Se você tem mais do que 18 anos, provavelmente em algum momento você se deparou com um bom e velho Super Nintendo, ou até o famoso “nintendinho”, que ou era seu, ou de algum parente que te chamou pra jogar em alguma visita à casa dele. Se você tem mais de 30, muito provavelmente você possuiu um deles quando era mais novo e quase com certeza eles figuram até hoje dentre seus videogames favoritos. Independentemente da sua história com esses consoles, é quase impossível você nunca ter jogado um jogo da era 8 bits ou 16 bits, e muito difícil que alguma música presente nesses jogos não tenha ficado na sua cabeça por um tempo, marcada pelos sintetizadores de onda quadrada e seu som característico (quem não conhece a música do Super Mario?).
Mas o que você diria se alguém fundisse essa sonoridade dos videogames dos anos 80 com hardcore, heavy metal e outros subgêneros de rock? Isso é o Nintendocore, também conhecido como Nescore (devido ao nome do primeiro console da nintendo, o NES, Nintendo Entertainment System) ou ainda Video Game Rock, tópico da matéria de hoje do Roadie Metal Na Fronteira do Desconhecido.

Histórico

Origens (1978 – 1998)

Como maioria dos subgêneros de rock e metal, não é tão simples dizer uma data ou obra específica que iniciou o gênero, pois dificilmente os subgêneros são intencionalmente criados e separados do resto. No caso do Nintendocore, os primeiros registros que são, no mínimo, influentes para o estilo datam de 1978, no álbum de estreia da banda Yellow Magic Orchestra, uma das pioneiras do Synthpop. Na música “Computer Game“, deste álbum, a banda sampleia sons do jogo Space Invaders, muito popular na época. Foi o primeiro registro de uma mistura entre música de videogames e música comum. Pouco tempo depois, o grupo Buckner & Garcia foi o primeiro grupo a escrever um álbum inteiro sobre videogames, usando sons de Arcade em meio às suas músicas, com o álbum “Pac-Man Fever” de 1981. Durante os próximos anos se seguiram diversos exemplos famosos de artistas que misturaram música de videogames com sua música comum ou que falaram sobre videogames em suas composições, mas isso ainda não era oficialmente o gênero do Nintendocore, que teria seu nascimento oficial no final dos anos 90.

“Computer Game” da Yellow Light Orchestra, música do considerado primeiro álbum de Nintendocore da história.

O Nintendocore propriamente dito (1998 – 2008)

Existem duas bandas que recebem o crédito pela criação do que é oficialmente conhecido como Nintendocore. A primeira é a banda The Advantage, formada em 1998, que é considerada a grande responsável por tornar o Nintendocore um gênero mais popular. A banda, que é simplesmente uma dupla de amigos de escola, se popularizou por fazer versões em formato de rock de músicas de jogos da Nintendo (inclusive, eles são bem específicos ao citar que somente tocam músicas de jogos dessa empresa, não de outras). A cena do Nintendocore considera que o The Advantage é responsável por legitimar a existência do Nintendocore como um gênero à parte dos outros.

Cover do The Advantage da música do chefão (Boss Music) do jogo Contra

A segunda banda considerada oficialmente pioneira do Nintendocore é a HORSE the band, banda de Metalcore formada também no ano de 1998. A banda é considerada a maior banda de Nintendocore do mundo, além de ter sido a criadora do termo “nintendocore”, usado pelo vocalista Nathan Winneke para descrever qual era a intenção da banda com seu som. O grande diferencial da HORSE the band, em comparação com a The Advantage, é que a banda de Winneke faz músicas realmente originais com sons inspirados em videogames da era 8-bits (bem destacado pelo uso de sintetizadores nas músicas), enquanto que o The Advantage simplesmente cria versões instrumentais de músicas já existentes. Não me estenderei muito na história do grupo, pois achei um texto muito bem escrito que conta a história da banda (da maneira mais emocionada que já vi até hoje), que você acessa clicando aqui (o texto está em inglês). Mas em resumo, a banda fez muito sucesso e chegou até a fazer uma turnê mundial (chamada The Earth Tour) em 2008, feito inacreditável para uma banda que toca um gênero como Nintendocore.

