Hoje é dia de Tá Na Letra! No Tá Na Letra você fica por dentro de interpretações sobre o significado das músicas. Claro que interpretações distintas são válidas, afinal, a arte não possui verdade absoluta e cada um entende a mensagem de uma forma. Aqui nesta série tentamos colocar apenas mais uma possível compreensão da música. A música de hoje é Sem Dó da banda Barão Vermelho.
Barão Vermelho é uma banda de Rock and Roll formada no Rio de Janeiro – RJ em 1981 pelos amigos Guto Goffi e Maurício Barros. Atualmente a banda já está com seu terceiro vocalista, após a saída (e depois morte) do primeiro vocalista Cazuza e após a saída do guitarrista e vocalista Frejat, a banda segue agora com Rodrigo Suricato com os vocais e guitarra.
A formação da banda atualmente conta com Rodrigo Suricato (vocais, guitarra e violão), Guto Goffi (bateria), Maurício Barros (teclados) e Fernando Magalhães (guitarra).
A faixa de hoje do Tá Na Letra é Sem Dó e é a quarta música do álbum Carne Crua, lançado pelo Barão Vermelho em 1994. No álbum, a formação da banda contava com Roberto Frejat nas guitarras e vocais, Rodrigo Santos no baixo e nos vocais, Guto Goffi na bateria, Fernando Magalhães na guitarra, Peninha na Percussão e Maurício Barros nos teclados.
Sem Dó
Eu sei que você viu na TV
O assassinato de crianças de rua
Mas será que você viu na TV
As manchetes dos jornais do dia?
A moral de países irmãos
Que nos acusam de selvagens
Com suas competentes organizações
Será que você viu na TV
Os nossos sonhos destruídos?
Juros altos, vistos negados
Portas fechadas para a civilização
Que moral tem esses nossos irmãos
Que nos acusam de selvagens
Com suas competentes organizações
Será que eles se
preocupam com a gente?
Será que eles realmente se preocupam?
Julgar e condenar parece fácil
Será que eles realmente se preocupam?
Ou será que somos
Um espetáculo a mais
Nos seus telejornais
Num museu de horrores
A confirmar o seu lugar de civilizado
No primeiro mundo
Aquele que destrói
Sem deixar vestígio
Onde o único sinal
É a riqueza cada vez maior
Não sei se você viu na TV
As consciências de perfume francês
Ou se ao mudar de canal
Assistiu as imagens da guerra civil
No continente paira o humanismo
Pessoas também morrem todo dia
Assassinadas
Sem dó
Por credo, nacionalidade e cor
Ou será que somos
Um espetáculo a mais
Nos seus telejornais
Num museu de horrores
A confirmar o seu lugar de civilizado
No primeiro mundo
Aquele que destrói
Sem deixar vestígio
Onde o único sinal
É a riqueza cada vez maior
Não sei se você viu na TV
O assassinato de crianças de rua
Ou se ao mudar de canal
Assistiu as imagens da guerra civil
No continente paira o humanismo
Pessoas também morrem todo dia
Assassinadas
Sem dó
Por credo, nacionalidade e cor
Será que eles se preocupam com a gente?
Será que eles realmente se preocupam?
Julgar e condenar parece fácil
Será que eles realmente se preocupam?
A faixa é intensa é traz um questionamento pesado sobre as reais intensões dos interesses de outros países nos questionamentos sobre os problemas do Brasil. A música é direta, intensa e objetiva, apresentando que o Brasil realmente tem problemas, mas os interesses de outros países não são tão genuínos quanto parecem.
Os países que dizem se importar, têm seus próprios problemas e fingem se interessar pelos problemas do Brasil. Assim, eles podem se sentir superiores e bondosos. Mas, ao não olhar para os próprios problemas, deixam suas crianças e sua população morrendo, seja esta morte pela suas próprias crenças, por sua cor ou por suas nacionalidades.
Os questionamentos são bem fortes e apresentam a repetição do termo “Sem Dó”, expressão que leva o nome da música. O trecho, ao se repetir constantemente na música, deixa clara a ideia da intensidade dos problemas que acontecem constantemente em todos os lugares e de todas as formas. O julgamento destes outros países ao falarem do Brasil torna-se um fracasso, pois eles são hipócritas ao demonstrarem suas fraquezas diante dos próprios problemas e vomitando uma arrogância ao fingirem se importar com o nosso. Será que realmente se importam ou têm um interesse velado? E a música vai em cima desta ferida durante toda a letra.
O trecho mais intenso da música que deixa escancarada a hipocrisia, principalmente europeia, diante dos problemas do Brasil é quando a música fala ” No continente paira o humanismo pessoas também morrem todo dia”. Em seguida, a música traz a questão “Será que eles se preocupam com a gente? Será que eles realmente se preocupam?”
Outro questionamento repetido na música é sobre os problemas do país e o quanto as pessoas do próprio Brasil estão cegas diante deles: todos sabem que existem, mas quase ninguém realmente se importa com a dor alheia e as pessoas não fazem muito para que isso acabe. O amor fraternal é uma questão importante e as reflexões que estão em torno disso se repetem constantemente em busca de uma solução.
Seríamos os brasileiros tão selvagens assim ou a arrogância de outras nacionalidades é o que lhes cega? Pois, por mais problemas que possam existir, seria hipocrisia achar que um país tão grande e cheio de riquezas não tenha coisas positivas a oferecer. Na verdade, o fato de ter tanta coisa positiva é o que faz aparecer a vontade alheia de ajudar: ficar mais perto das nossas riquezas e desfrutar delas, tudo de forma velada, fingindo interesse e ajuda.
Neste caso, não existe filantropia, existe interesse. Somos expostos como animais em um zoológico nas TVs alheias e taxados de inferiores e tudo isso para que os outros países cheios de interesses velados venham até o Brasil e tirem proveito disso, vomitando sua superioridade e roubando nossa riqueza de forma oculta.
O melhor de tudo é saber que uma música lançada por uma banda de Rock no ano de 1994 é ainda tão atual. Somos tão selvagens assim ou eles têm interesse em nossas riquezas? Sim, eles têm e muito!