Roadie Metal na fronteira do desconhecido #2: DeathRock

Dando continuidade a série de novos quadros sobre assuntos interessantes ao público do Rock e Metal, o quadro “Roadie Metal na fronteira do desconhecido”, tem o intuito de trazer mais informações sobre os mais diferentes subgêneros existentes, de forma a tirar dúvidas sobre estilos pouco conhecidos, acabar com informações enganosas sobre outros, ou simplesmente indicar algumas bandas para quem quiser se aventurar em gêneros novos. O quadro vai ao ar toda quarta-feira.

na fronteira do desconhecido

Hoje, trazemos um gênero um pouco obscuro, que mescla o Punk Rock com o Gothic Rock misturado com horror e humor negro, que incorpora teatralidade sombria e surreal. O estilo tem como característica as letras tipicamente introspectivas e surrealistas, com temas irônicos, sarcásticos e sombrios de isolamento, desilusão, humor negro, sadismo, perversão, morbidez, perdas, morte, horror, podendo incluir temas do romantismo sombrio, além do maior fator que é o visual e estética dos seguidores deste estilo. Vamos falar um pouco sobre esse subgênero do Punk e do Gótico que não é tão conhecido no Brasil e que possui inúmeras bandas boas que também não estão no circuito mainstream.

Histórico

O termo “death rock” foi usado pela primeira vez na década de 1950 para descrever um gênero tematicamente relacionado ao rock and roll, mas formou-se inicialmente como uma ramificação da cena punk rock do início dos anos 70 e início dos anos 80 com bandas como Christian Death , 45 Grave e Kommunity FK – embora, as primeiras fontes da estética deathrock remontam ao final dos anos 50 e início dos 60, época em que artistas como Bobby “Boris” Pickett, Zacherle, Screamin’ Jay Hawkins e Screaming Lord Sutch & the Savages começaram a utilizar efeitos sonoros retirados de filmes de terror em suas músicas. Muitas das bandas de deathrock da Califórnia começaram como bandas punk ou eram compostas por músicos de outras bandas punk e Hardcore Punk . As raízes punk podem ser facilmente ouvidas nos primeiros trabalhos das banda deathrock.

No Reino Unido, uma cena punk escura e sombria, na época chamada ‘punk positivo’, se estabeleceu. O som positivo do punk foi altamente influenciado pelo lado sombrio do Post-Punk e muitas vezes apresentava bateria tribal, guitarra áspera e estridente, vocais agudos e baixo proeminente. Outra marca de deathrock do Reino Unido, ‘batcave music’, recebeu o nome do clube Batcave de Londres e foi altamente influenciada pelo glam rock, sendo tipificada por atos como Specimen e Alien Sex Fiend . Muitos atos, principalmente o Cinema Strange  (que retirou seu logo de uma cena do filme Gabinete do Dr. Calligari), incorporam elementos teatrais do Dark Cabaret para um som ainda mais extravagante. Death Rock recebeu diversas influências, ao passar das décadas, e a mistura de elementos retirados de filme de horror com música teve continuidade por meio de grupos de hard rock como Alice Cooper e Kiss. A banda 45 Grave chegou a regravar “School’s Out”, do Alice Cooper. Outras bandas que influenciaram muitos artistas início deathrock incluem David Bowie , Iggy Pop e os Stooges , Cramps , T. Rex, New York Dolls, The Damned e Bauhaus.

Durante grande parte da década de 1990, a cena da música gótica foi dominada pela Electro-Industrial e a popularidade no Deathrock diminuiu. NO entanto, houve outros movimentos revivalistas significativos do deathrock – o chamado “Revival Death Rock” -, que surgiu no início de 2000 (mais exatamente a partir de 1998) com bandas como All Gone Dead, Bella Morte, Arctic Flowers e Belgrado. O movimento de revitalização do deathrock foi semelhante à cena original do deathrock em Los Angeles e ao movimento Batcave em Londres, mas mais unificado nos EUA, Reino Unido e Europa através de várias gravadoras. Além dos clubes, a cena do renascimento estava centrada em shows, eventos especiais, festas e exibições de filmes de terror. A Internet teve um papel importante no renascimento do deathrock, onde sites e comunidades on-line surgiram dedicados à discussão de músicas, bandas e modas do deathrock, além de filmes de terror. Em termos de diferenças em relação à cena original, houve uma mudança para um som mais pós-punk, como resultado da influência das bandas européias da década de 1980.

