Hoje teremos mais uma edição do quadro “Roadie Metal na fronteira do desconhecido”, que tem o intuito de trazer mais informações sobre os mais diferentes subgêneros existentes, de forma a tirar dúvidas sobre estilos pouco conhecidos, acabar com informações enganosas sobre outros, ou simplesmente indicar algumas bandas para quem quiser se aventurar em gêneros novos. O quadro vai ao ar toda quarta-feira.
Introdução
Se você gosta de black metal, muita ambiência, berros agonizantes, ou sente que está no limiar entre o céu e inferno, essa matéria é para você, meu caro ou minha cara, que caso nunca tenha ouvido falar em Blackgaze, vai terminar essa leitura e ir correndo para as plataformas de música pegar a playlist do estilo mais próxima de você!
Bom, o Blackgaze é basicamente a mistura do Black Metal, com o Shoegaze.
Aí você me pergunta, mas que diabos é Shoegaze, cê ta doida? Não, calma! O Shoegaze é um gênero que está entre o post-punk e o indie rock.
História
Para entender melhor, o Shoegaze surgiu na Inglaterra nos 80 durante um show da banda Moose, onde os integrantes liam as músicas olhando para o chão, dando sempre uma impressão de estarem meio tristes e cabisbaixos, por isso o nome Shoe (sapatos) e Gaze (Que olham).
Tal estilo acabou disseminando as ambiências no rock, colocando vozes angelicais em meio às guitarras com muito delay e distorção.
As principais bandas no estilo são My Bloody Valentine, Slowdive, Chapterhouse, e pasmem, bandas como The Cure, Velvet Underground e The Smiths já declararam ter muita influência de shoegaze em seu estilo.
Tá, e o que isso tem a ver com Blackmetal…?
Aí é que entra Stéphane “Neige” Paut, a cabeça por trás de todo o gênero.
Por volta dos anos 2000 na França, Neige no auge dos seus 15 anos, lançou a primeira demo da sua ainda desconhecida banda, Alcest, chamada “Tristesse Hivernale”, onde as influências ainda eram puramente o Depressive Blackmetal, com toda a sua agressividade, intensidade e melancolia nos sons.
Devido a um período sabático que a banda passou depois do lançamento da demo, Alcest surge novamente em 2005 com o EP “Le Secret”, com apenas duas músicas com mais ou menos 13 minutos cada uma (Sim!!!), que é considerado onde surgiu o Blackgaze, onde Neige mesclou os berros e instrumental agressivo e depressivo do Blackmetal, com as ambiências, vozes angelicais e conforto do Shoegaze.
Algumas das principais bandas do estilo, além de Alcest, são: Agalloch, Lantlôs, Heretoir, ColdWorld, Les Discrets! Deafheaven, etc.
Cenário brasileiro
Pouco, ou quase nada, se fala sobre a cena Blackgaze no Brasil, mas ela existe, e está bem ali nas entranhas do underground obscuro, enraizado na mais pura melancolia e desejo por um conforto emocional.
Começamos falando da banda Shyy, um quarteto paulista formado em 2007. A banda nasceu da vontade de dar um ar mais atmosférico e depressivo para o Blackmetal. mas também com uma pegada gótica e indie, aposta que deu mais que certo, sendo a primeira banda a trazer o Blackgaze para o Brasil.
Na cena nacional também, temos a banda amazonense Sabactâni, formada em 2010 com apenas dois integrantes. A banda originalmente se chamava Crueldade Interna, e era de Blackmetal, depois de uns anos tentando sobreviver na cena, um dos integrantes saiu da banda, deixando apenas Jefferson Martinho na então one man band, agora inteiramente entregue ao blackgaze. A banda fez uma breve pausa, mas já anunciou que retornará em breve com material novo.
Entrei em contato com Jefferson, para saber com mais detalhes como o estilo é visto na cena, “ a cena antigamente era mais forte, todos se dedicavam para fazer seus projetos, e para aumentar a visibilidade do blackgaze nacional, hoje em dia a cena ainda existe, mas são raras as bandas ainda ativas”.
As influências para o Sabactâni foram Alcest, Lantlôs, Les Discrets, um pouco de Woods of Desolation, e outras coisas do tipo, mas Alcest talvez tenha sido a principal, por ser a mais famosa no seguimento.
“O que atrapalha muito na cena brasileira, é que por várias vezes vi bandas se denominando serem “blackgaze”, mas quando você ouvia, sabia que era algo totalmente diferente, muitas vezes eram de Doom Metal, e isso confunde a cabeça das pessoas”.
Outra influência nacional é a Gray Souvenirs, que também é uma one man band formada por Putrefactus em 2015, lançando seu primeiro álbum chamado “Lost in city colors”. A banda está ativa até o momento, e tem 5 álbuns lançados.
Características do estilo
– Guitarras com muito delay e distorção juntas
– Guturais com variações de vocais limpos e calmos
– Bateria com pedal duplo (influência do black metal)
– Muitos efeitos e ambiência (influência do shoegaze)
Álbuns que valem a pena conferir:
Discos Internacionais
Alcest– Le Secret (2005)
Alcest – Kodama (2016)
Lantlôs – .neon (2010)
Heretoir – The Circle (2017)
Agalloch – Ashes Against The Grain (2006)
Le Discrets/Alcest (2009)
Les Discrets – Septembre et Ses Dernières Pensées (2010)
Discos Brasileiros
Gray Souvenirs – The First Sight (2017)
Gray Souvenirs – Letter to the Forgotten Spring (2018)
Songs of Oblivion – Essência Obscura (2019)
Sabactâni – The Last (2019)
Shyy- Shyy (2018)
Shyy- The Path Toward Forgetfulness (2011)
Conclusão
Escolhi esse estilo por ser meu favorito, por ter sido apresentado a mim num momento bem delicado de depressão e busca pelo autoconhecimento. E foi ouvindo o disco Kodama, do Alcest, que pela primeira vez senti que minha alma estava sendo tocada por alguma música, parecia que todos os acordes descreviam um sentimento do qual eu mal sabia o nome, e deu um novo significado a eles.
O shoegaze é a mão que afaga, e a que apedreja!
É o desespero, e ao mesmo tempo o abraço carinhoso!
É a luz no fim do túnel, e esperança de chegar até o final dela!
E se gostou, e quer ler mais um pouquinho sobre Blackgaze, clique no link abaixo: http://144.217.7.140/blackgaze-o-encontro-do-profano-black-metal-com-o-angelical-shoegaze/ !