Com quase cinco décadas da carreira, a banda neerlandesa de Rock Progressivo Kayak está prestes a lançar o seu 18º trabalho em estúdio, intitulado “Out of This World”, que será disponibilizado no próximo dia 07 de maio através da gravadora Inside Out Music.
Mas assim como todas as bandas do mundo, a Kayak passa pela situação de não poder realizar turnês para divulgar o novo trabalho por conta da pandemia da Covid-19, que parou o mercado musical há um pouco mais de um ano.
Após liberar os dois primeiros singles referente ao “Out of This World”, o tecladista Ton Scherpenzeel concedeu entrevista exclusiva a Roadie Metal para falar das expectativas para o novo álbum.
Roadie Metal: O que podemos esperar do “Out of This World”?
Ton: Acho que podem esperar um álbum bem eclético, com o Kayak como a fábrica principal, com o som base e a ideia das músicas. Mas o estilo é bem eclético, tem músicas Pop, tem Prog, linhas Sinfônicas, baladas calmas… Tem muitas variações no álbum.
Roadie Metal: Por que a escolha do nome “Out of This World”? Há realmente algo “fora desse mundo” no álbum?
Ton: Você pode até dizer isso (risos), seria um comentário positivo, mas você estaria falando para si mesmo. Mas é apenas o título de uma das músicas, e que é uma das melhores músicas do álbum, na minha opinião, e uma ótima abertura. Gosto sempre de pensar em uma das músicas como a faixa-título, essa é perfeita. Não há tema, não há conceito, é apenas uma combinação de 15 músicas, e esse é provavelmente uma das mais marcantes, mais energética, e uma ótima abertura para o álbum. E por isso escolhemos o nome “Out of This World”. Mas não há um significado profundo – a música tem um significado – mas não o disco.
Roadie Metal: Como está sendo a recepção para os dois primeiros singles lançados (Mystery e Waiting)?
Ton: Foi boa, “Mystery” foi aceita como uma música normal do Kayak, se tivéssemos lançado antigamente teríamos a mesma resposta, porque é bem o nosso estilo. “Waiting” teve uma recepção diferente, porque nem todo mundo esperava esse tipo de música do Kayak, e eu realmente gosto disso, porque gosto de todos os tipos de estilos e desafios. Se você tem tantos músicos talentosos na banda, e com ótimas vozes, você tem de tentar achar outras maneiras de fazer a sua música, e permanecer na mesma veia. Na minha opinião “Waiting” é uma das melhores faixas do álbum, mas nem todo mundo acha isso, eles esperavam Prog e pensaram “é apenas uma música Pop”. Eu não vejo nada de errado com uma música Pop, mas tudo bem. As reações foram bem misturadas, alguns disseram “isso não é o Kayak”, outros disseram “é fantástica”. Acho ótimo quando temos recepções bem opostas, é melhor quando todo mundo gosta, mas gosto de me desafiar, gosto de desafiar a banda, e às vezes gosto de desafiar o público. Isso é o que fazemos, esperamos que gostem, mas você não é obrigado a gostar, temos que ver outras maneiras de nos expressar, e não fazer o mesmo álbum toda vez. E agora iremos para o próximo single, que lançaremos uma semana antes do álbum, que é a faixa-título, então todos poderão relaxar e ouvir algo que eles esperam do Kayak.
Roadie Metal: Fale um pouco do próximo single.
Ton: Será da faixa-título “Out of This World”, e será aquilo que as pessoas esperam da gente. Então acho ótimo ter esse como terceiro single, no momento estou trabalhando em cima do vídeo. Não será um single como costuma ser, será uma versão online da música. É como uma promoção pro álbum, e é bom que seja algo próximo daquilo que os fãs esperam do Kayak.
Roadie Metal: O vídeo de “Mystery” é um dos mais diferentes que eu já vi. Explique um pouco o contexto desse single específico.