O Cenário Brasileiro

No Brasil, nos anos 80 era notável a influência de bandas do pós-punk britânico e alemão nos visuais e casas noturnas, junto com elas, veio também as influências do movimento deathrock inicial da califórnia, sendo 45 Grave e Christian Death as bandas mais difundidas no Brasil.. Devido ao fechamento do país devido a ditadura militar na metade dos anos 80, era impossível adquirir material musical e gráfico estrangeiro, e essa dificuldade ajudou a diferenciar fortemente a cena brasileira das cenas estrangeiras, onde o movimento surgiu. O “revival death rock” californiano atuou diretamente na cena gótica paulistana, de onde saiu todos os deathrockers da cidade, fazendo com que os seguidores deste estilo se consolidassem como um grupo bem definido, iniciando atividades de divulgação por casas noturnas como a “RIP” em Pinheiros e “Projeto Deathrock” na Zona Leste, que trazia de volta grandes nomes da cena Death Rock e Batcave. Junto com toda essa onda, começou a veiculação de zines deste estilo, os mais famosos foram ‘Batzone’, “Marcha Fúnebre” e “Acefalia”, todos extintos atualmente. Mas o que foi considerada a primeira banda do estilo no Brasil, só surgiu em 2003, a Crippled Ballerinas, iniciando uma série de shows pelo estado. São poucas as bandas brasileira de Deathrock, podemos citar a Morta Súbita, Monkey Business e The Knutz  que foram relevantes. E hoje em dia o estilo se mantem ativo na famosa casa Madame Satã e em algumas festas mais undergrounds.

Características do Estilo

A música deathrock difere muito de uma banda pra outra, mas no geral se caracteriza por uma atmosfera introspectiva dentro de uma estrutura musical punk, como é o caso do Christian Death. Que é bem diferente das pioneiras 45 Grave que soa mais próximo do horror punk ou o Alien Sex Fiend que sempre abusou de sintetizadores e samples o que deixa sua música com uma sonoridade industrial. Com estrutura simples das letras e atmosfera densa, ameaçadora, melancólica e maníacas junto a expressividade do vocalista. Um ponto forte e único do estilo são os vocalistas donos de vozes únicas e forte presença de palco.

As músicas se utilizam de acordes simples, guitarras ecoantes e fantasmagóricas que geralmente servem de pano de fundo musical junto com sintetizadores, o baixo que tem uma presença muito marcante, muitas vezes as guitarras ficam em segundo plano. A bateria reproduz um estilo dentro do tempo 4/4 do pós-punk. Nas bandas mais novas de deathrock, é comum também o uso de baterias eletrônicas e texturas ambientais complexas feitas por sintetizadores.

As letras trazem um tom introspectivo e depressivo em algumas bandas, como no caso de letras do gothic rock. Como exemplo padrão, temos Lindsay’s Trachea, do grupo californiano Cinema Strange, que trata do diálogo interno de um doutor esquizofrênico com sua segunda personalidade. O tema explorado é o da dor e morte física como correlato da degradação mental, isolamento, desilusão, perda, depressão, vida, morte, todos ligados a uma forma de percepção violentamente individualista, hedonista e incongruente com padrões de comportamento. Outra característica são as letras com humor negro, às vezes narrativas extravagantes e de gosto duvidoso sobre violência e psicopatia.

No geral, deathrock é um estilo único mas cheio de influências. É fácil reconhecer as músicas e os seguidores deste estilo underground, com suas roupas extravagantes e teatrais. Em termos de cena, podemos confundir deathrock com estilos parecidos como Psychobilly e Horror Punk, mas se trata de três grupos distintos, e que em breve serão tratados mais a fundo aqui no quadro Na Fronteira do Desconhecido.

Álbuns que valem a pena conferir

Death Rock
45 Grave – Sleep in Safety (1983)
Alien Sex Fiend – Acid Bath (1984)
The Birthday Party – The Birthday Party (1980)
Christian Death – Only Theatre of Pain (1982)
Christian Death – The Scriptures (1987)
Kommunity FK – The Vision and the Voice  (1983)
Sex Gang Children – Song and Legend(1983)

Revival Death Rock
All Gone Dead – Fallen and Forgotten (2006)
Arctic Flowers ‎– Reveries (2011)
Bella Morte – Remorse (1996)
Bella Morte – Where Shadows Lie (2000)
Cinema Strange – Cinema Strange (2000)
Fear Cult – Visionary Complex (2003)
Tragic Black – Nostalgia (2016)

Bandas Brasileiras
Crippled Ballerinas  – No Vampiric Prunes (2004)
Crippled Ballerinas  – A Noite Brinca com Você (2005)
The Knutz – Ghost Dance Party – (2010)

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