O bordão do Scorpions nunca fez tanto sentido num show como nesse que aconteceu no dia 18 de setembro em Curitiba. A música é de 1984 resume a passagem do Rock Ao Vivo pela cidade. “Here I am, Rock you like a hurricane”. Bom, se formos literais, e medir a força dos ventos, estaria mais perto de um ciclone e quase metade de um furacão. A questão é que mesmo com chuva forte, granizo, e os ventos de até 65 km por hora, o show continuou até o fim.

A primeira banda a subir ao palco foi o Europe, lá pelas 17h30 da tarde. Em sua primeira passagem pela cidade, a banda deixou os fãs animados na possibilidade vê-los ao vivo. Joey Tempest nos vocais, John Norum na guitarra, John Leven no baixo, Mic Michaeli nos teclados e Ian Haugland na bateria fizeram um show com muita energia. “Olá gurias e guris de Curitiba.”, disse o vocalista usando as gírias locais, em um português bonito.

Europe. © Fotografia: Angela Missawa.

Poucas bandas entregam tanto no palco e dividem essa energia com o público. A prova disso foi “Carrie”, em que Tempest se divertia ao ver o público cantar e devolveu o microfone para a galera. A luz que iluminou a plateia se acendeu e o caso de amor estava selado, daqueles que todo mundo se abraça e (hoje) acendem as lanternas do celular, no papel dos antigos isqueiros. O setlist teve “Walk the Earth”, “The Siege”, “Rock the Night”, “Scream of Anger”, “Last Look at Eden”, “Ready or Not”, “War of Kings”, “Carrie”, “Nothin’ to Ya” e “Superstitious”.

Europe. © Fotografia: Angela Missawa.

Outro ponto foi o fato de eles se manterem no palco o maior tempo possível em meio ao caos. Faltando “Cherokee” e “The Final Countdown” para encerrar, no meio de “Superstitious”, todo mundo foi pego de surpresa com a água que caiu. O jeito foi correr para um abrigo e o barulho das pedras caindo e do vento foi tamanho que não se ouvia mais nada. A verdade é que eles só saíram porque não havia mais condições de continuar ali. Europe não tinha tocado “The Final Countdown”. Era a primeira vez, em trinta anos que isso acontecia. Os fãs ficaram desapontados em não poder cantar a música mais famosa da banda.

Em seu Instagram oficial, a banda comentou: “Curitiba! Devido à forte chuva de granizo, simplesmente não conseguimos terminar o show. Nós realmente tentamos, mas finalmente a eletricidade passou e não era mais segura no palco. Foi a primeira vez desde 1986 que não tocamos The Final Countdown em um grande show! Mas vocês foram ótimos na plateia e faremos o possível para voltar novamente. Tudo de melhor. // Europe.”

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Curitiba! Due to the severe hailstorm we simply couldn’t finish the show. We really tried but finally the electricity went and it was no longer safe on stage. It was the first time since 1986 we did not play The Final Countdown at a major show! But you guys were great in the audience and we will do our best to return again. All the best // Europe

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Independente do ocorrido, a abertura do show com o Europe foi a medida exata para transportar todo mundo ali para os anos 80. Tão amado pelos fãs de rock, que mesmo que pareça estar escondido pela aparelhagem tecnológico que tem envolvido a música nos últimos anos, estava lá, revivendo os desejos de seu lado mais novo por ver pessoalmente a banda. Ou as bandas.

Assim que a chuva parou, seguiu-se uma hora de espera. Ninguém sabia se ia continuar. Isso porque Curitiba pode ser muito imprevisível às vezes. A chuva iria parar ou viriam mais pedras? Impossível ter essa resposta. O tempo aparentemente se manteve um pouco chuvoso, sem tanto vento e sem granizo. A produção varria as pedras de gelo do palco e todo mundo se recuperava do susto.

Whitesnake subiu ao palco com atraso, mas subiu. A plateia se transformou em um amontoado de pessoas molhadas e com capa de chuva. Felicidade se podia ver na parte do rosto que o plástico não escondia. David Coverdale no vocal, Reb Beach e Joel Hoekstra nas guitarras, Michael Devin no baixo, Michele Luppi nos teclados e Tommy Aldridge na bateria. Coverdale passou praticamente o show inteiro na chuva, o mais próximo possível do público. E é imprescindível dizer que Whitesnake roubou a cena. Seja porque todo mundo já estava quase desacreditado que a noite iria continuar ou porque eles realmente são bons. Seja porque foi um presente aos corajosos que se mantiveram na chuva. Mas foi.

Whitesnake. © Fotografia: Angela Missawa.

O público foi ao êxtase em meio a “Bad Boys”, “Slide It In”, “Love Ain’t No Stranger”, “Hey You (You Make Me Rock)”, “Slow an’ Easy”, “Trouble Is Your Middle Name”, “Is This Love”, “Here I Go Again” e “Still of the Night”. “Obrigado pela sua hospitalidade, Curitiba. Com certeza eu vou fazer vocês queimarem.”, disse ao finalizar com a contagiante “Burn”, da época em que Coverdale fazia parte do Deep Purple. Os solos de guitarra e bateria, além de “Shut Up & Kiss Me”, “Give Me All Your Love”, tiveram que ser deixados de fora por conta do atraso. No final do show sobrou um David Coverdale encharcado e satisfeito, com cara de quem sabia que tinha feito um ótimo show. “Obrigado Curitiba”, disse em bom português.

Whitesnake. © Fotografia: Angela Missawa.

As estrelas da noite conseguiram chegar ao público mais tarde do que o esperado. Muitas bandas tem voltado a fazer shows por inúmeros motivos, contestados pelos críticos e alguns fãs. Em algumas apresentações, os integrantes parecem estar ali quase por obrigação. Não foi o que aconteceu com os Scorpions. Klaus Meine no vocal, Rudolph Schenker e Mathias Jabs nas guitarras, Pawel Maciwoda no baixo e Mikkey Dee na bateria, subiram ao palco com uma energia invejável. Os sorrisos eram tamanhos que mesmo de longe se podia sentir a alegria de estar ali, fazendo uma coisa que se gosta para tanta gente. “O que eu posso dizer? Está chovendo. Vamos mandar as nuvens embora. Vamos lá Curitiba, quero ver suas mãos pra cima.”, disse Klaus tentando descontrair.

Scorpions. © Fotografia: Angela Missawa.

No setlist teve “Going Out With a Bang”, “Make It Real”, “The Zoo”, “Coast to Coast”, “Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy’s Coming / Catch Your Train”, “We Built This House”, “Delicate Dance”, “Send Me an Angel”, “Wind of Change”, “Bad Boys Running Wild / I’m Leaving You / Tease Me Please Me”, “Blackout”, “Big City Nights”. No solo, a bateria se elevou no palco.

A chuva não deu trégua. Scorpions. © Fotografia: Angela Missawa.

Eles agradeceram e saíram do palco. Tiveram que voltar, claro, já bastava uma banda ficar sem tocar os clássicos, o público não ia aguentar. Sendo assim, finalizaram com “Still Loving You” e “Rock You Like a Hurricane”. Palmas para as bandas que se mantiveram firmes até o fim e entregaram uma apresentação muito melhor do que a encomenda.

Scorpions. © Fotografia: Angela Missawa.

Desculpem o texto tão literário, caro leitor. É que os eventos da noite soaram um pouco surreais que parecem até uma boa história.

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