Em 1984 o Heavy Metal estava explodindo em todo o mundo, com lançamentos quase diários de novas bandas e de artistas consagrados. A Alemanha começava a surgir como uma forte liderança dentro desse boom e apresentou, no rastro do Accept, bandas importantes como Running Wild, Grave Digger, Helloween, Kreator, Destruction, e tantas outras.
A maioria dos artistas que estavam despontando resolveu demarcar seu território à base de muita velocidade em suas músicas, seguindo as novas tendências, mas haviam aqueles que sorveram os ensinamentos da NWOBHM e criaram suas obras em cima dessa cartilha.
O Stormwitch é um autêntico representante dessa leva de bandas. Foi formado em 1979, ano em que a própria NWOBHM começava a mostrar sua carta de intenções. Por ter se mantido fiel à corrente bretã, quando seus conterrâneos investiam em sonoridades que, posteriormente, viriam a ser batizadas como Power e Thrash Metal, o Stormwitch obteve êxito, mas não alcançou o mesmo apelo midiático que os demais. Mas fãs de Rock, em termos gerais, tem um apego à obra de seus artistas que somente se assemelha com aquele que é percebido em outros estilos à margem da música mais efetivamente popular. Não importa tão somente o último sucesso ou o artista mais comentado do momento. Fãs de Rock querem a história do estilo, querem conhecer suas bases, suas origens.
E o Stormwitch entrega exatamente isso. Uma banda calcada no mais importante movimento da história do Heavy Metal e que o mantém em voga para as próximas gerações. A musicalidade do Stormwitch encontra paralelos com os trabalhos dos ingleses do Grim Reaper e do Cloven Hoof e até mesmo da americana Virgin Steele, além de ser claramente calcada nas influências de Judas Priest, na fase do álbum “Stained Class”, e, principalmente, Iron Maiden. Tendo à frente o vocalista Andy Mück, um cantor de voz tão melodiosa quanto áspera, o álbum de estreia do Stormwitch inicia perguntando-nos se estamos preparados e, imediatamente, nos apresenta “Cave of Steenfoll”, uma das melhores faixas, com diversas variações ao longo de seus quatro minutos e meio. Em seguida, “Priest of Evil”, com seu andamento mais moderado, beirando o épico, faz com que a melodia da canção case a perfeição com o teor da letra.
A rapidez de “Werewolves on the Hunt” também faz a perfeita junção entre melodia e letra, nessa que é a música mais dinâmica do álbum e que nos faz lembrar bastante da banda Omen, em seus melhores momentos. A instrumental “Excalibur”, por outro lado, escancara, sem qualquer pudor, toda a admiração que os integrantes poderiam ter pela banda comandada por Steve Harris.
Nos tempos atuais, onde cada banda parece querer inventar um novo rótulo para si, uma música como “Flour in The Wind” nos ajuda a lembrar como é belo e empolgante aquele velho Metal tradicional. E é nessa mesma pegada que o álbum se encerra com a excelente “Thunderland”, com os guitarristas Tobi Kipp e Volker Schmietow marcando presença da melhor forma possível.
Como já foi dito, 1984 foi um ano extremamente competitivo e, no meio de tantas pérolas, algumas bandas acabaram ficando um pouco mais à margem das atenções dos fãs. Talvez por questões de empresários, de gravadoras, ou da própria mídia que não soube lidar com tantas bandas ao mesmo tempo, mas isso não significa que seus trabalhos sejam menos relevantes, menos significativos ou tenham menos qualidade. Muito pelo contrário. “Walpugis Night” é um exemplo de que a fonte nunca seca. Existem grandes discos a serem redescobertos ou mesmo recuperados por quem teve o privilégio de conhecê-los na época e, nesse caso, deve-se louvar à Nuclear Blast por estar fazendo o lançamento nacional desse álbum, que, em sua edição pátria, surge acrescido, como bônus, de quatro faixas ao vivo, sendo três retiradas daquelas que integram o álbum mais a inédita “Light the Pyre”. Portanto, tome fôlego para a viagem no tempo e lembre-se de que a descoberta de novas coisas não exige necessariamente que caminhemos para o futuro, mas também que revisitemos o passado.
Formação:
Andy Mück (vocal);
Harald Spengler (R.I.P. 2013) (guitarra);
Stefan Kauffmann (guitarra);
Ronny Gleisberg (baixo);
Peter Langer (bateria).
Faixas:
01 – Cave of Steenfoll
02 – Priest of Evil
03 – Skull and Crossbones
04 – Werewolves on the Hunt
05 – Walpurgis Night
06 – Flour in the Wind
07 – Warlord
08 – Excalibur (instrumental)
09 – Thunderland
-
7.5/10