Por Vitor Franceschini
Fotos: EQUIPE MHERMES ARTS (Summer Breeze Brasil Official) @alessandra_tolc @mfrafael @diegopadilha @marcoshermes @arthurwaismann / Wellington Penilha (@welpenilha)
Sem dúvidas na memória deste que vos escreve (e na de milhares de outros) os dias 27 e 28 de abril no Memorial da América Latina, em São Paulo, um sábado e domingo respectivamente, já está marcada pela segunda edição do Summer Breeze Brasil 2024, que aconteceu nestes dias, além da abertura do evento no dia 26, sexta-feira (do qual não pudemos comparecer).
Estivemos por lá, com a oportunidade de cobrir o evento com uma parceria entre o blog ARTE METAL e o site ROADIE METAL e a primeira coisa que temos que fazer é enaltecer os pontos positivos da organização e produção do evento que, claro, tem seus percalços (como tudo na vida), mas neste último caso deixemos ao público na internet apontar, pois adoram fazer isso.
O Summer Breeze Brasil primou e muito pela qualidade que começou com o aspecto técnico de palco. Sem exceções, a qualidade do som, visibilidade e agilidade na troca de bandas nos quatro palcos do festival foram espetaculares, como nunca tinha visto antes. Tanto no Wave Stage (menor), passando pelo Sun Stage (médio) e os principais Ice e Hot Stage, o trabalho foi minucioso e a qualidade impecável.
O tratamento ao público, como acesso praticamente sem filas e quando houve foram dinâmicas, os banheiros (um baita diferencial), opções de comida e bebida, merchandise, horror expo, espaço geek e áreas PCD atenderam o que foi prometido. Além disso, guarda-volumes e achados e perdidos para completar o pacote, com atendimento médico disponíveis o tempo todo, colocaram o Summer Breeze Brasil em nível de primeiro mundo.
O que se constatou é que o evento está consolidado, mas segue em constante evolução, o que significa que pode melhorar, até porque já foram confirmadas as datas para a terceira edição em 2025 nos dias 3 e 4 de maio, com ingressos já a venda (informações AQUI).
Os shows
Diretamente do interior paulista, mais precisamente de Araraquara, parti para cobrir o evento no sábado depois de andar quase 400 km. Claro, envolvendo viagem, check-in de hotel, almoço (pra garantir a energia) e uma volta na Galeria do Rock (que é lei para quem não mora em São Paulo), não teve como chegar no início do evento.
Porém, como a escolha de cobertura foi por perspectiva de público, o que acho sempre interessante, a felicidade de todos quando pude comparecer no sábado por volta de 15h, era de que shows do Nervosa, Angra e Gamma Ray foram memoráveis, além de o Forbidden ter quase derrubado o Hot Stage.
Correndo, não poderia perder o show do Lacuna Coil, que já fritava com o calor que os deuses do Metal nos impuseram em ambos os dias e os italianos estava lá sentindo isso na pele. Mas, pareciam placas de energia solar, pois estavam muito ativos e enérgicos, garantindo ao público o melhor de sua performance, com Cristina Scabbia e Andrea Ferro mostrando como se comportar na linha de frente. Como foco no seu trabalho inédito mais recente “Black Anima” (2019), a banda conseguiu equilibrar o repertório e entregou um baita show no Ice Stage.
Correndo pra ver um dos shows que eu estava mais curioso, até perdendo o final do Lacuna Coil, parti para o Sun Stage ver o The Night Flight Orchestra e não me arrependi em momento algum. Costumo chamar a banda de ‘Disco Metal’ e a apresentação correta, com o som muito bom (aliás, o Sun Stage era o palco e local mais aconchegantes do festival, com direito a sombras em alguns lugares), eles fizeram uma apresentação memorável, com a façanha de colocar alguns headbangers para dançar, afinal, a música dos suecos proporcionam isso. O ápice já estava na abertura com “Midnight Flyer”, e os hits “Gemini” e “Satellite”.
E bora ver o Hammerfall no Hot Stage que, sinceramente, já tinha previsto. Um tradicional show de Heavy Metal, com o público na mão e uma entrega absurda. Se você viu eles passarem com o Helloween há cerca de um ano pelo país, porém turbinado, ou seja, melhor ainda. Não tem como não vibrar em momentos como “Heading The Call”, “Renegade”, “Let The Hammerfall” e “Hearts on Fire”.
E, em seguida, o primeiro percalço. Epica e Dark Tranquillity tocariam no mesmo horário, um no Ice Stage e o outro no Sun Stage. Deixei o lado fã falar mais alto e fui ver os suecos, já que daria pra pegar uma boa parte dos holandeses que teriam um setlist mais longo.
O que vimos foi um Dark Tranquillity tinindo, com o carisma inegável de Mikael Stanne, um frontman que parece estar fazendo o primeiro e último show sempre. E que aula de Melodic Death Metal, meus caros! Infelizmente, o único pormenor fica por conta de terem ignorado os primeiros discos, mas de “Projector” (1999) pra frente, souberam dosar bem o repertório e mandarem um show sensacional, emocionando muitos por ali! Destaque para “Hours Passed In Exile”, “Atoma”, “There In” e “Phantom Days”, esta última que se mostrou muito boa ao vivo.