Ton: O conceito foi bem diferente do que ficou. Era pra ser um lyric vídeo, onde você não precisaria gastar tanto dinheiro, claro, ficamos limitados, a gente não pôde se juntar como banda, não pudemos tocar para o vídeo por conta do Covid, então pedimos para alguém fazer o vídeo, e acho que ele fez um ótimo trabalho, mas não era a nossa ideia original. Para mim, foi muita repetição das mesmas imagens, foi bem feito, mas depois de dois minutos eu pensei “já vi isso antes”. Não sou o cara do vídeo, apenas pedimos para alguém fazer, não ficou da forma que pensamos e não havia tempo para mudar, então é isso. Eu gostei, mas foi diferente do nosso conceito, pensamos em alguém nascendo e depois crescendo, representando o ciclo da vida e o mistério da vida, que você nunca consegue explicar o como a tecnologia se desenvolve. Sempre será um mistério o porquê estamos aqui e como tudo acontece. Se você acredita em Deus, se você acredita na tecnologia, no fim é um mistério, e é isso que a música fala. O vídeo ficou diferente das nossas expectativas, ficou legal, mas era pra ser um lyric vídeo, com toda a letra nele.
Roadie Metal: Como o clipe de “Waiting” foi gravado?
Ton: Todo mundo separado, se utilizando de um chroma key.
Roadie Metal: Quais são os planos para divulgar o álbum em meio a essa situação de pandemia?
Ton: Temos que esperar, planejamos shows no início de 2022, porque no momento não podemos fazer turnês porque cada país tem as suas regras, é impossível assim, então teremos que esperar.
Roadie Metal: Existe alguma chance de vocês fazerem algum desses shows online ou com distanciamento social?
Ton: Não! Para mim, um show é interação com o público, que é o que te dar energia. Não curto tocar para uma câmera. Pode ser um bom promocional uma vez, muitos podem achar legal uma vez, mas no fim fica chato e não há interação, além de haver a distância entre o espectador e a banda, então decidimos não fazer. Talvez façamos alguma coisa acústica, não sei ainda, talvez mais tarde. Mas não faremos show online no momento.
Roadie Metal: Como está a situação da pandemia na Holanda?
Ton: Está bem confuso, tomei a minha primeira dose da vacina ontem, então estou com uma dor nos músculos. Mas está bem caótica a vacinação, está acontecendo, mas ainda temos um Lockdown, restaurantes estão fechados, a maioria das lojas estão fechadas, apenas os essenciais estão funcionando, e se você quiser comprar você precisa ligar para a loja e agendar o atendimento, os teatros estão fechados. Realmente espero que próximo mês comecem a abrir gradualmente, estão fazendo vários testes no público, mas penso que se todo mundo estiver vacinado não precisaremos mais desses testes.
Roadie Metal: Como a pandemia atingiu os planos do Kayak em 2020?
Ton: Não sei se você soube, mas eu tive um ataque cardíaco em 2019. Íamos entrar em turnê com a banda sueca Flower Kings em dezembro daquele ano, mas tive um ataque cardíaco em outubro, e com isso a gente cancelou a turnê. Depois me recuperei no início de 2020, mas então a pandemia começou. Com isso, atrasamos as gravações por seis meses, senão teríamos lançado o álbum em setembro ou outubro do ano passado. Então eu estava saudável de novo e pudermos organizar as gravações, que começou em maio com a gravação da bateria, e terminou em novembro com os vocais. Levou seis meses, o que juntou com o meu ataque cardíaco.
Roadie Metal: Imagino que a junção disso deixou tudo mais caótico, né?
Ton: Sim, mas por outro lado, eu precisava de tempo para me recuperar. Ninguém estava mais indo ao trabalho, todos estavam trabalhando em casa, e fez o mundo ficar mais quieto, e para mim isso era bom – gostei do silêncio, sem tráfego, sem aviões no céu, ia dar uma volta e não tinha muitas pessoas. Para mim isso foi bom, mas já está levando muito tempo. Espero que isso tudo acabe nesse verão.
Roadie Metal: Então de alguma forma, o Lockdown ajudou na produção do álbum?
Ton: Tivemos que nos organizar, já que não podíamos nos reunir, a gente trocou arquivos pela Internet e fizemos conversas no Zoom. Mandei minhas demos para o Kris (baixista) e para o Marcel (guitarrista), eles gravaram suas partes em casa e me mandaram de volta. Funcionou através do Zoom, pela Internet, a única sessão em estúdio foi com o baterista – ele tocou todo o álbum em um dia – mas foi a única sessão em estúdio que pudemos fazer, e mesmo agora está difícil reunir todo mundo para uma foto.
Roadie Metal: Esse agora é o 18º álbum do Kayak, você imaginava em 1972, quando a banda começou, que vocês chegariam tão longe?
