Dando continuidade a série de novos quadros sobre assuntos interessantes ao público do Rock e Metal, o quadro “Roadie Metal na fronteira do desconhecido”, tem o intuito de trazer mais informações sobre os mais diferentes subgêneros existentes, de forma a tirar dúvidas sobre estilos pouco conhecidos, acabar com informações enganosas sobre outros, ou simplesmente indicar algumas bandas para quem quiser se aventurar em gêneros novos. O quadro vai ao ar toda quarta-feira.
Hoje, trazemos um gênero musical resultante da fusão do post-punk com new wave. Um dos pilares da música gótica, juntamente com o gothic rock. Podemos até arriscar o gênero como alguma coisa gótica cuja base é o gothic rock e um monte de outras coisas. Após o surgimento do rock gótico na Inglaterra através da cena pós-punk, a música dark wave foi de principal importância para caracterizar à subcultura gótica nos anos 80. Apesar de serem igualmente sombrios, o gênero dark wave se diferencia do rock gótico por ser mais eletrônico, dançante e com uso mais frequente de sintetizadores e atmosferas eletrônicas, além do clima sombrio, que é o ponto forte dessa diferenciação.
Histórico
origem do Darkwave se deu no início dos anos 80. O cenário musical era compartilhado com o Gótico, o New Wave e o Post-Punk. Confundir os dois é algo totalmente comum e compreensivo. As diferenças realmente são sutis, ficando em alguns detalhes instrumentais ou de elementos sonoros, como algumas texturas, e na temática. Entretanto, ambos os estilos foram e são importantes na história da música e que perduram nas influência de artistas que ouvimos.
No começo dos anos 90 a gravadora norte-americana Projekt começou a usar o termo DarkWave para definir seu catálogo. Como esse catálogo incluía muitas bandas similares à Cocteau Twins, Dead Can Dance, Industrial clássico e sonoridades Ethereal, estes estilos passaram a ser chamados também de Darkwave. Por extensão, passou-se a chamar de Darkwave retroativamente a bandas dos anos 80 que tinham estilo semelhante e que na verdade influenciaram a Darkwave dos anos 90. Exemplos são bandas francesas como Opera Multi Steel, Collection D’arnel Andrea e as duas bandas Inglesas já citadas. Bandas que começaram fazendo uma New-Wave mais alternativa passaram a ser incluídas neste rótulo. Muitas bandas do estilo Ethereal também entram nessa classificação: Black Tape for a Blue Girl, Love Spirals Downsward, Lycia, Bel Am. etc, reclassificadas retroativamente: Cocteau Twins, Dead Can Dance, Dali’s Car, Opera Multi Steel, etc.
Em razão de bandas como Cocteau Twins terem sido lançadas pelo mesmo selo que Bauhaus, e a pesquisa sonora e influências guardarem ligações com o que se fazia no Pós-Punk/Gótico (além de ter origens comuns), também acabou-se por usar o termo Darkwave para todo o Gótico que não fosse muito “Rock”. Algo como uma “New-Wave mais obscura”. Aliás, ao contrário do que muitos pensam, New-Wave não se resume a “surf-rock colorido”.
Assim, em alguns casos, Darkwave é usada quase como sinônimo de Gothic. Além disso, bandas como The Cure (principalmente entra os anos 1981 e 1983) e Cocteau Twins, na mesma época trabalhavam com sonoridades muito próximas e “ethéreis” (góticas na opinião de alguns).
Darkwave foi também o rótulo utilizado para bandas eletrônicas alemãs do começo da década de 90, mesmo que depois elas tenham enveredado por estilos que hoje recebem outras classificações, como Project Pitchfork e Das Ich, no início das suas carreiras. O estilo acentua suas bases eletrônicas, com bandas como Wolfsheim, Poesie Noire, Diorama, Diary of Dreams, etc.
O Cenário Brasileiro
No Brasil, nos anos 80 era notável a influência de bandas do pós-punk britânico e alemão nos visuais e casas noturnas, junto com elas, veio também as influências do movimento new wave e dark wave. Não há um movimento no brasil, mas é possível escutar bandas do estilo em casas noturnas como o saudoso Madame Satã. São poucas as bandas brasileira de Darkwave, mas podemos citar duas que tem grande destaque: Scarlet Leaves, formada em São Paulo, Brasil, no ano de 2003 e Escarlatina Obsessiva, um duo formado por Karolina Escarlatina e Zaf, que vive em total liberdade artística, isolado da realidade corrosiva das grandes metrópoles, na mítica cidade de São Thomé das Letras.