Corrida para a reta final do show do Epica, depois de já sentir a meia-idade na passarela do Memorial da America Latina, e constatar um espetáculo visual hipnotizante. E se a banda prima por fazer um Symphonic Metal que todo mundo já conhece, o show parece uma real apresentação de ópera, com o adicional da energia do Metal, visivelmente empolgada pelo tecladista Coen Janssen. A participação de Cristina Scabbia (Lacuna Coil) em “Storm The Sorrow”, seguida pelas magnificas “Unchain Utopia” e “Cry For The Moon” abrilhantaram de vez o show dos holandeses.
Uma corrida para ver Jeff Scott Soto no Wave Stage. Um dos gringos mais abrasileirados do atual cenário, o cantor primou por fazer um setlist abrangente de sua carreira, o que não deve ser fácil, porque o que esse cara já produziu… Impossível não se encantar com Jeff cantando canções como “Comin’ Home” (Talisman), “Brothers in Arms” (W.E.T) e o ‘medley’ “I Am a Viking / I’ll See the Light Tonight”, de sua fase com Yngwie Malmsteen.
Entrando na reta final do primeiro dia, uma corrida para ver o In Extremo no Sun Stage, que sempre me encantei com os shows vistos no Youtube do Wacken e a satisfação foi real. O Folk Metal da banda simplesmente funciona ao vivo, com direito a gaitas de fole, harpa, alaúde, flautas e outros instrumentos peculiares, mas sempre como auxílio ao peso do Metal, que a banda jamais descarta.
E os ‘headliners’ do sábado, o Within Temptation, mostraram porque mereciam essa posição. Que show no Hot Stage, meus amigos. Primeiramente que o som estava parecendo de CD, com alguns comentários até maldosos suspeitando de ‘playback’, mas sabemos que isso é praxe do público. Fato é que a banda entregou um show completo, de aspecto visual vislumbrante e com um carisma enorme da vocalista Sharon den Adel. Os ápices foram diversos, mas “Entertain You”, “Supernova”, “Don’t Pray For Me”, “What Have You Done” e o encerramento com “Mother Earth” superaram tudo. Fim do sábado, com chave-de-ouro.
O domingo, dia 28, ficou provado que, além de tudo que nos proporciona, o Heavy Metal é um energético. Afinal de contas, depois de um sábado insano e de muito ‘cárdio’ na obrigação (o espaço do evento é enorme, e se anda bem para ir de um palco ao outro, com direito a uma passarela), a canseira ainda batia pela manhã e a sensação de não chegar ao fim era nítida.
Porém, chegando um pouco mais cedo (infelizmente perdi mais uns shows que queria ver muito, do Eclipse e Torture Squad, por exemplo, que foram muito elogiados), os finlandeses do Battle Beast, no Sun Stage, já apresentaram um show memorável. Com presença de palco absurda e uma técnica vocal absurda da cantora Noora Louhimo, detonaram com hard/power metal, conquistando novos fãs inclusive. Que música fantástica é “Straight To The Heart”! E a dose de Metal energético já superou a canseira do dia anterior.
Mas, tinha que correr ver o Overkill. Não seria possível perder esse ícone do Thrash Metal mundial que, pra variar, quase derrubou o Ice Stage. Bobby “Blitz” Ellsworth sempre dando um show, e Dave Ellefson (ex-Megadeth) dando muito conta do recado, afinal substituir DD Verni não é pra qualquer um. Aliás, depois de um solo de bateria de Jason Bittner, brincaram com ums introdução de “Peace Sells…”, da sua ex-banda. O ápice veio com “Coma”, “Horrorscope”, “Ironbound”, “Rotten To The Core” e aquela versão de “Fuck You” que a banda já pegou pra si por usucapião.
Logo ali do lado, a curiosidade em ver uma banda relativamente nova e que vem crescendo a passos largos, inclusive com fãs pintados a caráter, o Avatar mostrou porque é diferenciado no Hot Stage. Com uma preocupação visual do qual correspondem decentemente (inclusive com muitos fãs a caráter), o grupo liderado pelo performático Johannes Eckerström mostrou porque seu Metalcore é diferenciado.
E lá vamos nós de novo na passarela, conferir o Ratos de Porão que, no meu caso, entra com o jogo ganho. Uma das maiores bandas Punk e Crossover de todos os tempos, sem dúvida garantem o ingresso (não sei se de festival) de quem foi pra ver eles, pois a energia dos caras não muda, inclusive sendo outra banda que parecia ser movida a energia solar, afinal estavam mais agitados que de costume, inclusive João Gordo.
Dali, uma corrida para pegar o fim do show do John Wayne no Waves Stage, do que ficou provado que realmente são uma das bandas mais legais do Deathcore nacional, conseguindo se sobrepor no menor palco do evento, inclusive contando com um público fiel.
