Roadie Metal na Fronteira do Desconhecido #7: EBM

Dando continuidade a série de novos quadros sobre assuntos interessantes ao público do Rock e Metal, o quadro “Roadie Metal na fronteira do desconhecido”, tem o intuito de trazer mais informações sobre os mais diferentes subgêneros existentes, de forma a tirar dúvidas sobre estilos pouco conhecidos, acabar com informações enganosas sobre outros, ou simplesmente indicar algumas bandas para quem quiser se aventurar em gêneros novos. O quadro vai ao ar toda quarta-feira.

Hoje, trazemos um gênero musical resultante da fusão do synthpop dos anos 80 com a música industrial, criando um estilo pesado e agressivo e amigável com as pistas de dança. O pessoal do heavy metal pode torcer um pouco o nariz quando se trata do EBM, mas não podemos deixar de cita-lo, visto que é derivado do Metal Industrial também.  A música EBM consiste, na maioria dos casos, em timbres eletrônicos, na grande maioria das vezes sintetizados, letras agressivas, batidas distorcidas e algumas vezes a utilização de instrumentos nada convencionais, como serras elétricas e furadeiras. Termo inventado pelo grupo Front 242, EBM (eletronic body music), será nossa viagem de hoje. Espero que gostem!

Histórico

A Alemanha passava por um período de intensa miséria, logo após a Segunda Guerra Mundial. Por aqueles lados predominava um estilo conhecido como “schlager”, muito popular na Europa e com um público bastante cativo e consistia de músicas românticas, mas os jovens deste período não gostavam deste tipo de música, pois ela não refletia a situação social em que estavam vivendo e queriam algum movimento que mostrasse o quanto eles estavam revoltados, que chamasse a atenção do país. Mas também não queriam o rock, uma vez que este era símbolo da dominação inglesa, queriam algo novo.

Com o uso dos recentes sintetizadores, cujos custos eram bem altos e a adoção de formas não-convencionais de se fazer música, algo começou a ganhar forma… Era uma música eletrônica, que não parecia com o rock britânico e nem com nada feito anteriormente. Surge “krautrock”, termo pejorativo com origem na Segunda Guerra Mundial, iniciou-se a primeiro grande revolução na música popular depois do rock. O famoso Kraftwerk era um dos grupos de krautrock. Formado na Alemanha, por ex-alunos do grande músico Karlheinz Stockhausen, compositor erudito que utilizava dos avanços da música concreta para a criação de ritmos musicais, cuja influência se estende a artistas como Beatles e Björk.

Assim, surgiu pela primeira vez um grupo compondo seus grandes sucessos em sintetizadores analógicos de oito bits, os mais avançados da sua época. E com base neste tipo de música, sem instrumentos “orgânicos” que surgiu outro famoso estilo: synthpop. O movimento apareceu como uma revolta contra o rock e a necessidade de fazer música com instrumentos e técnicas complexas. Com o barateamento dos sintetizadores e a sua popularização fez com que novos músicos surgissem, tornando-se “orquestras de um homem só”. Porém, o estilo vanguardista que ficou conhecido como música industrial surgiu uma década antes com o Throbbing Gristle.

O grupo belga Front 242 lança em 1984, um trabalho, que segundo o grupo, era algo que estava entre o Throbbing Gristle e o Kraftwerk. Misturando a techno music com o industrial, num ritmo dançante. Influenciado pelos conceitos da música concreta de Edgard Varèse, a ideia deles era criar os sons a partir de formas definidas, partindo para uma experimentação que divergia do que era produzido na época dentro da música comercial. Era o conceito de homem-máquina, construindo o processo de desumanização e incorporação do ser humano aos objetos mecanizados.

O gênero ganhou mais destaque nos anos 90, com os grupos Android Lust, Velvet Acid Christ , Haujobb, In Strict Confidence (primeiros trabalhos), :wumpscut:, entre outros. As misturas iam ficando maiores, aproximando-os de outros gêneros eletrônicos, Hard Techno, o Trance e o Electro foram mais proeminentes. Outros iam se aproximando mais do darkwave e de algumas formas mais agressivas de EBM, originando o Dark Electro.