Ton: Com certeza não, eu tinha 20 anos, e se me perguntassem na época se eu achava que ainda estaria com o Kayak em 2021, eu responderia “você está louco?”(risos). É incrível que a banda ainda exista, não é como se fossemos rodar o mundo com os nossos hits, é uma luta, e você precisa arrumar meios de continuar, porque somos uma banda pequena, há muito trabalho para pouco dinheiro, mas amamos fazer, e essa é a coisa mais importante. Essa é a razão do porquê ainda estamos aqui, e claro, enquanto eu tiver inspiração para criar algo novo, e enquanto as pessoas quiserem ouvir, e se conseguimos nos manter saudável, iremos continuar. Eu não imaginaria isso em 1972, de que continuaríamos após 50 anos, é simplesmente incrível.
Roadie Metal: E tem muita banda por aí que não chega a metade disso.
Ton: Não. E tem muitas que continuam, mas não fazem mais álbuns novos, apenas tocam as coisas antiga e fazem dinheiro assim. O que está tudo bem. Para mim não é muito interesse. Poderíamos ter feito dessa forma, mas amamos nossa persistência, queremos celebrar mais álbuns, amamos o que fazemos e isso é o mais importante.
Roadie Metal: Próximo ano a banda completa 50 anos de carreira, vocês têm algum plano para celebrar esse aniversário?
Ton: Não, acho que deixaremos para 2023, por marcar os 50 anos do primeiro single lançado. Porque em 72 teve 12 meses no ano, e não houve um ponto exato de quando a banda começou, não havia álbum, apenas começamos a banda. Mas o primeiro single, “Lyrics”, foi lançado em janeiro de 1973, o que é um bom ponto de partida. Então deixaremos para 2023, se ainda estivermos lá.
Roadie Metal: Como você acha que a banda evoluiu nessas quase cinco décadas de carreira?
Ton: É difícil dizer, porque tivemos tantos membros, é quase como se quatro ou cinco bandas diferentes. O line-up que começamos é completamente diferente do de 1979, e claro, completamente diferente daquele que começamos nos anos 2000, e sete anos depois mais um vocalista diferente e outro line-up, e agora estamos com outra formação. É como se fosse quatro ou cinco bandas diferentes, apenas comigo como ponto em comum. Por isso é difícil dizer como a banda evoluiu, porque foram tantas pessoas envolvidas. Acho que estamos mais por dentro das coisas que a gente faz se for comparar com o início, antes a gente apenas fazia algo que gostava, de forma inocente, fomos enganados por um empresário e tivemos muitos problemas. Experiência te ensina o que você deve fazer ou não. Acho que ficamos mais maduros em 50 anos. Mas acho que se manteve é que ainda seguimos nossos instintos, temos essa liberdade de fazer o que queremos, mesmo com uma nova gravadora. Antes fazíamos nossos álbuns de forma independente, sem gravadora, e agora estamos com uma, que para divulgação é ótimo, eu não estaria falando contigo se não fosse pela Inside Out, até porque é impossível alcançar todos os jornalistas pela Internet. Isso é uma coisa boa, da gente ainda poder fazer o que gosta. Claro, próximo ano a gravadora pode querer encerrar, mas temos toda a liberdade, e nunca foi diferente disso.
Roadie Metal: Como é a relação de vocês com os fãs brasileiros?
Ton: Bom, nunca tocamos no Brasil, então realmente não sei dizer. Às vezes recebo emails e cartas de fãs brasileiros, e claro, são bem positivos. Eu realmente gostaria de tocar no Brasil um dia, mas não é fácil ir para aí. Acho que há bastantes fãs em toda América do Sul, o que é bom para bandas como a nossa. Por exemplo, a banda Focus, que é uma versão instrumental do Kayak, já fizeram turnê várias vezes no Brasil, na Argentina, no Chile. Acho que há bastante gente que poderá gostar do Kayak no Brasil, é só uma questão deles nos conhecerem. Mas sinto que toda América do Sul tem um interesse potencial em bandas como a nossa.
Roadie Metal: Qual a sua mensagem para os brasileiros que estão lendo a entrevista?
Ton: Minha mensagem é; obrigado por acompanharem essa entrevista, obrigado por ouvirem o “Out of the World”, não se vocês compraram, mas apenas ouçam de mente aberta, é um álbum eclético, realmente espero que os fãs brasileiros continuem apoiando a banda, e espero poder encontrá-los um dia.
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