E dá-lhe andar, porque seria inadmissível perder o Carcass, até porque eu estava com a camisa da banda. E, apesar de todos os percalços, um sol escaldante, fizeram um show memorável. Desde a abertura com “Buried Dreams”, passando por “Incarnated Solvent Abuse”, “This Mortal Coil”, “Tomorrow Belongs to Nobody / Death Certificate”, até o momento em que Jeff Walker sente o calor e passa mal (totalmente compreensível), depois acelerando um pouco “Corporal Jigsore Quandary” e o medley “Ruptured in Purulence / Heartwork” foi espetacular.
Pra gente não teria tempo de passar mal, só se fosse de emoção com o show do Death Angel no Sun Stage. Para muitos, ao menos ao ouvir comentários de presentes pós-Summer, o melhor da edição. A banda parecia a mesma de 40 anos atrás, quando começaram garotos, tamanha a energia no palco. Um absurdo, desde a presença de palco, até a coesão, com Mark Osegueda ensandecido, tudo simples e sem muita ‘espetaquera’ extra (como diria um amigo). Também, nem precisaria, com um repertório com faixas como “Seemingly Endless Time”, “Buried Alive”, “I Came for Blood”, a nova e excelente “Humanicide” e o medley “The Ultra-Violence / Mistress of Pain”.
Depois de realmente sentir exaustão e uma pausa para se alimentar, do qual acabei perdendo o excelente show (ouvi os comentários) do Killswitch Engage, uma passada no Waves Stage novamente e conferir a qualidade técnica absurda da garotada do Kryour, uma banda que consegue ser progressiva mesmo sem ser Prog, unindo o Metal extremo com algo mais moderno.
E chega então aquela hora maldita, onde os shows batem e de duas lendas, cada uma em seu estilo, no mesmo horário e praticamente do mesmo tamanho, e a escolha dessa vez ficou por ver 1/3 do Amorphis e 2/3 do Anthrax. Os finlandeses estavam impecáveis, comprovando a qualidade do Sun Stage (repito, melhor e mais aconchegante local do evento), onde destilaram um repertório abrangente, já deixando muita gente de queixo caído na abertura com “Northwards” até a fantástica “The Moon”.
E dá-lhe passarela, pela penúltima vez (a última seria pra voltar e ir embora), para ver a lenda Anthrax, ainda por cima com o fundador Dan Lilker, que fez com que, com todo respeito, não sentíssemos saudades do extraordinário Frank Bello. E como essa banda deixa o público insano, com direito a gigantes ‘moshpits’ e sinalizadores, onde uma performance espetacular quase colocou tudo abaixo. Desnecessário dizer que “Madhouse”, “Metal Thrashing Mad”, “Efilnikufesin (N.F.L.)” provando como Joey Belladonna está tinindo, “Antisocial” (outra de usocapião), soam magnificas. A banda ainda trouxe Andreas Kisser (Sepultura) para ser ovacionado em “I Am The Law” e fez um final apoteótico com “Indians”.
E, desde metade do show do Anthrax, com uma cortina enorme com o logotipo da banda, o Mercyful Fate já causava uma sensação estranha (no bom sentido) e ansiedade no púbico. Afinal de contas, todo mundo aguardava King Diamond, Hank Shermann e Cia, desde que foram anunciados no evento. E valeu à pena, inclusive merecendo mais que um parágrafo.
Praticamente uma missa satânica, com direito a atuações e odes ao tinhoso por parte de King Diamond, o Mercyful Fate fez um show de arrancar lágrimas, arrepios e até a alma (que a essa hora já não estava mais no corpo dos presentes). A estrutura do palco, com um altar diabólico gigante, chamava atenção por si só, mas quando começa “The Oath”, algo inexplicável invade o coração e o puro malefício chega em seguida com clássicos do Heavy Metal mundial como “A Corpse Without Soul”, “Curse of The Pharaohs”, “A Dangerous Meeting”, “Doomed by the Living Dead”, “Melissa”, Blakc Funeral”, “Evil” (realizei um sonho em ouvir as guitarras dessa música ao vivo) e “Come To The Sabbath”, para o bis com “Satan’s Fall” desexorcizar (sim, essa palavra não existe, mas se o demônio saiu do corpo e resolveu voltar, foi assim) e fechar com o sample de “To One Far Away”.
Não mencionei a nova composição “The Jackal of Salzburg”, para um adendo especial, porque se trata de uma ótima música e se vir um álbum novo por aí, o Mercyful Fate está pronto! Palmas para, além do Rei Diamante e Shermann, a talentosíssima Becky Baldwin, o excelente Mike Wead e o já clássico baterista Bjarne T. Holm. Histórico!
Chega ao fim mais uma edição do Summer Breeze Brasil, já anunciado o próximo, para 3 e 4 de maio, antes mesmo do último show. Mas, se a sensação de sentir saudade do festival, minutos depois do final do show do Mercyful Fate significa algo em relação ao evento, não se precisa concluir nada. Até a próxima!