Há 32 anos, era lançado o primeiro álbum da maior banda de Heavy Metal que o Brasil concebeu. Em 10 de novembro de 1986, saía “Morbid Visions”, via “Cogumelo Records“, o primeiro disco dos então desconhecidos garotos do SEPULTURA.

O álbum foi gravado no estúdio Vice Versa, em São Paulo, em agosto de 1986, com produção de Zé “Heavy” Luiz, de quem Max Cavalera não falou muito bem sobre o trabalho neste play. Em seu livro autobiográfico “My Bloody Roots“, Max deu a seguinte declaração:

“Acho que ele estava ali apenas para ser pago. E dizia, ‘O que vocês fizerem pra mim está bom’.  (ele) Não expressava qualquer opinião sobre as composições ou sobre a maneira que tocávamos.”

A Verdade é que, ao mesmo tempo que este disco é um marco, ele também é de uma tosqueira fora do comum: as músicas em geral são pobres, mas ali, percebemos que tem muita vontade dos garotos e muitas, mas muitas influências, quase que cópias de bandas como VENOM, CELTIC FROST, HELLHAMMER e POSSESSED.

Mas temos algumas músicas que tem ali algum valor, como por exemplo, “Troops of Doom“, que por alguns anos foi a melhor composição da banda, “Morbid Visions” e “Crucifixion” são as que podemos destacar. Porém, a inexperiência da banda, casada com a falta de “harmonia” das duas guitarras, que quase sempre estavam desafinadas, coisa que poderia colocar tudo a perder, teve o efeito inverso. O disco abriu portas para a banda, que logo depois do lançamento abriu o show do VENOM, em Belo Horizonte e este disco, mesmo em termos de composição, produção e execução, seja o mais fraco da banda, tornou-se um marco.

Max Cavalera, ainda em seu livro disse que o baterista do NAPALM DEATH considera este sendo o disco favorito dele por conta da desafinação e que outras bandas deveriam gravar daquela forma. Mas era como as coisas aconteciam nos anos 1980, então é bem compreensível que este disco tenha sido concebido da forma que foi. E muito provavelmente a sorte da banda teria sido bem diferente caso tudo saísse “clean”.

“Morbid Visions” não foi o primeiro disco de Heavy Metal gravado no Brasil, mas foi certamente um registro que mostrou que havia uma cena promissora no Brasil, uma gravadora que até hoje dá força às bandas nacionais. É um álbum que captura a banda em seu estado mais primitivo, com quatro adolescentes tirando um som raivoso, por vezes demoníaco e muita vontade.

Este debut merece o respeito exatamente por isso, por ser ruim, mas por mostrar que, se fossem lapidados, aqueles garotos iriam longe. E não só foram lapidados, como também a troca no line-up, com a saída de Jairo Guedz dando lugar a Andreas Kisser, elevaria e muito o patamar da banda.

A Roadrunner relançaria o disco, acrescentando as faixas de “Bestial Devastation“, um EP que fora gravado junto com os conterrâneos do OVERDOSE. Este EP havia sido lançado em dezembro de 1985 e conta por exemplo, com a faixa “Antichrist“, composta pelo ex-vocalista e depois fundador do SARCÓFAGO, Wagner Lamounier. A banda mudaria o título para “Anticop” e a letra também sofreu alterações. “Necromancer” foi a primeira composição da banda. Ambas as músicas eram executadas ao vivo enquanto Max estava na banda.

Nos dias atuais e apenas com Paulo Júnior (agora atende como Paulo Xisto), somente a “Troops of Doom” é executada ao vivo e ainda assim esporadicamente. No último show da banda, no dia 27/10, em São Paulo, ela estava no setlist, porém, na última tour pela Europa, ela não foi tocada em nenhum show, o que é uma pena.

Em 1998, foi lançado o tributo “Sepultural Feast“, um álbum tributo ao SEPULTURA e algumas canções tanto de “Bestial Devastation” quanto de “Morbid Visions” foram lembradas: O SACRAMENTUM fez um medley de “The Curse e Antichrist“, o MYSTIFIER e o SWORDMASTER regravaram a “Warriors of Death“, o DIMENSION ZERO refez a “Troops of Doom“, enquanto que o LORD BELIAL ficou com “Crucifixion“. O DROWNED anos depois fez um cover para “The Curse e Bestial Devastation” no EP “Back From Hell” e os cariocas da GANGRENA GASOSA e seu “Saravá Metal” criaram uma versão pra lá de divertida para “Troops of Doom” que virou “Troops of Olodum“, em seu álbum de estreia, “Welcome to Terreiro“.

E era só o começo. Alguns anos mais tarde, o mundo descobriria que o Brasil não se resumia a futebol, samba, praia, mulatas, Tom Jobim e João Gilberto. Quatro garotos mostravam que as terras tupiniquins poderiam presentear o mundo com a nata da música pesada. O resto é história…

Formação:

Max Cavalera – Vocal/Guitarra

Igor Cavalera – Bateria

Jairo Guedz – Guitarra

Paulo Júnior – Baixo (??)

Tracklist:

01 – Morbid Visions

02 – Mayhem

03 – Troops of Doom

04 – War

05 – Crucifixion

06 – Show Me the Wrath

07 – Funeral Rites

08 – Empire of the Damned

Versão lançada pela Roadrunner anos mais tarde com o ep Bestial Devastation de bônus:

09 – The Curse

10 – Bestial Devastation

11 – Antichrist

12 – Necromancer

13 – Warriors of Death

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