Em entrevista ao programa dominical Fantástico, da Rede Globo, Roger Waters se pronunciou sobre a polêmica que foi gerada em seus primeiros shows em São Paulo. Ele incluiu o presidenciável Jair Bolsonaro como neofascista, ao lado de outros governantes ao redor do mundo, além de ter colocado no telão a #elenão, o que gerou aplausos e vaias entre os mais de 45 mil presentes no Allianz Arena.
“É interessante porque… duas coisas aconteceram. Durante a música ‘Eclipse’, eles (o pessoal da sua equipe) colocaram a hashtag que desagradou. Aquilo foi um erro, era para ter aparecido mais tarde durante a música ‘Mother’, na parte ‘Mother, should i trust the government?’ (mãe, devo confiar no governo?). Seria nesta parte que apareceria o ‘ele não’, aí faria sentido. Mas colocar no meio da ‘Eclipse’ foi um erro da minha equipe. Aquela parte da música era para aparecer pirâmides, lasers coloridos. Estávamos amando uns aos outros. No fim, é o clímax após a longa jornada que atravessamos”.
Waters disse ainda não ter ideia do que estava provocando a reação do público: “Na primeira noite eu não soube o que tinha aparecido no telão. Achei que todos aplaudiriam, porque era isso que deveria acontecer. Naquele momento do show, em todos os lugares que tocamos pelo mundo, todos ficaram tão contentes nesta parte, todos aplaudiram e me perguntei o que estava acontecendo (para a reação com vaias e aplausos, gritos de “ele não” misturados com os de “mito”)”.
O músico disse que o que viu acontecer no estádio do Palmeiras o fez lembrar de outros momentos na história de outros povos, como a Inglaterra na época em que antecedeu a Segunda Guerra, quando haviam brigas entre comunistas e fascistas nas ruas e completou: “Eles (os governantes) são os inimigos, são contra eles que deveríamos lutar e não entre nós. Isso é o que eles querem, que lutemos entre nós, porque, lutando entre nós, não focaremos em nossos verdadeiros problemas”.
Ele ainda mandou um recado aos que parecem ainda não ter entendido que sua obra tem um verdadeiro tom político e de protesto: “Se os meus fãs acham que músicos devem apenas tocar as suas músicas é obviamente errado. Não devemos. Temos responsabilidade como políticos e também como músicos. Eu acredito que todos os artistas, e não importa qual o tipo de arte que façamos, todos têm responsabilidade de usar a arte para expressar ideias políticas e se posicionar em favor dos direitos humanos para todos”.
Respondendo aos que entraram em sua página do Facebook e comentaram “Cale a boca e apenas toque a música”, ele retrucou:
“Se você não gosta, não entre no meu Facebook e não vá aos meus shows, ok? Se não gosta, não venha, tudo isso é ridículo!”
A turnê “Us + Them” é repleta de críticas políticas, como tem sido comum ao longo da carreira de Roger Waters. Ele foi vaiado em outros shows, como nos EUA, quando colocou o rosto do presidente Donald Trump durante a execução da música “Pigs“.
Ele encerra a entrevista reafirmando a sua admiração por John Lennon: “Acredito nele quando diz que tudo que precisamos é de amor. Eu acredito que o poder das pessoas de amarem umas às outras um dia irá vencer. Você pode dizer que sou sonhador, mas não sou o único”.
Sobre os shows, o set list foi calcado na sua época de PINK FLOYD, mas incluiu músicas de sua carreira solo, como você pode conferir abaixo:
Set 1:
01. Breathe
02. One of These Days
03. Time
04. Breathe (Reprise)
05. The Great Gig in The Sky
06. Welcome to The Machine
07. Déjà Vu
08. The Last Refugee
09. Picture That
10. Wish you Were Here
11. The Happiest Days Of Our Lives
12. Another Brick in The Wall – Part 2
13. Another Brick in The Wall – Part 3
Set 2:
14. Dogs
15. Pigs (Three Different Ones)
16. Money
17. Us + Them
18. Smell The Roses
19. Brain Damage
20. Eclipse
Encore:
21. Mother
22. Comfortably Numb
Abaixo, dois vídeos com performances de Waters gravadas exclusivamente para a Rede Globo: “Wish You Were Here” e “Déjà Vu”, confira abaixo:
Waters, que já se apresentou em São Paulo nos dias 09 e 10 e em Brasília no último sábado (13), ainda fará novas apresentações em Salvador (17), Belo Horizonte (21), Rio de Janeiro (24), Curitiba (27) e Porto Alegre (30).
Fonte: G1