É importante destacar o surgimento do movimento Terror EBM, mas o termo não vingou, pois se tratava do electro-industrial visto de uma outra forma, ainda mais agressiva. Surgiu também o Aggrotech, que ainda é forte para alguns fãs, mesmo não se tratando de algo novo ou diferente. Serve para agrupar trabalhos com temáticas mais agressivas, como guerras, violência sexual, assassinatos, entre outros. Essa segunda onda de trabalhos foi marcada pelo surgimento das bandas Suicide Commando e teve sua continuidade com o Aesthetic Perfection, Hocico, Dulce Liquido, Tactical Sekt, Amduscia, Agonoize, Combichrist, Unter Null, entre outras.

O Cenário Brasileiro

No Brasil existem poucos grupos de EBM e não há eventos dedicados ao estilo – raras as vezes acontece alguns. As casas noturnas, como o Madamme, é que acabam sendo responsáveis pela divulgação do estilo, muitas vezes mesclada com electro-industrial e seus derivados, e algumas vezes criam festas com a temática EBM. Não existe, de fato, uma cena para o estilo, muito menos uma reunião de amigos que possam movimentar alguma coisa. Também não temos muitos grupos musicais, o que causa, uma falha grande para a criação de um público que queira ouvir o electronic body music.

Mas podemos citar a banda pioneira no estilo: Harry –  que também foi uma das primeiras bandas brasileiras de rock a cantar em inglês. Original de Santos, a banda se manteve na ativa de 1985 á 2017. Após Harry, outras bandas surgiram, mas não tiveram tanto reconhecimento. Deixo no final da matéria alguns discos de bandas nacionais do estilo. Tudo que existem no Brasil relacionado ao estilo, são influências que vem de fora. Até para adquirir material de bandas estrangeiras é quase impossível por aqui.

Características do Estilo

Na Europa, sobretudo na Alemanha e na Bélgica, ainda temos uma cena EBM forte, que divide espaço com a cena gótica e algumas vezes, se conflitam. Já em outros países, a cena é muito pequena, restrita a poucas pessoas e a poucos grupos, muitas vezes tornando-se muito mais uma reunião entre amigos. Fora da Europa existem pequenas cenas, não mais que meia dúzia de indivíduos em alguns locais. Normalmente o que se toca de EBM fica restrito a casas, como acontece no Brasil.

As principais características são as letras, onde em sua maioria atacam e banalizam o sistema político de seus país, e em geral como crítica ao poderio militar norte-americano sobre os outros povos, e sua base musical que é inteiramente calçada nos sintetizadores, disquetes, computadores sobre uma base em ritmo 4×4 que caía bem nas pistas de dança européias dos anos 80. A batida mais pesada, cenário mais violento e figurino mais chamativo, por ter um lado muito dançante, marcado por batidas mais pop, uma imagem fortemente militar e a sua deturpação pela cena gótica, apesar de tudo, conseguiram ganhar uma fama grande, talvez maior do que seria esperado.

Hoje, uma das lutas dentro do gênero é o de se resgatar a sua identidade, o seu público e tentar se manter sem a necessidade de ser “incorporado à força” por uma cena que não é a sua.

Álbuns que valem a pena conferir

Skinny Puppy – Back and Forth (1984)
NITZER EBB – That Total Age (1987)
A Split Second – A Split Second (1988)
Front 242 – Front by Front (1988)
:Wumpscut: – Defcon (1991)
Suicide Commando – Stored Images (1995)
Hocico – Odio Bajo El Alma (1997)
Ayria – Debris (2003)
Psyclon Nine – Divine Infekt (2003)
Combichrist – One Fire (2019)

O Cenário Brasileiro
Harry – Fairy tales (1988)
Loop B* – Midnight Mirage (1992)
H.A.R.R.Y. and the Addict  – Raw Mixes (2009)
God Pussy – Análise do Princípio Informativo (2019)

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