Características do Estilo
A semelhança com o Post-Punk se deve, além do fato de coexistirem na mesmo época, início e meio dos anos 80, a uma sonoridade mais introspectiva e com a utilização de elementos mais densos com presença de baterias eletrônicas e do baixo marcante.
Entretanto, o Darkwave acabou por adotar uma linha mais voltada para o Gótico e o New Wave do que o Post-Punk, trazendo temáticas mais sombrias e místicas às suas letras e ao estilo de vida do subgênero que se formava. Bandas como Bauhaus e Siouxsie and the Banhsess exemplificam muito bem essa adoção ao apresentar músicas que falam da noite, medo, solidão e ultra romantismo de segunda geração romântica, no qual o amor se torna algo incalculável ou então a solução póstuma de todos os males em vida. Outras duas que tem sua presença, mesmo que de passagem pelo estilo é o Joy Division, que apesar de ser um representante do Post-Punk, possui em sua obra, uma música que é tida por muitos como a introdução e inspiração para o Darkwave. “Atmosphere”, lançada em como single em 1980, após a morte de Ian Cutis, é uma faixa extremamente etérea e com as características sombrias que veríamos nas bandas que surgiriam. Essa relação só faz muitos associarem o Darkwave como uma continuação, um braço, do Post-Punk, o que não deixa de ser uma verdade visto que ambos os estilos possuem uma base temática e musical em comum. Além dessa, The Cure em seu início de carreira, ou seja, final dos anos 70 e início dos anos 80, que mesmo já nos trazendo a sua carga New Wave com as baterias eletrônicas e sintetizadores, aparecia com um som levemente sombrio, como pode ser notado no disco Seventeen Seconds que contém o hit “A Forest”. Mais adiante, a banda iria apresentar músicas mais animadas, como “The Caterpillar”, “Boys Don’t Cry”, “Just Like Heaven” e “Friday I’m in Love”, deixando um pouco de lado a carga dark/gótica de seu som e se atendo ao New Wave.
O fato é que o som da Darkwave influenciou artistas ao longo do tempo e se faz presente atualmente no revival que a cena Post-Punk como um todo teve no início dos anos 2000. Nomes como She Wants Revenge e I Love You But I’ve Chosen Darkness são uns que encabeçam essa nova linhagem e que trazem um som mais denso, ambos discos de 2006, percebemos a influências de um som dark, carregado de tensão e um clima de fobia e que faz jus aos nomes oitentistas.
Outros nomes, como Liars e White Rose Movement, são bandas que trouxeram um toque Electro ao estilo, utilizando ritmos eletrônicos na composição das músicas e dando uma roupagem mais moderna, mas ainda assim ganhando influência do estilo. Zola Jesus e Chelsea Wolfe são dois exemplos da safra atual que fazem o Darkwave mais etéreo – que muitos chamam de Ethereal Wave. Os vocais sombrios, porém sublimes e marcantes, fazem de suas suas obras extremamente belas e mergulhadas numa atmosfera dark e transcendente.
Álbuns que valem a pena conferir
Clan of Xymox – Subsequent Pleasures (1984)
Clan of Xymox – Clan of Xymox (1985)
Lacrimosa – Angst (1991)
Lacrimosa – Satura(1993)
Wolfsheim – Popkiller (1993)
Sopor Aeternus & The Ensemble of Shadows- Todeswunsch – Sous le soleil de Saturne (1995)
Diary of Dreams – End of Flowers (1996)
The Frozen Autumn- Fragments of Memories (1997)
The Crüxshadows – Telemetry Of A Fallen Angel (1997)
Projeto Pitchfork – Eon:Eon (1998)
The Frozen Autumn – Is Anybody There? (2005)
She Wants Revenge – She Wants Revenge (2006)
Chelsea Wolfe – Unknown Rooms: A Collection Of Acoustic Songs (2012)Diary of Dreams – Hell in Eden (2017)
Sopor Aeternus & The Ensemble of Shadows – Island of the Dead (2020)
Darkwave no Brasil
Escarlatina Obsessiva – The Organ Grinder Songs (2012)