Qual será a melhor dinâmica de funcionamento de uma banda de sucesso? Duas cabeças trabalhando juntas ou duas cabeças trabalhando separadas? É claro que eu não pretendo responder isso por aqui, inclusive pelo fato de que não existe uma resposta definitiva. Variará de caso a caso. Na situação do Supertramp, a história nos mostrou que a segunda sentença foi mais efetiva, mas ela também acelerou o esfacelamento do conjunto.
Lá no começo da carreira, Roger Hodson e Rick Davies se uniram e estabeleceram o núcleo criativo da banda. Havia confluência de forças mas, desde aquele tempo, disparidade de direcionamentos, com as tendências mais Pop de Hodson indo de encontro às aspirações de Blues e Jazz de Davies. Com o tempo, essa interação foi se acentuando rumo ao distanciamento cada vez maior. Os relatos de quem estava próximo aos músicos é de que Hodson e Davies não trocavam palavras entre si. Perante a imprensa, essa história costumava ser desmentida.
A realidade é que, no repertório dos álbuns, o que constatávamos era a existência de discos “dois em um”. Havia as canções de autoria de Davies, com vocais principais por Davies, e as canções de Hodson, com vocais principais por Hodson. Ocorriam duetos esporádicos, mas nada que desfizesse a impressão de divisão.
Não que essa divisão fosse do tipo que afetasse o álbum a ponto de torná-lo um produto sem identidade. Ambos eram compositores soberbos e mantinham a identidade “Supertramp” em suas canções. “Breakfast in America” foi o sexto disco de estúdio e o melhor desde “Crime of The Century”, obtendo os melhores resultados de vendagem até então. O inclinamento Pop de Hodson fez com que ele se saísse melhor na distribuição de singles, pois três dos quatro que foram pinçados desse disco são de sua autoria, ficando para Davies o single de “Goodbye Stranger”, curiosamente uma contradição para o título provisório que o disco teve antes de ser lançado: “Hello Stranger”.
Fãs puristas de Rock Progressivo costumavam se apressar em afirmar que o Supertramp não era uma banda do gênero. Concordo parcialmente, pois o estilo está ali, permeado nas músicas, mas não é de fato a fonte de inspiração principal, sendo que termos como “Progressive Pop” ou “Art Rock” cabem mais adequadamente. No final das contas, a classe de “Child of Vision”, e a melodia e magia de músicas como “The Logical Song”, “Take The Long Way Home” e a própria “Goodbye Stranger”, nos fazem refletir sobre a inutilidade de discutir esses conceitos. São músicas atemporais, independente de como se queira gastar tempo classificando-as.
A bipolaridade que caracterizou os anos de glória permanece até hoje, atuando em suas duas frentes óbvias. Hodson em shows solo, cantando seus clássicos, e Davies mantendo o Supertramp respirando, mas sem atividades desde que teve que cancelar uma turnê em 2015, por motivos de saúde. O legado do conjunto, porém, permanece. Entre todas as vertentes que a Inglaterra dos anos 70 gerou, esses músicos abriram o seu próprio caminho e ocupam um status que supostos gigantes, de gerações mais recentes, sonham alcançar, mas não possuem fôlego para tanto.
Formação
Rick Davies – vocal, piano, órgão
Roger Hodgson – vocal, guitarra, piano
John Helliwell – saxofone, clarinete
Dougie Thomson – baixo
Bob Siebenberg – bateria
Músicas
01 Gone Hollywood
02 The Logical Song
03 Goodbye Stranger
04 Breakfast in America
05 Oh Darling
06 Take the Long Way Home
07 Lord Is It Mine
08 Just Another Nervous Wreck
09 Casual Conversations
10 Child of Vision