Em 7 de setembro de 1994, o SLAYER lançava o seu sexto álbum. E “Divine Intervention” traz uma significativa mudança sonora em uma das bandas do “The Big 4”.
A banda vinha de seu período mais frutífero, que começou com “Reign in Blood”, lançado em 1986, até “Seasons in the Abyss”, lançado em 1990, passando por “South of Heaven”. Foram três álbuns diferentes entre si, mas que se completam. E por isso, a banda precisava fazer algo novo.
Somado a isso, O SLAYER sofrera uma baixa: o baterista Dave Lombardo havia deixado a banda devido a divergências com os demais integrantes. Entre uma destas divergências eta o fato de que o baterista queria levar a sua esposa para as turnês. Então, Dave fundou o GRIP INC., que não teve vida longa e mais tarde ele acabou retornando à banda, saindo alguns anos mais tarde, depois de novas discordâncias. E para seu lugar, a banda recrutou Paul Bostaph, que tocava no FORBIDDEN.
O processo de produção de “Divine Intervention” foi um tanto quanto problemático: a gravadora queria que a banda apresentasse uma canção que pudesse se tornar um hit, mas esbarrava no fato de que o SLAYER havia escrito letras, inspiradas nos programas de TV estadunidenses, citando serial killer. E as rádios conservadoras iriam certamente se negar a tocar tais músicas. Porém, os caras não afinaram, como disse Tom Araya:
“Os executivos da gravadora sentaram conosco e nos venderam a ideia de como eles queriam que soasse o disco e de como seria a arte da capa. Todas essas ideias eram diferentes para o álbum, então um desses caras nos olhou e disse: ‘Mas nós precisamos de hum hit’. Nós respondemos: ‘fizemos onze músicas e se você não puder achar um hit em uma delas, estará ferrado, pois isso é o que estamos entregando à vocês.'”
E eles poderiam meter essa “bronca”. afinal de contas, não era uma banda qualquer, era o SLAYER, um dos expoentes do Thrash Metal, com discos simplesmente maravilhosos e uma legião de fãs em todo o mundo. Então, a banda adentrou ao estúdio “Ocenway“, em Los Angeles, na companhia do produtor Toby Wright.
O resultado, em termos sonoros, foi surpreendente: assim como em “South of Heaven“, há uma freada nas músicas velozes. Elas ainda estão presentes, mas são menos rápidas do que as que estão registradas em “Seasons in the Abyss“. Porém, aqui a banda apostou em composições bem mais elaboradas, podemos dizer que é o álbum mais técnico da carreira do SLAYER. E vamos destrinchar música por música abaixo.
A abertura se dá com uma virada espetacular do novato Paul Bostaph, dando seu cartão de visitas, em “Killing Fields“, em que logo os riffs intrínsecos da dupla Kerry King e Jeff Hanneman ditam as regras em uma música em que o andamento é bem cadenciado. É uma música bem raivosa e que serve muito bem como abertura de um álbum.
“Sex, Murder, Art” é mais rápida e nos remete à músicas da era “South of Heaven”. A mesma levada, riffs e baterias bem parecidas, com uma virada diferente aqui e acolá. É curta e direta, com 1 minuto e 50 segundos, sendo a mais curta do disco. E boa demais.
“Fictional Reality” é bem trampada, com riffs bem complexos em se tratando de SLAYER. Ela fica um pouco mais rápida no refrão. Excelente.
Agora temos aqui a música favorita deste redator que vos escreve: “Dittohead“. Essa poderia perfeitamente estar registrada no “Reign in Blood” sem problemas. Foi uma das primeiras músicas da banda que eu escutei e logo de cara eu pirei. Lembro me que assistia ao clip desta música com os amigos, nos idos dos anos 1990 e quando iríamos nos referir à essa música, chamavamos-na de “corrida de cavalo”, dada a velocidade em que Tom Araya canta, fazendo parecer de fato com um locutor do Jóquei Clube. Sem falar nos riffs hipnóticos, viradas mais que espetaculares de Paul Bostaph, que chegava para dar um novo fôlego.
Uma longa introdução aponta a chegada da faixa título, uma música densa, pesada e com um andamento bem arrastadão, com Tom Araya cantando com muita raiva. E um solo bem trabalhado é o destaque da música.
“Circle of Beliefs” já mostra uma sonoridade em que o SLAYER iria aprimorar dali em diante. Um Thrash Metal moderno, em que partes rápidas se alternam com as partes mais arrastadas e com Paul Bostaph dando seu show, incluindo uma virada animal sempre que lhe dão espaço.
“SS-3” traz um SLAYER mais arrastadão na primeira parte, embora os bumbos de Paul Bostaph “destoem” deste andamento, mas logo o resto da banda entende e a música vira uma quebradeira total do meio para o final, se tornando uma das minhas favoritas deste play. Que paulada violenta nos nossos ouvidos essa música.
“Serenity in Murder” começa bem ao estilo do SLAYER, rápida e agressiva, com uma pequena mudança de andamento em que Tom Araya canta de forma estranha, mas logo as coisas voltam ao normal e a pancadaria toma conta de tudo novamente. excelente faixa.
“213” tem uma intro longa com algumas mudanças, mas quando entram os vocais de Tom Araya temos uma música com riffs muito bons, com peso e bastante densa. Em alguns momentos, o andamento desta lembra o mesmo da faixa “Seasons in the Abyss”.
“Mind Control” chega rápida, certeira e agressiva, fechando um disco muito bom e que não tem uma música ruim, em pouco mais de 36 minutos. Realmente valeu a pena esperar por 4 anos para ter um material de tão boa qualidade em mãos.
“Divine Intervention” não supera os três lançamentos anteriores da banda, que são consideradas como a “santíssima trindade”, porém, é um álbum muito acima da média. O álbum chegou ao 8º lugar na “Billboard 200“. Mas em contrapartida, o mesmo foi banido da Alemanha, por conta do conteúdo das letras de músicas como “SS-3“, “Serenity in Murder“, “213” e “Mind Control“.
Faltando um pouco mais de um mês para a chegada da última turnê do SLAYER no Brasil, fica a nossa expectativa de que algumas músicas de “Divine Intervention“serem incluídas no setlist. Enquanto as datas não chegam, vamos celebrar este que é um discão. Costumo desejar longa vida às bandas quando escrevo estes textos comemorativos, mas como a banda aparentemente vai se aposentar, fica o nosso desejo de que eles num futuro reconsiderem esta decisão. Uma das maiores bandas da história do Thrash Metal merece todos os holofotes.
Lineup:
Tom Araya – Baixo/Vocal
Kerry King – Guitarra
Jeff Hanneman – Guitarra
Paul Bostaph – Bateria

Tracklisting:
01 – Killing Fields
02 – Sex, Murder, Art
03 – Fictional Reality
04 – Dittohead
05 – Divine Intervention
06 – Circle of Beliefs
07 – SS-3
08 – Serenity in Murder
09 – 213
10 – Mind Control