https://youtu.be/ZG7aDAPBCwY
“Birdo”, música da banda HORSE the band, primeira a usar oficialmente o termo Nintendocore para descrever seu estilo de composição

A Mudança na Indústria e seu impacto no Nintendocore (2008 – 2016)

Em 2006, surgiu a geração de consoles HD: o Playstation 3, Nintendo Wii e Xbox 360. Esses consoles marcaram uma grande revolução na indústria de videogames. O Wii com a criação de controles de movimento (o grande ponto de apelo da plataforma), que mudava toda a dinâmica de jogar. Jogar não se resumia mais apertar botões em um controle, mas também de movimentar o próprio controle e esse movimento ser transmitido para dentro do jogo; O Playstation e o Xbox, apesar de também terem registrado suas tentativas de entrar na novidade de controle de movimento com o Playstation Move e o famoso Kinect da Xbox, não são marcados por isso, mas sim por obras com uma qualidade gráfica, sonora e narrativa digna de uma mega produção, como Dead Space, GTA IV, entre vários outros. Com isso, o conceito de “música de videogame” também mudou, pois não se resumia mais a efeitos sonoros simples e sintetizados, mas sim a uma produção audiovisual incrível.
Com isso, de certa forma, o Nintendocore foi se tornando bem menos interessante (também devido a um hiato da HORSE the band) e passou alguns anos (mais precisamente até 2016) sem ser lembrado pelo público de maneira geral.

O renascimento (2016 – atualmente)

Em 2016, o Nintendocore foi, de certa forma, ressucitado para a audiência mainstream, com o lançamento do álbum “Smash 64“, compilação com algumas bandas mais atuais de Nintendocore como Unicorn Hole, Polygon Horizon e Got Item inspirada pelo jogo “Super Smash Bros 64”, na tentativa de trazer o gênero de volta. Este álbum foi lançado pela N-Core Lives, gravadora que lança artistas de Nintendocore e faz um esforço para manter o gênero vivo. Na época, a AltPress fez um artigo sobre o álbum, trazendo grande atenção para ele e para o gênero de uma maneira geral. Você pode ouvir o álbum na íntegra aqui.

“Jigglypuff” da banda Unicorn Hole, presente no álbum Smash 64 da N-Core Lives.

O que virá daqui pra frente para o gênero é uma grande incógnita. Nos anos que se seguiram ao álbum, não houve nada muito interessante de novidade no Nintendocore, mas a quantidade de vídeos e artigos falando sobre o assunto aumentou muito, o que já é uma coisa muito boa no geral.

O cenário brasileiro

Não há muito o que falar do cenário brasileiro de Nintendocore, visto que não é muito extenso. Mas existem algumas bandas brasileiras de Nintendocore como 8 Bit Instrumental, Os Gameboys e MegaDriver. Aqui no Brasil as bandas não são propriamente do Nintendocore que mistura metalcore com música de videogame, tocando o que seria melhor classificado como “Videogame Rock”

Música “Hidrocity (Act 1 & 2)” da banda brasileira Gameboys.

Características do Estilo

O Nintendocore pode ser visto como a mistura de rock ou metal, de uma maneira geral, com o que é conhecido por “música de videogame”, ou seja, sintetizadores de onda quadrada, com som meio “granulado”, podendo inclusive conter samples de músicas reais de videogames.
Formalmente o Nintendocore ao qual a HORSE the band se referia e que é apresentado no álbum de 2016 citado acima é, propriamente, a mistura do Metalcore e Post-hardcore com elementos de música de videogame ou samples de músicas de jogos, tendo no geral características bem parecidas com as do Metalcore.

Bandas que vale a pena conferir

O cenário, mesmo mundialmente, não é muito extenso dentro do Nintendocore, mas ainda sim, na internet, é possível encontrar obras de muitas bandas que podem se enquadrar no gênero, como:

Talvez o álbum específico que melhor resuma o gênero seja o Smash 64” citado acima, mas dentre as bandas citadas você pode encontrar diversas vertentes do Nintendocore.

Mas e aí? O que você acha sobre o Nintendocore? Será que o gênero resistirá ao tempo, ou em breve será enterrado como uma vaga lembrança? Comente aí!

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