João Pessoa lugar melhor que o Roda Viva
E foi pra lá que nóis rumamos, quase nos desenfreamos
Nóis num tinha nenhum plano e os cabra foram saindo
E eu atrás ia gritando:
“Onde é que cês tão me levando
Voltar buscar ”mâinha” ela ficou no bar sozinha”
Ô, menino abobado, deixe mâinha pra painho
Venha comigo e com Augustinho
Tu vai ser inaugurado
Pois tu sabe, na família, nunca teve afrescalhado
Chegar no Roda Viva tu vai ser homenageado
Quando eu cheguei no recinto, o forró já tava bravo
Bando de nêgo suado dançando com as rapariga
E o forró comia solto, tinha um velho dos óio torto
De tanto beber cachaça e disse:
“Essa menina ela só vai te deixando arretado”
Meu primo me olhou de lado e disse: “coitado”
Era uma quenga fedorenta, daquelas das mais nojenta
Mas se você não aguenta você leva para o quarto
Ela pegou no meu pau, pôs a boca e depois ficou de quatro
Foi num puteiro em João Pessoa
Descobri que a vida é boa
Foi minha primeira vez
Foi num puteiro em João Pessoa
Descobri que a vida é boa
Foi minha primeira vez
Foi num puteiro em João Pessoa
Descobri que a vida é boa
Foi minha primeira vez
A música é uma história contada em primeira pessoa e baseada em fatos reais: ela conta o dia em que Dudu (apelido de Rodolfo Abrantes, líder e vocalista do Raimundos no início) perdeu a virgindade em um puteiro na cidade de João Pessoa – PB.
O fato ocorreu no fim dos anos 80 quando a família de Rodolfo passava as férias em João Pessoa – PB. Até os nomes colocados na música são verdadeiros. O tal Bessanger, que fora citado como o principal influenciador da proeza realizada, era primo do pai de Rodolfo, por isso era mais velho.
Em um dos dias das férias, ele e Augusto resolveram levar o menino até o “Roda Viva”, a zona mencionada na música. Segundo os primos, era uma tradição da família fazê-lo com os garotos que estavam na adolescência.
Bessanger já era frequentador da casa, então levar o garoto lá para “ser inaugurado” foi ainda mais fácil. Já cansado das reclamações de Rodolfo sobre não conseguir uma namorada, o primo juntou-se a Augustinho e foram até à zona para manter a tradição da família, já que, como diz na música “Tu sabe, na família nunca teve afrescalhado”.
Segundo a música, os primos eram presentes da vida para Dudu, uma vez que eles o levaram para “descobrir que a vida é boa”, ao perder sua virgindade naquele bordel.
A escolha do bordel foi pontual. Para Bessanger, eles não poderiam ir a qualquer lugar, uma vez que Dudu poderia desistir ou sentir-se intimidado. Segundo a música, no Roda Viva da época as “nega” eram “ativas”, o que ajudaria muito o garoto.
Anos depois, o primo Bessanger deu uma entrevista dizendo sobre o tal dia. Ele confirmou o fato e disse como tudo acontecera. O relato do primo casa muito com o da música, dando veracidade ao fato encontrado na música que colocou o Raimundos no mapa do Rock Nacional.
